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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A CONTRIBUIÇÃO DO ÍNDIO NA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA

ALGUNS SITES SOBRE A CULTURA INDÍGENA:

1 - POVOS INDÍGENAS DO BRASIL:
http://pib.socioambiental.org/pt

2 - FUNAI:
http://www.funai.gov.br/

3 - LÍNGUAS INDÍGENAS BRASILEIRAS:
http://www.indios.info/

4 - FAMALIÁ:
http://www.famalia.com.br/

5 - VIVA BRAZIL - CULTURA INDÍGENA:
http://www.vivabrazil.com/CulturaIndigena.htm

A CONTRIBUIÇÃO DO ÍNDIO NA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA


 Na
 Idade Média, a palavra "índio" era empregada para designar as pessoas que viviam nas Índias, ou seja, no oriente. Ao chegar às Américas, Colombo pensou que   havia chegado as Índias e resolveu chamar os nativos de índios. O conceito de "índio" é, portanto, uma invenção europeia. Além disso, os índios nunca foram e jamais se enxergaram como um povo uno. Pelo contrário, diferentes grupos indígenas nutriam grande animosidade e constantemente guerreavam entre si (historicamente, os índios brasileiros foram classificados segundo os principais troncos linguísticos, que são: Tupi-guarani, Macro-jê, Aruak e Karib. Inicialmente, os grupos que tiveram maiores contatos (nem sempre amistosos) com os portugueses foram os do tronco tupi ou tupi-guarani (tupiniquins, tupinambás, tamoios, caetés, potiguaras e tabajaras quase sempre aparecem citadas como as principais). Já os grupos que não eram do citado tronco tupi-guarani, foram chamados de Tapuias (geralmente povoavam o interior do Brasil). Mas os tupis não eram uma nação indígena homogênea, pois tinham  grandes rivalidades internas que acabaram sendo exploradas pelos europeus que tentavam colonizar a região. Ainda hoje os historiadores não chegaram a um consenso sobre a melhor maneira de separar as principais tribos tupis e também para delimitar a área exata que cada uma delas ocupava no litoral. À medida que adentravam o vasto território, os portugueses perceberam  que haviam centenas de povos com línguas, costumes e hábitos diferentes. Estima-se que na época eram faladas cerca de 1.300 línguas indígenas diferentes. Estima-se ainda que havia cerca de 3 milhões de indígenas nos primeiros anos da colonização, os quais viviam ainda num processo de transição do paleolítico para o neolítico, dependendo da caça, pesca, coleta, e iniciando uma agricultura, ainda muito rudimentar. Os portugueses, inicialmente, estabeleceram um sistema de trocas e favores com os índios, para tentar conquistar sua confiança, mas logo passaram a tentar  dominar as terras e escravizar os nativos, os quais oferecerem bastante resistência por meio de fugas e de guerras contra o colonizador. Devido a resistência do índio, já em 1536, os portugueses deram início ao tráfico de escravos africanos. Nem todos os índios eram hostis ao colonizador. Em Casa Grande & Senzala, Gilberto Freyre comenta a respeito de etnias amigáveis, que contribuíram deliberadamente,  principalmente através das índias que entregavam seus corpos aos prazeres do lusitano sedento de prazer, principalmente pela quase total ausência de mulheres brancas no Brasil (era uma reclamação constante dos governadores e donatários, pedindo mulheres brancas, pois a promiscuidade era enorme).

