- A escravização do povo fazia parte da política de reforma da ditadura do Khmer Vermelho, que tinha o marxismo com base político/ideológica para sua prática, através de um programa de "engenharia social", onde o povo foi submetido à uma brutal reestruturação social e econômica, entre 1975 e 1979. As razões da ditadura foram basicamente as seguintes:
- Visão Ideológica Radical: O Khmer Vermelho era uma ditadura socialista que buscava criar uma sociedade comunista de base agrária, livre de influências ocidentais. Eles acreditavam que a transformação radical da sociedade era necessária para atingir esse objetivo. Para realizar esta transformação era preciso eliminar qualquer influência considerada negativa: religiões (o regime era materialista), todas as antigas tradições tanto orientais quanto ocidentais, toda a cultura ocidental (com exceção da marxista), a burguesia local, etc.
- Ano Zero: O Khmer Vermelho adotou uma política conhecida como "Ano Zero", na qual eles buscavam apagar completamente todas as influências culturais, religiosas e sociais do passado do Camboja. Eles consideravam a população urbana e educada como inimigos do regime e buscavam criar uma nova sociedade agrária a partir do zero, o que exigia trabalho forçado para alcançar seus objetivos.
- Reestruturação Econômica: A ditadura queria transformar a economia cambojana de maneira rápida e extremamente radical: de uma economia agrária para uma economia agrária de subsistência, onde todos foram forçados a ir viver e trabalhar na agricultura, sem direito a salário (o dinheiro foi abolido)....a única recompensa era a precária alimentação...na prática era a volta da escravidão Os que resistiam à essa Engenharia social foram submetidos a tortura e execuções sumárias.
Controle e Poder: O uso de trabalho escravo servia para consolidar o controle do regime sobre a população. Ao obrigar as pessoas ao trabalho escravo, a ditadura marxista demonstrava que seu poder não tinha limite algum.
Em suma, o Khmer Vermelho escravizou seu próprio povo como parte de sua visão radical de reestruturação social, econômica e política do Camboja. Eles acreditavam que apenas por meio do trabalho forçado e da repressão extrema poderiam alcançar seus objetivos de criar uma sociedade comunista radicalmente transformada.
2 - CONTEXTO HISTÓRICO DO FILME
O Camboja é um país localizado no sudeste asiático, com uma rica herança cultural e histórica, incluindo os antigos templos de Angkor Wat. No século XIX tornou-se uma colônia francesa até a sua independência em 1953. O país era uma monarquia até 1970 e era neutra em relação à guerra do Vietnã.
Mesmo sendo neutro, o território do Camboja estava envolvido na Guerra: o Vietnã do Norte tinha bases e rotas de suprimentos no leste do país.
No mesmo ano de 1970, um golpe de estado derrubou a monarquia e implantou uma república, sob o comando do general Lon Nol, o qual declarou apoio aos EUA na guerra do Vietnã...sendo assim, entrou em guerra contra o Vietnã do Norte. Além disso, já enfrentava o grupo guerrilheiro marxista Khmer Vermelho, que almejava tomar o poder no Camboja.
A aliança com os EUA resultou na permissão para que os americanos bombardeassem posições vietcongs no território, resultando na morte de civis do próprio Camboja. Esses bombardeios pioraram a situação do governo, pois resultaram em
a) ódio da maioria do povo contra o governo de Lon Nol.
b) ódio da maioria do povo contra os EUA.
c) aumento da influência do movimento do Khmer Vermelho sobre o povo, que aproveitava para insuflar o ódio do povo contra Lon Nol e os EUA...ao mesmo tempo, o Khmer Vermelho tentava passar a ideia de que seriam os “libertadores” do Camboja.
O exército de Lon Nol, mau equipado e mau treinado, foi presa fácil dos guerrilheiros do Khmer Vermelho, os quais tomaram a capital, Phnom Penh, em 17 de abril de 1975.
