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domingo, 18 de maio de 2014

TRABALHO E SOCIEDADE

Trabalho e sociedade
As primeiras tentativas de explicar a vida social foram baseadas a partir dos estudos sobre o que hoje conhecemos pelo nome de Estado. Os filósofos Platão e Aristóteles preocuparam-se muito mais com a questão da organização política da pólis grega e só secundariamente a sociedade. Sobre questões econômicas relacionadas ao trabalho como principal meio de sustento e sobrevivência, eles, como eram da elite ateniense, consideravam o trabalho manual como uma atividade inferior, destinada aos escravos e classes mais baixas. O trabalho manual era visto como uma atividade inferior, destinada aos escravos e às classes mais baixas, enquanto a elite se dedicava à filosofia, à política e ao ócio criativo.

Platão, em A República, defendia uma sociedade dividida em classes, onde os trabalhadores (artesãos e agricultores) sustentavam a cidade, mas não tinham participação política. Aristóteles, em A Política, considerava o trabalho manual uma atividade necessária, mas não digna de cidadãos livres, que deveriam se dedicar à vida contemplativa e à administração da pólis.
Entretanto, as questões econômicas sempre foram fundamentais na vida humana...elas são, inclusive anteriores às questões políticas, ou seja, a primeira necessidade humana foi econômica e não política: a necessidade de alimentar-se e garantir a sobrevivência sempre estiveram acima de qualquer outra necessidade. O trabalho passou a servir como o principal meio para satisfazer as necessidades humanas...o homem foi condenado a trabalhar...no suor do teu comerás o teu pão...a necessidade de sobreviver está acima de qualquer outra atividade humana, seja ela intelectual, cultural, religiosa, etc

Para o sociólogo Max Weber, o protestantismo calvinista mudou radicalmente a visão sobre o trabalho. Com o calvinismo, o trabalho deixa de ser visto como maldição para ser encarado como uma oportunidade de enriquecimento. Essa nova visão foi fundamental para o surgimento e expansão da sociedade burguesa.

Os primeiros filósofos a se preocuparem de forma mais direta com as questões do trabalho como meio de sobrevivência foram os pensadores do período moderno, especialmente a partir do século XVIII, com o surgimento da economia política e das transformações sociais trazidas pela Revolução Industrial. 

Adam Smith (1723-1790): Considerado o pai da economia moderna, Smith analisou o trabalho como base da riqueza das nações em sua obra A Riqueza das Nações. Ele destacou a importância da divisão do trabalho e da produtividade para o desenvolvimento econômico.

David Ricardo (1772-1823): Economista clássico, conhecido por sua teoria do valor-trabalho e por analisar a distribuição de renda entre salários, lucros e rendas.

John Locke (1632-1704): Embora não fosse focado exclusivamente no trabalho, Locke defendia que o trabalho era a fonte do direito à propriedade, influenciando pensamentos econômicos posteriores.

Karl Marx (1818-1883): foi um filósofo que criou uma ideologia polêmica, possuidora de milhões de adeptos, que defende a derrubada do modelo econômico vigente a partir da tomada dos poderes político/econômico e cultural pelo proletariado. Esse proletariado imporia uma ditadura de um partido único e faria uma reforma radical da sociedade,  eliminando toda a oposição e desigualdade econômica. Implantada essa igualdade  plena, a própria ditadura deixaria de existir.   

Émile Durkheim (1858-1917): Sociólogo que estudou a divisão do trabalho e sua relação com a coesão social em Da Divisão do Trabalho Social.