“Híbrida desde o início, a sociedade brasileira é de todas da América a que se constituiu mais harmoniosamente quanto às relações de raça: dentro de um ambiente de quase reciprocidade cultural que resultou no máximo de aproveitamento dos valores e experiências dos povos atrasados pelo adiantado; no máximo de contemporização da cultura adventícia com a nativa, da do conquistador com a do conquistado. Organizou-se uma sociedade cristã na superestrutura, com a mulher indígena, recém-batizada, por esposa e mãe de família; e servindo-se em sua economia e vida doméstica de muitas das tradições, experiências e utensílios da gente autóctone. Mesmo que não existisse entre a maior parte dos portugueses o pendor para a ligação, livre ou sob a bênção da
Igreja com as caboclas, a ela teriam sido levados pela força das circunstâncias, gostassem ou não de mu­lher exótica. Simplesmente porque não havia na terra quase nenhuma branca; e sem a gentia era impossível povoar tão larga costa. O historiador Zacarias Wagner observaria no século XVII que entre as filhas das caboclas iam buscar esposas legítimas muitos portugueses, mesmo dos mais ricos, e até "alguns neerlandeses abrasados de paixões”. Já não seria então, como no primeiro século, essa união de europeus com índias, ou filhas de índias, por escassez de mulher branca, mas por deci­dida preferência sexual. Já o historiador Varnhagen chega a insinuar que, por sua vez, a mulher indígena, "mais sensual que o homem como em todos os povos primi­tivos [.... ] em seus amores dava preferência ao europeu, talvez por considerações priápicas". Capistrano de Abreu sugere, po­rém, que a preferência da mulher gentia pelo europeu teria sido por motivo mais social que sexual: "da parte das índias a mes­tiçagem se explica pela ambição de terem filhos pertencentes à raça superior, pois segundo as ideias entre eles correntes só valia o parentesco pelo lado paterno".
Para colonizar o enorme território, teve Portugal de valer-se no século XVI do resto de homens que lhe deixara a aventura da índia. E não seria com esse sobejo de gente, quase toda miúda, em grande parte plebeia e, além do mais, moçárabe, isto é, com a consciência de raça ainda mais fraca que nos portugueses fidalgos ou nos do Norte, que se estabeleceria na América um domínio portu­guês branco ou rigorosamente europeu. A tran­sigência com o elemento nativo se impunha à política colonial portuguesa: as circunstâncias facilitaram-na. A luxúria dos indi­víduos, soltos sem família, no meio da indiada nua, vinha servir a poderosas razões de Estado no sentido de rápido povoamento mestiço da nova terra. O certo é que sobre a mulher gentia fundou-se e desenvolveu-se através dos séculos XVI e XVII o grosso da sociedade colonial, num largo e profundo mestiça­mento, que a interferência dos padres da Companhia salvou de resolver-se todo em libertinagem para em grande parte regu­larizar-se em casamento cristão.
O ambiente em que começou a vida brasileira foi de quase intoxicação sexual. O europeu saltava em terra escorregando em índia nua; os próprios padres da Companhia precisavam descer com cui­dado, senão atolavam o pé em carne. Muitos clérigos, dos outros, deixaram-se contaminar pela devassidão. As mulheres eram as primeiras a se entregarem aos brancos, as mais arden­tes indo esfregar-se nas pernas desses que supunham deuses. Davam-se ao europeu por um pente ou um caco de espelho. A mulher gentia temos que considerá-la não só a base física da família brasileira, aquela em que se apoiou, robuste­cendo-se e multiplicando-se, a energia de reduzido número de povoadores europeus, mas valioso elemento de cultura, pelo me­nos material, na formação brasileira. Por seu intermédio enriqueceu-se a vida no Brasil, como adiante veremos, de uma série de alimentos ainda hoje em uso, de drogas e remédios casei­ros, de tradições ligadas ao desenvolvimento da criança, de um conjunto de utensílios de cozinha, de processos de higiene tropi­cal - inclusive o banho frequente ou pelo menos diário, que tanto deve ter escandalizado o europeu porcalhão do século XVI. Ela nos deu ainda a rede em que se embalaria o sono ou a volúpia do brasileiro; o óleo de coco para o cabelo das mulhe­res; um grupo de animais domésticos amansados pelas suas mãos.
Da cunhã é que nos veio o melhor da cultura indígena. O asseio pessoal. A higiene do corpo. O milho. O caju. O min­gau, O brasileiro de hoje, amante do banho e sempre de pente e espelhinho no bolso, o cabelo brilhante de loção ou de óleo de coco, reflete a influência de tão remotas avós. O índio contribuiu na obra de conquista dos sertões, de que ele foi o guia, o canoeiro, o guerreiro, o caçador e pescador. Muito auxiliou o índio ao bandeirante mameluco, os dois excedendo ao português em mobilidade, atre­vimento e ardor guerreiro; Na obra de sertanismo e de defesa da colônia contra espanhóis, contra tribos inimigas dos portugueses, contra corsários.
Índios e mamelucos formaram a muralha movediça, viva, que foi alargando em sentido ocidental as fronteiras coloniais do Brasil ao mesmo tempo que defenderam, na região açucareira, os estabelecimentos agrários dos ataques de piratas estrangeiros. Cada engenho de açúcar nos séculos XVI e XVII precisava de manter em pé de guerra suas centenas ou pelo menos dezenas de homens prontos a defender contra selvagens ou corsários a casa de vivenda e a riqueza acumulada nos armazéns: esses homens foram na sua quase totalidade índios ou caboclos de arco e flecha.
A enxada é que não se firmou nunca na mão do índio nem na do mameluco; nem o seu pé de nômade se fixou nunca em pé-de-boi paciente e sólido. Do indígena quase que só aproveitou a colonização agrária no Brasil o processo da coivara, que infelizmente viria a empolgar por completo a agricultura colonial. O conhecimento de sementes e raízes, outras rudi­mentares experiências agrícolas, transmitiu-as ao português me­nos o homem guerreiro que a mulher trabalhadora do campo ao mesmo tempo que doméstica. Se formos apurar a colaboração do índio no trabalho pro­priamente agrário, temos que concluir... pela quase insignifi­cância desse esforço. O que não é de estranhar, se considerar­mos que a cultura americana ao tempo da descoberta era a nômade, a da floresta, e não ainda a agrícola; que o pouco da lavoura - mandioca, cará, milho, jerimum, amendoim, mamão - praticado por algumas tribos menos atrasadas, era trabalho desdenhado pelos homens - caçadores, pescadores e guerreiros - e entregue às mulheres, diminuídas assim na sua domesticidade pelo serviço de campo tanto quanto os homens nos hábitos de trabalho regular e contínuo pelo de vida nômade. Daí não terem as mulheres índias dado tão boas escravas do­mésticas quanto as africanas, que mais tarde as substituíram como cozinheiras e amas de menino do mesmo modo que os negros aos índios corno trabalhadores de campo.”
(Freyre, Gilberto. Casa Grande & Senzala, trechos do capitulo II).

Da culinária, herdamos dos índios as culturas do caju, goiaba, guaraná, palmito, mandioca, macaxeira, milho, inhame, cará, jeri­mum, pimenta, etc., os quais substituíram a falta do trigo. Da mandioca se extraía um veneno que, se ingerido, provocava a morte. O indígena sabia processar a mandioca para extrair dela a massa e a goma para fazer tapiocas, beijus, farinha, bolos, etc. Também o milho, um cereal totalmente americano, era muito utilizado para diversas utilidades.
Para cada doença, o indígena tinha um chá ou uma bebida especial. Unindo superstição ao conhecimento empírico, os nativos desenvolveram uma medicina natural que hoje em dia tem servido de base para muitas pesquisas médicas, algumas já comprovadas. Ainda hoje, nos mercados populares do país, encontram-se ervas para todos os males, das dores de barriga até a inapetência sexual.