Sob o regime Khmer Vermelho, estima-se que cerca de 1,7 milhão de pessoas tenham morrido de fome, execuções sumárias, desnutrição, doenças e trabalho escravo. A população cambojana foi submetida a graves abusos de direitos humanos e o país enfrentou décadas de devastação e trauma.
O filme se passa nesse contexto histórico turbulento, narrando a história da família de Loung Ung, enquanto eles lutam pela sobrevivência sob o regime brutal do Khmer Vermelho. Ele oferece uma visão íntima e pessoal dos horrores do genocídio e das consequências devastadoras da ideologia marxista do regime no povo cambojano.
3 - O REGIME E A IDEOLGIA DO KHMER VERMELHO
Tinha uma ideologia comunista radical e empregou um brutal programa de engenharia social, através da expropriação dos bens, deslocamento da população para o campo, censura, repressão política, trabalho escravo, torturas, fome, desnutrição, milhões de mortos, enfim, um genocídio. .
PRINCÍPIOS MARXISTAS QUE FORAM USADOS PELO KHMER VERMELHO
A - Igualitarismo radical: Em qualquer sociedade é natural que haja desigualdades, pois os seres humanos são desiguais por natureza...mas isso era visto como um problema para o Khmer Vermelho, o qual procurou igualar todos através das seguintes ações:
- expropriação de toda a propriedade privada: tudo passou a pertencer ao Estado
- eliminação do dinheiro
- eliminação de todos aqueles que eram considerados "inimigos de classe": fazendeiros, intelectuais, professores, artistas, empresários, jornalistas, etc.
B - Coletivização agrícola: Inspirado na ideia de coletivização criada por Marx, o Khmer Vermelho forçou a população ao trabalho escravo nas fazendas coletivas gerenciadas pelos soldados do Khmer. A disciplina brutal resultava em julgamentos e execuções sumárias de todos os que cometiam qualquer ato, incluindo o de comer escondido algumas espigas para tentar matar a fome, que era uma rotina.
C - Ruralização da sociedade: A ditadura do Khmer usou seu povo como cobaias, através de um projeto de engenharia social, que na prática traduziu-se em trabalho escravo, fome, torturas, desnutrição, doenças, miséria, execuções sumárias e milhões de mortos.
D - Autoritarismo centralizado: O regime estabeleceu um governo centralizado e autoritário, com Pol Pot e seus associados exercendo controle absoluto sobre todas as instituições do Estado e da sociedade. Isso refletia a ideia marxista-leninista de um partido de vanguarda que lideraria a revolução e implantaria a ditadura, que no caso não foi uma ditadura do proletariado, pois o país não era industrializado e não havia um comitê de operários como ditadores.
4 - AS ATROCIDADES DO KHMER VERMELHO
O marxismo, através de suas obras "O capital" e "O manifesto comunista" defende a ideia de uma ditadura do proletariado no poder... sendo assim, defende uma ditadura, um regime que não é, nunca foi democrático e nunca será democrático. O termo "ditadura do proletariado" na teoria marxista, criado por Marx e Engels, foi usado para descrever um período de transição entre o capitalismo e o comunismo, durante o qual a ditadura faria reformas sociais, que na prática sempre resultam em expropriações, prisões, censura, perseguições, tortura, eliminação de opositores, etc.
Na ideologia marxistas, a ditadura do proletariado significa uma fase de transição para uma sociedade sem classes. O que Marx não diz é que na prática isso significa o uso da violência governamental para tomar todas as propriedades do povo, todos os meios de produção, concentrando-a nas mãos da ditadura e impondo o povo ao trabalho escravo...quem discorda é preso e eliminado...isso é incompatível com os ideais democráticos e viola todos os direitos humanos fundamentais.
Portanto, é válido afirmar que qualquer regime que use da violência para impor sua vontade e reprimir a oposição está agindo de forma autoritária, independentemente de se autodenominar como uma democracia ou ou uma república popular. O respeito aos direitos humanos e às liberdades individuais deve ser uma preocupação central em qualquer sistema político que se pretenda democrático e justo.
VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS PRATICADAS PELA DITADURA COMUNISTA DO KHMER VERMELHO:
Sob o comando do ditador Pol Pot, entre 1975 e 1979, houve uma série de violações graves dos direitos humanos:
a) Genocídio: O regime almejava eliminar grupos étnicos minoritários, intelectuais, religiosos e outros que fossem considerados uma ameaça à ideologia do partido, resultando em um genocídio que levou à morte de milhões de pessoas.
b) Prisões arbitrárias e execuções em massa: Milhares de pessoas foram presas arbitrariamente e executadas sem julgamento prévio. Muitos foram mortos em campos de extermínio ou forçados a trabalhar até a morte em condições desumanas.
c) Trabalho escravo: O regime forçou a população a trabalhar em campos agrícolas coletivos em condições desumanas. Muitos morreram de fome, exaustão e doenças devido às condições brutais.
d) Restrições à liberdade de expressão e religião: Todas as formas de expressão e religião foram reprimidas. Livros foram queimados, templos religiosos foram destruídos e práticas religiosas foram proibidas.
e) Deslocamento forçado da população: Milhões de pessoas foram deslocadas de suas casas e forçadas a viver em áreas rurais para trabalhar nos campos. Famílias foram separadas e muitos morreram durante o deslocamento.
f) Fim das liberdades individuais: crença, opção política, opinião, imprensa, expressão, direito de ir e vir, tudo foi eliminado.
f) Justiça: a justiça foi extinta e em seu lugar os guerrilheiros do Khmer julgavam, torturavam e matavam qualquer um que considerassem inimigos de qualquer princípio ou orientação da ditadura. Foi assim que eliminaram os pais da protagonista.
5 - LOUNG UNG, A PROTAGONISTA E SUA FAMÍLIA
aos 10 anos de idade, Loung Ung tinha visto mais mortes, desgraças e tragédias do que a maioria das pessoas viu durante toda a vida. Ung foi criada em uma família de classe média alta em Phnom Penh...seu pai, era um oficial militar no governo de Lon Nol...tudo mudou quando em em 17 de abril de 1975, o Khmer Vermelho do ditador Pol Pot invadiu a capital e forçou dois milhões de pessoas a evacua-la. Todos os que resistiram foram baleados e mortos.
O assassinato dos pais
Os pais de Loung Ung, foram mortos pela ditadura devido à sua origem urbana e ao seu passado associado à classe educada e intelectual. Para a ditadura do Khmer Vermelho, os membros da classe urbana, incluindo funcionários do governo, profissionais, educadores e intelectuais, por terem uma educação e cultura influenciadas pelo Ocidente, eram vistos como inimigos do regime e eram alvos de perseguição e execução.
O Khmer Vermelho buscava implementar uma visão radicalmente igualitária da sociedade cambojana, promovendo uma ideologia agrária e anti-intelectual. Eles consideravam a vida urbana e a educação formal como símbolos de corrupção e exploração, e procuravam eliminar qualquer vestígio da antiga ordem social.
Como resultado, muitos dos que tinham origem urbana, educação formal ou associação com o governo anterior foram considerados traidores ou espiões e foram alvo de perseguição, prisão e execução sumária pelo regime do Khmer Vermelho. Os pais de Loung Ung, como muitos outros, foram vítimas dessa política de repressão e violência indiscriminada.
Nos 5 anos seguintes, Ung foi separada de seus pais e irmãos, torturada, presa em cativeiro e obrigada a treinar como criança soldado (aos sete anos). Algum tempo depois, ela, seu irmão e sua cunhada conseguiram fugir para a Tailândia, onde permaneceram em um campo de refugiados até que conseguiram asilo político nos EUA, em junho de 1980. Em 2000, ela publicou suas memórias em um livro intitulado First They Killed My Father.
Loung Ung é uma ativista e professora de direitos humanos... é a porta-voz nacional da Campanha por um Mundo Livre de Minas Terrestres.
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