Bens e serviços: Quando compramos alguma mercadoria, estamos adquirindo bens. Em contrapartida, quando pagamos a passagem de ônibus ou uma consulta médica, estamos comprando serviços.
Bens são todas as coisas materiais colhidas na natureza ou produzidas para satisfazer necessidades humanas. Serviços são as atividades econômicas voltadas para a satisfação de necessidades e que não estão relacionadas diretamente à produção de bens. Um vendedor de sapatos presta o serviço de fazer chegar ao consumidor o produto do fabricante, ao mesmo tempo em que o par de sapatos que compramos é um bem. Um médico, ao cuidar de um paciente, também está prestando um serviço. Em qualquer atividade econômica, bens e serviços estão interligados. Uns dependem dos outros para que o sistema econômico funcione. Bens e serviços resultam da transformação de recursos da natureza em objetos úteis à vida humana. E isso só ocorre por meio do trabalho nos processos de produção.
Produção, trabalho e consumo: Com nosso trabalho, somos capazes de produzir bens e realizar serviços, entretanto, um indivíduo isolado não é capaz de produzir tudo aquilo de que precisa, ou seja, somos "obrigados" a viver em sociedade, mais por necessidade do que por desejo. Coletivamente, as pessoas participam da vida econômica, tendo como principais atividades a produção, a distribuição e o consumo de bens e serviços. Enquanto trabalham, os operários estão atuando na produção. Como compradores de bens e serviços, participam da distribuição. Quando consomem bens e serviços, estão participando como consumidores.
Evidentemente, para que algum bem ou serviço seja oferecido no mercado, é necessário primeiro que seja produzido. Exemplo: a fabricação de um móvel: a árvore (matéria bruta) é derrubada e serrada em grandes pranchas (matéria-prima), que é transformada em bens mesas, cadeiras, etc. (bens ou mercadorias), através dos trabalhadores que utilizam ferramentas e equipamentos. Finalmente, esses bens são enviados à loja, que prestará o serviço de vendê-los ao consumidor.
Vamos considerar outro exemplo. Em seu trabalho, a costureira transforma um tecido (obtido de uma matéria prima vegetal ou artificial) em uma roupa, utilizando energia elétrica, máquina, linhas, botões, colchetes, tesouras e agulhas. Além disso, a costureira teve que primeiramente aprender técnicas de costura. Da lavoura do algodão ao último botão pregado na roupa, houve trabalho humano (físico e mental). Podemos dizer, portanto, que o principal fator do processo de produção é o trabalho. O processo de produção é formado por três componentes principais associados: trabalho, matéria-prima e instrumentos de produção.
O trabalho humano: Toda atividade humana que resulte em bens ou serviços é considerada trabalho. É trabalho, tanto a atividade braçal do operário quanto a intelectual do engenheiro que projeta, como a do administrador que gerencia. É trabalho também a atividade do pintor, do cantor, do ator, do músico, etc. Todo trabalho resulta da combinação de dois tipos de atividade: manual e intelectual. O que varia é a proporção com que esses dois aspectos entram no processo de produção. O trabalho de um operário é mais manual do que intelectual; em alguns casos, quase exclusivamente manual. Apesar disso, exige certo esforço mental.
Já o trabalho de um engenheiro é mais intelectual por ser necessário os cálculos para projetar uma ponte, por exemplo. Entretanto, sua atividade tem um aspecto manual, seja no manuseio dos instrumentos de trabalho, seja na passagem da concepção do projeto para o papel. Podemos concluir então que não existe trabalho exclusivamente manual ou exclusivamente intelectual, mas, sim, predominantemente manual ou predominantemente intelectual.

A Qualificação: Por que Algumas Profissões Pagam Mais que Outras?
1. O Valor Econômico da Qualificação e da Escassez: Profissões que exigem anos de estudo, especialização e habilidades técnicas (como medicina, engenharia ou programação) têm menos profissionais disponíveis no mercado, o que aumenta seu valor.

Trabalhos não qualificados: Atividades como limpeza e coleta de lixo são essenciais, mas há muita oferta de mão de obra para essas funções, o que reduz o poder de barganha salarial.

2. O Mérito como Produtividade e Impacto: Um médico salva vidas, um engenheiro projeta pontes, um técnico em eletrônica conserta equipamentos vitais → essas profissões têm um impacto direto na geração de riqueza, inovação e bem-estar social, justificando salários mais altos.

Um gari ou auxiliar de limpeza desempenha um papel fundamental na sociedade, mas sua função, embora nobre, não exige o mesmo nível de especialização ou responsabilidade decisória.

3. O Custo da Formação e o Retorno do Investimento: Médicos estudam 6+ anos, engenheiros 5+ anos → esse tempo e custo (faculdade, especializações) precisam ser compensados por salários mais altos.

Trabalhos não qualificados podem ser aprendidos em algumas horas ou alguns dias, sem necessidade de investimento em educação formal.

4. A Mobilidade Social Depende de Qualificação: Se um auxiliar de limpeza quiser ganhar mais, ele pode buscar cursos técnicos (ex.: eletricista, soldador) ou superior (ex.: administração, enfermagem), aumentando seu valor no mercado.

A desigualdade salarial não é um problema se houver oportunidades de ascensão. O verdadeiro desafio é garantir que todos tenham acesso a educação e qualificação.

5. O Equilíbrio entre Justiça Social e Realismo Econômico
Ninguém defende que um gari deva ganhar pouco, mas forçar salários iguais para todas as profissões desincentivaria as pessoas a se qualificarem, prejudicando a economia.