De todos os hábitos, porém, o do banho diário foi o que mais escandalizou o português. Considerado até prejudicial à saúde, o português com dificuldade se adaptou ao regime higiênico da colônia, cujo calor era causa principal dos quase 15 banhos diários tomados pelos índios que os cronistas coloniais registraram.
Em relação ao idioma, os índios enriqueceram a língua portuguesa, através de diversas palavras incorporadas ao vocabulário tais como Açucena, abacaxi, caboclo, gambá, catapora, Morumbi, macaxeira, jabiraca, Jacarepaguá, Jaguar, Jiboia, Copacabana, Ipanema, carioca, Ceará, Paraíba, Pará, Capibaribe, Beberibe, Jaguaribe, Camaragibe, Araraquara, Piracicaba, Paraná, Pernambuco, toró, sagui, saci, etc.
Em relação à religiosidade imposta pelo branco, o catolicismo não sairia ileso do contato cultural com o nativo. Não deixou de existir uma fusão das crenças indígenas com o catolicismo, o qual tornou-se mais folclórico, menos ritualístico, cheio de superstições. A própria umbanda, adaptação da religião dos negros à realidade da colônia, possui algumas influências indígenas, como o caboclo e ervas para tirar maus espíritos. De raiz totêmica e fetichista, a religião primitivista dos índios, que levava em conta o culto aos elementos da natureza, teve dificuldade em se submeter ao catolicismo. A única aproximação possível foi a veneração aos santos, levando mesmo assim, em conta os rituais próprios dos índios, que reverenciavam suas entidades com festas, sacrifícios, deles recebendo curas e ações sobrenaturais por meio dos pajés ou feiticeiros das tribos. Muitas dessas práticas ainda resistem ao tempo, no Sertão, por meio das rezadeiras, que não deixam de constituir um ritual mágico de pedir a saúde.

QUESTIONÁRIO
1- Por que a palavra índio é uma construção européia? 

2 – Comente o texto: “Híbrida desde o início, a sociedade brasileira é de todas da América a que se constituiu mais harmoniosamente quanto às relações de raça: dentro de um ambiente de quase reciprocidade cultural que resultou no máximo de aproveitamento dos valores e experiências dos povos atrasados pelo adiantado; no máximo de contemporização da cultura adventícia com a nativa, da do conquistador com a do conquistado.
3 – Havia diferenças entre os grupos indígenas? Comente.
4 - O índio contribuiu para a expansão e defesa territorial do Brasil? comente.
5 –
Em relação a mestiçagem, a mesma servia aos interesses da Coroa portuguesa? Comente.

6 – Comente a respeito da luxúria abordada no texto de Casa Grande & Senzala.
7– Em relação aos costumes e a culinária, comente a contribuição indígena.
8 – O vocabulário português foi influenciado pela cultura indígena? Comente.
9 – A religiosidade brasileira sofreu influência indígena? Comente.
10 – Analisando o texto, pode-se afirmar que o índio era preguiçoso, ou isso é uma visão preconceituosa?
Comente.
11– A contribuição indígena na formação da sociedade brasileira foi importante?

terça-feira, 7 de agosto de 2012

FRANCIS BACON E DESCARTES


FRANCIS BACON E DESCARTES - A BUSCA PELO CONHECIMENTO VERDADEIRO E AS CAUSAS DOS ERROS - Introdução ao Racionalismo
Descartes e Bacon usaram a razão como base da sua filosofia, embora por caminhos diferentes: Descartes apoia-se exclusivamente na razão e no inatismo; Bacon apoiou-se na razão e no empirismo, afirmando que as experiências oriundas das sensações não podiam ser descartadas e eram essenciais para a busca pela verdade. 
Bacon e Descartes preocuparam-se com as causas e as maneiras pelas quais as pessoas incorriam no erro. 
- Descartes elaborou o método de análise conhecido como dúvida metódica 
- Bacon elaborou a teoria critica dos ídolos.

FRANCIS BACON
 (1561-1626) é considerado o fundador de uma das mais influentes escolas filosóficas do período moderno, o EMPIRISMO (conhecimento fundamentado nas experiências sensíveis)
Além do empirismo, Bacon afirmava que para se conseguir o conhecimento correto da natureza e descobrir os meios de torná-lo eficaz seria necessário ao investigador libertar-se daquilo que ele chama "Ídolos" ou engodos que levam as noções falsas. Existem quatro tipos de ídolos para Bacon em sua teoria que são:

Ídolos da Tribo. São vícios ou erros próprios da própria natureza humana e da coletividade em geral; o maior exemplo é o conhecimento baseado no senso comum, ou o fato de muitos acreditarem cegamente nos sentidos, os quais não são meios totalmente confiáveis para a experimentação, embora não possam ser descartados. 
Ídolos da Caverna. São erros e atitudes referentes às individualidades, não à natureza humana; trata-se de diferenças individuais de habilidade, capacidade. As pessoas interpretam a vida (incluindo os fenômenos, os fatos, as diversas informações e conhecimentos) de maneira diferente, pois as pessoas tem diferentes visões de mundo; uns são supersticiosos,  outros são otimistas, outros são pessimistas, uns só vem os detalhes, outros só a totalidade, etc.
Ídolos do Fórum. São erros referentes ao uso da linguagem, sua manipulação e interpretação. Uma mesma palavra ou pensamento pode ter sentidos e interpretação divergentes para os ouvintes. É o mundo dos sofismas e falácias.
Ídolos do Teatro. São as opiniões adquiridas a partir das afirmações das autoridades (o sentido aqui é o da propaganda ou pessoas famosas sejam elas do mundo político, científico, esportivo, artístico, etc.); Muitas pessoas são incautas e se deixam levar pelo que a propaganda afirma ou o que essas falsas autoridades afirmam ou praticam. 


DESCARTES
Advogado, filósofo e matemático, Descartes usou princípios matemáticos em na filosofia.
Era RACIONALISTA (doutrina filosófica
 que rejeita qualquer autoridade ou busca da verdade além da razão, ou seja, a razão é o único meio para se buscar as verdades) MECANICISTA (Acreditava que Deus criou o universo como um perfeito mecanismo que funcionava deterministicamente sem intervenção desde então) e INATISTA (acreditava que nascemos já com os conhecimentos “embutidos”, os quais eram despertados), Descartes acreditava ser possível chegar à verdade através dos raciocínios corretos e do princípio da dúvida.
Sua obra principal é "O Discurso do Método", publicada em 1637. O racionalismo privilegia o pensamento lógico como forma de explicação da realidade – algo novo para o homem recém-saído da Idade Média e ainda submetido à autoridade intelectual eclesiástica.O racionalismo de Descartes o leva a uma dúvida em relação ao mundo e tudo o que dele faz parte. Duvida-se de cada ideia que não seja clara e evidente. Sendo inatista, Descartes não confia no empirismo, na experimentação através dos sentidos e das emoções, os quais poderiam levar ao engano, por não serem fontes seguras. Para ele os sentidos, assim como os objetos, podem nos enganar e tudo pode ser posto em dúvida, menos o fato de que duvido, ou seja, em toda a dúvida está a certeza do sujeito que duvida.  Por esses motivos é que Descartes passou a ser considerado o pai da filosofia moderna.
Para Descartes, a origem dos nossos erros estava em duas atitudes, que chamou de infantis ou preconceitos de infância:
1 - A PREVENÇÃO:  Nós temos a facilidade de nos deixarmos levar pelas opiniões e ideias dos outros, sem verificar se são verdadeiras. Essas opiniões acabam se tornando verdades em nossas mentes, nos escravizando e impedindo o avanço do conhecimento e da investigação da verdade. A prevenção consiste em não aceitarmos mudanças, novas ideias, novos entendimentos, novas opiniões, etc., nem reconhecer que estávamos errados, pois nosso entendimento já está contaminado por aquilo que acreditamos ser verdadeiro (preferimos acreditar naquilo que preferimos ser verdade).
2 - A PRECIPITAÇÃO: a facilidade e a velocidade com que fazemos juízos, sem antes verificarmos se é ou não verdadeiro. São opiniões que emitimos a partir da nossa vontade ou nossos conceitos (ou preconceitos) serem mais fortes do que nossa capacidade ou vontade de investigar, duvidar e questionar.

A DÚVIDA METÓDICA: O filósofo inicia este caminho a partir da dúvida: só se pode dizer que existe aquilo que puder ser provado, ou seja, é preciso duvidar para chegar à certeza das coisas. Partindo deste pressuposto, ele supõe que todas as coisas que vê são falsas e persuade-se de que tudo que até ali se apresentou não existia e, por conseguinte, despreza, ao menos inicialmente, todos os sentidos, para então recomeçar do zero. Para se chegar à verdade, é preciso abandonar o misticismo, superstições, ideias pré-concebidas, preconceitos, senso comum, etc. Descartes duvida de tudo, desde que possa encontrar um argumento, por mais frágil que seja. Os instrumentos da dúvida são os auxiliares psicológicos, os instrumentos de um verdadeiro "exercício espiritual". Mesmo que tudo o que penso seja falso, resta a certeza de que eu penso. Nenhum objeto de pensamento resiste à dúvida, mas o próprio ato de duvidar é indubitável. "Penso, logo, existo”.
Já que o pensamento é real, Descartes cria a ideia do dualismo psicofísico, uma distinção entre corpo e espírito (ou mente ou razão), onde ele distingue duas substâncias: 

- Res extensa, que é a matéria 
- Res cogitans, que é o espírito, razão ou sujeito pensante, totalmente distinto da natureza corporal
Esse dualismo psicofísico subordina o mundo à mente humana de modo que somente pelas representações do espírito se conhece as coisas, ou seja, elas só ganham sentido (só existem) a partir de uma abordagem que constrói argumentativamente o mundo através de princípios puramente inteligíveis.