Soluções inteligentes: Valorizar melhor os trabalhadores essenciais (ex.: benefícios adicionais, progressão de carreira a partir do esforço, estudo, dedicação, etc.).

Políticas públicas que facilitem a qualificação profissional (cursos técnicos gratuitos, incentivos à educação).

Conclusão
A diferença salarial não é uma "injustiça", mas um reflexo do valor que cada profissão gera na economia e do esforço necessário para desempenhá-la. O caminho para reduzir a desigualdade não é igualar salários artificialmente, mas dar oportunidades para que todos possam se qualificar e ascender.

Devemos reconhecer a importância social de atividades mais simples, que geralmente são pouco remuneradas, entretanto, devemos ressaltar que a solução não é interferir no mercado  mas ampliar o acesso à qualificação.

Temos como exemplo a Coreia do Sul, que saiu da pobreza investindo em educação técnica e inovação.

Esse argumento mantém o foco no mérito e na mobilidade social, evitando a armadilha de defender "salários iguais para todos", que desestimularia o progresso econômico.
Um grande exemplo foi a Coreia do Sul:
O país, que havia sido destruído pela guerra, priorizou erradicar a miséria via crescimento econômico acelerado.
O segredo foi educação + indústria + empreendedorismo, não redistribuição de renda pura.
Seu modelo ainda prova que o caminho para vencer a miséria é gerar riqueza, não distribuir pobreza.
Enquanto a Coreia investiu em indústria e educação, o Brasil ficou dependente de commodities e assistencialismo.

O resultado? Coreia = país desenvolvido. Brasil = subdesenvolvido, aumentando a dependência do povo através da concessão de certos benefícios que se eternizam e mantém a miséria como uma prática recorrente do populismo latinoamericano. 


O trabalho pode ser classificado conforme o grau de capacitação exigido do profissional. Um trabalho considerado qualificado exige certo grau de aprendizagem e conhecimento técnico. Exemplos: mecânico, eletricista, engenheiro, médico, etc.; o trabalho não qualificado dispensa praticamente qualquer tipo de aprendizagem. Exemplos: ajudante de pedreiro, faxineiro, etc. Essa diferenciação atinge diretamente a vida das pessoas a partir da maior remuneração a quem possui mais qualificação, responsabilidade ou capacitação.
Meios de produção: Inclui os instrumentos de produção, matéria prima e recursos naturais.
Instrumentos de produção
são todos os objetos que direta ou indiretamente nos permitem transformar matéria-prima em um bem final. Exemplos: ferramentas, equipamentos, máquinas, o local de trabalho, a iluminação, a ventilação, as instalações necessárias à atividade produtiva.
-Matéria-prima: São os componentes iniciais do produto que no processo de produção são transformados até adquirirem a forma de produto final. No exemplo da costureira, suas matérias-primas são o tecido, a linha, os botões, os colchetes. Por sua vez, a produção desses componentes iniciais tem como matéria-prima objetos extraídos da natureza: o algodão, a seda, o metal, etc. De fato, antes de serem transformados em matéria-prima, tais componentes encontram-se na natureza sob a forma de recursos naturais.
-Recursos naturais: Para produzir, o ser humano necessita dos recursos naturais (solo, água, minerais, vegetais, etc.).
O uso de recursos naturais muda com tempo. Exemplo: as quedas-d'água, que eram usadas anteriormente para mover moinhos, hoje são usadas também para mover turbinas que produzem eletricidade. Da mesma maneira ocorre com o uso da força dos ventos.
Forças produtivas: É todo processo produtivo que combina o trabalho com os meios de produção. Esses dois componentes estão presentes tanto na produção artesanal de uma bordadeira quanto nas atividades de uma grande indústria moderna. Ao conjunto dos meios de produção somados ao trabalho humano damos o nome de forças produtivas. Assim:
Forças produtivas= meios de produção + trabalho humano
As forças produtivas alteram-se ao longo da História.
Até meados do século XVIII, a produção era feita com o uso de instrumentos simples, acionados pela força humana, tração animal, força da água ou dos ventos.
A partir da revolução industrial, novas máquinas e instrumentos de produção foram desenvolvidos; novas fontes de energia passaram a ser usadas. Exemplos:  carvão mineral, eletricidade, petróleo, gás e energia nuclear. Alteraram-se os meios de produção e também as técnicas de trabalho, gerando mudanças nas forças produtivas.
Relações de produção são as formas pelas quais os indivíduos desenvolvem suas relações de trabalho no processo de produção e reprodução da vida material. Essas relações mudam de acordo com o avanço da tecnologia, da política, economia, etc.



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