O MÉTODO: Para trilhar o caminho da busca da verdade sobre o que se quer saber, é necessário iniciar um caminho, uma ordem, o que Descartes denomina como Método. Ou seja, seu pensamento é metódico no que tange à elaboração do processo de dúvida; é preciso uma organização metódica para não correr o risco de cair em erros. Mais do que a verdade, Descartes queria uma certeza, por meio do método, o qual consiste em quatro regras básicas (dependendo do assunto a ser pesquisado):
1- Evidência: não admitir "nenhuma coisa como verdadeira se não a reconheço evidentemente como tal". Em outras palavras, evitar toda "precipitação" e toda "prevenção" (preconceitos) e só ter por verdadeiro o que for claro e distinto, isto é, o que "eu não tenho a menor oportunidade de duvidar". Por conseguinte, a evidência é o que salta aos olhos, é aquilo de que não posso duvidar, apesar de todos os meus esforços, é o que resiste a todos os assaltos da dúvida, apesar de todos os resíduos, o produto do espírito crítico.
2-Análise ou divisão: "dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas forem possíveis".
3-Ordem ou sintetização: "concluir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer para, aos poucos, ascender, como que por meio de degraus, aos mais complexos".
4-Enumeração: todas as conclusões e princípios utilizados, a fim de manter a ordem do pensamento
Em meio a todo esse processo de busca pela certeza, que aqui não fora totalmente explicitado e que muito mais levaria para levá-lo a cabo, é que Descartes trilha por caminhos nunca antes percorridos, pois nenhum outro pensador ousou de modo algum desmoronar todo o edifício que até ali fora construído, desfazendo-se de todas as verdades e até mesmo da própria existência destas verdades para chegar a uma certeza sólida, concreta e sem sombra ou resíduo algum de incerteza.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A CONTRIBUIÇÃO DO NEGRO NA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA


ALGUNS SITES SOBRE A CULTURA AFRO-BRASILEIRA:

1 - GOVERNO FEDERAL:
http://www.brasil.gov.br/sobre/cultura/cultura-brasileira/cultura-afro-brasileira

2 - MINISTÉRIO DA CULTURA:
http://www.cultura.gov.br/site/2010/09/30/cultura-afro-brasileira-10/

3 - FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES:
http://www.palmares.gov.br/

4 - A COR DA CULTURA:
http://www.acordacultura.org.br/

5 - MUSEU AFROBRASIL:
http://www.museuafrobrasil.org.br/

6 - NÚCLEO DE ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS:
http://www.nucleo.ufal.br/neab/

7 - ENSINO AFROBRASIL:
http://www.ensinoafrobrasil.org.br/portal/

8 - MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO:
http://mnu.blogspot.com.br/

A CONTRIBUIÇÃO DO NEGRO NA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA - TEXTO E QUESTIONÁRIO
A escravidão, em todas as suas formas e manifestações foi um dos capítulos mais terríveis da história da humanidade. Ao longo dos milênios, milhões de pessoas foram privadas de sua liberdade, submetidas a trabalhos forçados, castigos cruéis e humilhações inimagináveis. É crucial condenar essa prática abjeta em todas as suas dimensões, sem distinção de raça, etnia ou período histórico.

Uma Prática Universal e Antiga

É um erro comum associar a escravidão exclusivamente à escravidão negra. A verdade é que a escravidão foi uma tragédia universal que abrangeu praticamente todas as civilizações. Além disso, a escravidão foi uma prática socialmente aceita e amplamente difundida. No passado, quando não havia o auxílio da tecnologia através das máquinas, a solução encontrada foi submeter outros seres humanos à privação da liberdade e à labuta diária em todos os tipos de trabalho.
 
As Diversas Faces da Escravidão
A escravidão assumiu diversas formas ao longo do tempo e em diferentes contextos. Indígenas, africanos, europeus, asiáticos e pessoas de outras origens foram escravizados por motivos variados, como dívidas, guerras, punições criminais ou simplesmente por pertencer a um grupo social inferior. As condições de vida dos escravizados variavam consideravelmente, mas a privação da liberdade e a submissão a trabalhos forçados eram características comuns a todas as formas de escravidão.
As Consequências Devastadoras
As consequências da escravidão foram devastadoras para milhões de pessoas e para a sociedade como um todo. A escravidão gerou profundas desigualdades sociais, raciais e econômicas, que persistem até os dias de hoje. Além disso, a escravidão contribuiu para o desenvolvimento de sistemas de opressão e discriminação, que continuam a afetar a vida de milhões de pessoas em todo o mundo.

A Necessidade de Combate a Todas as Formas de Escravidão
É fundamental que condenemos a escravidão em todas as suas formas e manifestações, reconhecendo a dor e o sofrimento de todas as vítimas. A luta contra a escravidão é uma luta por justiça, igualdade e dignidade humana. Ao reconhecer o passado, podemos construir um futuro mais justo e equitativo para todos.



Falar sobre a contribuição do negro para a formação da sociedade brasileira é falar daqueles que plantaram cana-de-açúcar, algodão e tabaco, garimparam o ouro, construíram casas, casarões, igrejas, fortes, sobrados, cidades inteiras, num mundo feito para os brancos, os quais, de maneira geral, os viam apenas como animais ou objetos, ferramentas sem nome, sem memória, sem história e sem mérito algum pelo que realizaram na construção do país e da sociedade, que cada vez, mas os influenciava pela cultura, religião e até mesmo pela intensa mestiçagem, tanto com o branco como com o índio.
O processo da colonização brasileira resultou em diferentes contribuições culturais de europeus, índios e africanos, os quais contribuíram nos aspectos econômicos, sociais e políticos para a formação da identidade nacional. O negro veio para o Brasil a partir do século XVI, através do tráfico, com o objetivo de suprir a demanda por mão de obra em todos os tipos de serviços, fossem eles no meio rural ou no meio urbano. Sendo assim, a mão de obra negra foi a principal construtora da grandeza econômica da colônia e um dos principais elementos formadores da história do Brasil. O negro, de maneira geral, não era considerado um ser humano e por isso não era reconhecida sua identidade, cultura e história. O negro, que outrora na África era príncipe ou rei de uma grande tribo, agora tinha seu nome, sua crença, sua dignidade e sua história apagada pelo europeu que o levou ao cativeiro.

O NEGRO NA ÁFRICA: O negro não veio de um continente desorganizado, sem cultura, sem tradição e sem passado. A África tinha impérios e reinos, além de diversas confederações tribais e cidades-pousadas com seus ricos mercados no caminho do ouro, das especiarias e do marfim. Seus mercados eram ricos e vendia-se de tudo, inclusive escravos, assim como também acontecia na Europa. Em toda a África havia povos guerreiros, pescadores, caçadores, pastores, comerciantes, mineradores, agricultores, etc. A religiosidade africana é diversificada (animismo, islamismo, cristianismo, etc.), assim como os idiomas e etnias. O próprio cristianismo, antes de chegar à Europa, chegou na África, ao final do século I, especialmente no Egito, Argélia, Alexandria e Etiópia. A Etiópia tem uma das mais antigas tradições cristãs do mundo, e a Igreja Ortodoxa Etíope é uma das mais antigas igrejas cristãs. Os Evangelhos de Garima, da Igreja Etíope, são os manuscritos mais antigos textos bíblicos com iluminuras, datando de cerca de 390 d.C.
Havia rivalidades entre diversos povos e etnias africanos, assim como havia também entre os europeus, entre os asiáticos, os povos das Américas, etc.   Quem capturava os negros na África eram em sua maioria os próprios negros, inimigos de reinos e tribos rivais, em troca de mercadorias dos traficantes (armas, pólvora, fumo, cachaça, cavalos, etc.). Isso nem nada difere dos brancos, os quais também escravizaram e comercializaram brancos, na antiga Grécia e Roma).

A VINDA PARA O BRASIL: Geralmente, os negros condenados a serem escravos eram os capturados através de guerras (de etnias inimigas) ou caçadas, os quais eram trocados por aguardente e tabaco. Os maltratos se iniciavam já no navio negreiro ou tumbeiro, onde os escravos vinham aglutinados e presos uns aos outros nos porões. Ali mesmo faziam suas necessidades e quase não se alimentavam. Tais condições precárias de higiene e alimentação geravam doenças e mortes. Em torno de trinta e cinco dias durava a viagem de Angola a Pernambuco, quarenta até a Bahia, e cinquenta até o Rio de Janeiro. A mortalidade era alta a bordo (em torno de 20% dos escravos morriam durante essa longa viagem). A viagem nesses navios era certeza de morte para boa parte dos escravizados, mantidos amontoados como animais ou objetos, acorrentados. Os que adoeciam eram muitas vezes jogados no mar para que não dessem trabalho ou contaminassem os demais.

O NEGRO COMO MERCADORIA: O tráfico negreiro tornou-se um grande negócio, algo extremamente lucrativo, o que fazia com que os comerciantes portugueses não parassem seus navios para os devidos reparos, e tornou-se comum navios com problemas de calafetagem, imundície, mastros desgastados e outros problemas, alguns dos quais poderiam resultar em naufrágio.  Tudo em nome do lucro a qualquer custo. Os navios eram bem equipados para o transporte, mas os traficantes, em busca de mais lucros, chegavam a aumentar a quantidade de escravos em prejuízo da quantidade de alimentos e até de água a bordo, pondo em risco a segurança de todos. Os negros viajavam empilhados sem espaço até mesmo para suas necessidades naturais. Os navios brasileiros eram menores do que os holandeses, mas carregavam mais negros: enquanto um holandês transportava 300 negros em uma caravela, um brasileiro podia chegar a transportar 500. Nessas condições, a taxa de mortalidade era elevada chegando a 57% o número de mortos em uma viagem. Quando os escravos chegavam ao Brasil, passavam pelo período de engorda para melhorar a aparência e obter melhor preço no mercado, já que chegavam magros e debilitados. Existiam duas formas de venda dos escravos: uma era a venda privada e a outra eram leilões públicos. Os leilões que geralmente aconteciam nos portos, eram feitos com escravos recém-chegados, quinze dias após o desembarque. Começava-se com os mais difíceis de vender (doentes, com problemas de dentição, ferimentos, etc.), finalizando com os mais saudáveis.

O NEGRO, MÃO-DE OBRA ESSENCIAL:
Para o Brasil a importação de africanos fez-se atendendo-se a diversas necessidades e interesses, incluindo a falta de mulheres brancas, o serviço doméstico e até as necessidades de técnicos em trabalhos de metal, durante o ciclo da mineração. O Nordeste e o Sudeste da colônia fundaram sua riqueza sobre a produção maciça de alguns artigos primários de exportação, dentre as quais a cana-de-açúcar, que foi por muito tempo o produto rei, sobretudo nas áreas litorâneas. O negro foi o responsável pelo desenvolvimento do Brasil colonial. A terra de um engenho não valia grande coisa sem a presença da mão de obra negra necessária para todo o processo produtivo do açúcar. Durante o ciclo da mineração, o escravo também era a peça fundamental para a produção do ouro. No sul do país, a produção das charqueadas também foi baseada na mão de obra escrava. Escravos dos campos, das minas e dos sertões viverão de maneiras diferentes suas relações com a sociedade que os obriga ao trabalho forçado. 

CONSTRUINDO A SOCIEDADE:
“... Todo brasileiro, mesmo o alvo de cabelo louro, traz na alma e no corpo - a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro. No litoral, do Maranhão ao Rio Grande do Sul, em Minas Gerais, principalmente do negro. A influência direta, ou vaga e remota, do africano. Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo, na música, no andar, na fala, no canto de ninar, em tudo que é expressão sincera de vida. Trazemos quase todos a marca da influência negra. Da escrava que embalou, que deu de mamar, de come. Da negra velha que nos contou as primeiras histórias de bicho e de mal-assombrado. Da mulata que nos tirou o primeiro bicho-de-pé de uma coceira tão boa. Da que nos iniciou no amor físico e nos transmitiu, ao ranger da cama-de-vento, a primeira sensação completa de homem. Do moleque que foi o nosso primeiro companheiro de brinquedo. Já houve quem insinuasse a possibilidade de se desenvolver das relações íntimas da criança branca com a ama-de-leite negra muito do pendor sexual que se nota pelas mulheres negras no filhos de pais escravocratas. A importância psíquica do ato de mamar, dos seus efeitos sobre a criança, é na verdade considerada enorme pelos psicólogos modernos; e talvez tenha alguma razão para supor esses efeitos de grande significação no caso de brancos criados por amas negras. É verdade que as condições sociais do desenvolvimento do menino nos antigos engenhos de açúcar do Brasil, como nas plantações da Virgínia e das Carolinas - do menino sempre rodeado de negra ou mulata fácil - talvez expliquem por si sós, aquela predileção. Conhecem-se casos no Brasil não só de predileção, mas de exclusivismo: homens brancos que só gozam com negra. De rapaz de importante família rural de Pernambuco conta a tradição que foi impossível aos pais promoverem-lhe o casamento com primas ou outras moças brancas de famílias igualmente ilustres. Só queria saber de molecas. Outro caso, de um jovem de conhecida família escravocrata do Sul: este para excitar-se diante da noiva branca precisou, nas primeiras noites de casado, de levar para a alcova a camisa úmida de suor impregnada de bodum da escrava negra sua amante. Casos de exclusivismo ou fixação. Mórbidos, portanto; mas através dos quais se sente a sombra do escravo negro sobre a vida sexual e de família do brasileiro...”
“...Longe de terem sido considerados apenas como animais de tração e operários de enxada, os negros desempenharam uma função civilizadora. Foram a mão direita da formação agrária brasileira; os índios, e sob certo ponto de vista, os portugueses foram a mão esquerda. E não somente na formação agrária. A mineração no Brasil foi aprendida dos africanos, ou seja, os negros ensinaram aos brancos as técnicas de garimpagem, trazidas da África. Max Schmidt destaca dois aspectos da colonização africana que deixam entrever superioridade técnica do negro sobre o indígena e até sobre o branco: o trabalho de metais e a criação de gado. Poderia acrescentar-se um terceiro: a culinária, que no Brasil enriqueceu-se e refinou-se com a contribuição africana...” (Freyre, Gilberto. Casa Grande e Senzala).

ORIGENS E RESISTÊNCIA: Como povo escravizado, o negro jamais deixou de lutar tanto para libertar-se da escravidão como para manter sua identidade cultural, que significou uma luta diária pela manutenção de seus valores culturais reelaborando-os para não perder tudo.
Os povos africanos trazidos para o Brasil são originários de diversas regiões da África:
-África Ocidental - Yorubás (Nagô, Ketu, Egbá), Jejes (Ewê, Fon), Fanti-Ashanti (conhecidos como Mina), povos islamizados (Peuhls, Mandingas e Haussás);
-África Central - Bantos: Bakongo, Mbundo, Ovimbundo, Bawoyo, Wili (conhecidos como Angolas, Congos, Benguelas, Cabindas e Loangos);
-Sudeste da África Oriental - Tongas e Changanas entre outros (conhecidos como Moçambiques).
Estes povos trouxeram consigo seus costumes, crenças, línguas (hoje de uso litúrgico como o yorubá, o bakongo e o kimbundo), léxicos incorporados no nosso falar (línguas bantos), danças, ritmos, instrumentos musicais, culinária bem como seus deuses e seus ritos de culto. Mesmo dispersos no território brasileiro e, por vezes misturados para não se rebelarem (fazendo jus ao ditado "dividir para reinar"), retiveram uma parte de sua cultura para conservar sua identidade de grupo dominado. Por vezes, esta identidade constituiu um fator importante para resistir à escravidão. É o exemplo dos quilombos que existiram no Brasil-colônia dos quais o mais célebre foi o Palmares comandado por Zumbi. O Quilombo era uma instituição política dos guerreiros jagas ou yagas da Angola, termo que designava tanto a casa sagrada onde se realizavam as cerimônias de iniciação, como o campo de guerra e mais tarde o acampamento de escravos fugidos.
Nem a submetidos, nem os castigos físicos, eram suficientes para garantir a obediência dos escravos. Com alguma frequência, os castigos considerados excessivos podiam resultar em atos de vingança por parte dos escravos, resultando na morte do feitor, do senhor ou de seus familiares. Os escravos reagiam de diferentes maneiras diante da opressão do sistema escravista. Da mesma forma que promoviam fugas e revoltas, aproveitavam a existência de pequenos espaços para a negociação. Espaços que eles próprios conquistaram ao mostrarem aos senhores a necessidade de terem certa autonomia para o bom funcionamento do sistema escravista. Um destes espaços foi a criação de irmandades católicas de negros. As irmandades eram espaços permitidos dentro da legalidade nos quais o escravo podia manifestar-se, fora de suas relações de trabalho. Eram, assim, os únicos canais possíveis de organização dos escravos dentro do sistema colonial. Desempenhavam também a função de auxílio, em caso de doença e/ou morte, e proteção aos seus membros. Em certo sentido, era através da religião católica que o escravo encontrava algum lenitivo para sua situação. Tudo indica que a permissão para a criação das irmandades de negros tenha sido dada com o intuito de obter melhores resultados na cristianização dos escravos, já que, para muitos senhores, as manifestações de alegria de fundo religioso serviam para tentar evitar as rebeliões, fugas e violência. Ainda hoje subsiste uma visão bastante equivocada de como era exercido o domínio senhorial. Frequentemente, quando se fala em escravos tem-se em mente a imagem de uma pessoa de cor negra acorrentada a um tronco. Entretanto, as pesquisas têm mostrado que não eram raras as ocorrências de escravos que saíam à noite e aos domingos, voltando ao trabalho no dia seguinte. Era comum que negros desempenhassem funções que necessitavam de uma maior liberdade de ir e vir, como os escravizados que trabalhavam no transporte e venda de alimentos ou que trabalhavam embarcados. Isso sem falar em uma modalidade de exploração do trabalho escravo que consistia no aluguel do escravizado para terceiros, para os quais desempenhavam diversas atividades. Estes escravos eram chamados de “negros de ganho” e eram bastante comuns em ambientes urbanos. Os “negros de ganho” trabalhavam para seus senhores como vendedores, comercializando hortaliças, comidas prontas, peixes, fazendas e outros gêneros. Isso permitiu que muitos escravos conseguissem juntar certa renda para comprar sua carta de alforria.

A CULTURA: A contribuição negra vai além da povoação e da prosperidade econômica através do seu trabalho. Vindos de diversas partes da África, os negros trouxeram suas matrizes culturais e transformaram não apenas sua religião, mas todas as suas raízes em uma cultura de resistência social. A influência na língua portuguesa veio principalmente do iorubá, notada principalmente no vocabulário. (palavras como caçula, cafuné, moleque, maxixe e samba, entre centenas de outros vocábulos). O negro deu seu ritmo à música brasileira. Por isso se diz que a música popular brasileira nasceu na África. A raiz negra está em tudo: no samba, no pagode, no afoxé, no carimbó, maxixe, coco, maracatu, baião, forró, embolada, etc. Além dos ritmos, os africanos trouxeram também instrumentos, como o berimbau, agogô, maracá, alfaia, atabaques, etc. Nos esportes, o negro criou a capoeira, considerada desde 2008 como Patrimônio Cultural do Brasil e um dos poucos esportes genuinamente brasileiros.

A RELIGIOSIDADE: As diversas etnias africanas possuíam crenças diversas que se modificaram no espaço colonial. De forma geral, o contato entre nações africanas diferentes empreendeu a troca e a difusão de um grande número de divindades. A Igreja Católica se colocava em um delicado dilema ao representar a religião oficial do espaço colonial. Em algumas situações, os clérigos e os próprios donos de escravos tentavam reprimir as manifestações religiosas. Em outras situações, preferiam fazer vista grossa aos cantos, batuques, danças e rezas ocorridas nas senzalas. Do ponto de vista da elite colonial, a liberação das crenças religiosas africanas era positiva, pois alimentava antigas rivalidades contra outras etnias também aprisionadas, o que, em tese, dificultaria a ideia e a organização de fugas, revoltas e a formação de quilombos e levantes nas fazendas. Aparentemente, a participação dos negros nos rituais católicos poderia representar o ato de conversão; Contudo, muitos escravos, mesmo se reconhecendo católicos, não abandonaram a fé em sua religiosidade africana. Ao longo do tempo, a coexistência das crendices abriu campo para que novas experiências religiosas – dotadas de elementos africanos, cristãos e indígenas – fossem estruturadas no Brasil.
Aos poucos nascem e se desenvolvem estruturas religiosas novas, mesclada de elementos africanos e europeus. Alguns senhores permitiram que os negros dançassem e cantassem aos sábados, domingos ou dias de festas. Já nas cidades, os batuques eram proibidos. Temia-se que os agrupamentos de escravos degenerassem em movimentos subversivos. As únicas festas autorizadas eram as de cunho cristão: a de Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos pretos, as congadas e outras do mesmo gênero. 


QUESTIONÁRIO:
1 – Por que os portugueses introduziram o trabalho escravo no Brasil?
2 – A África era um continente sem cultura? Analise e comente.
3 – Em termos políticos, como era a África?
4 – Por que, em geral, eram negros que capturavam outros negros?
5 – O tráfico de escravos era economicamente vantajoso? Comente.
6 – Comente a respeito do transporte e do comércio de escravos
7 – Comente a respeito das diversas finalidades da mão de obra escrava.
8 – Comente a respeito do texto de Casa Grande e Senzala (em itálico)
9 – Houve resistência por parte do negro contra a opressão escravista? Comente.
10 – Explique o surgimento das irmandades católicas negras
11 – Explique o que era o negro de ganho.
12 – Comente a respeito da influência da cultura negra
13 – Comente a respeito da influência da religiosidade negra
14 – Comente a respeito da importância do negro na formação da sociedade brasileira.

Entrega das respostas:
1 - por e-mail, enviando para
luciannobarros@yahoo.com.br 

2 - Caso não possa enviar por e-mail, entregue em papel.