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quarta-feira, 20 de novembro de 2024

PRÉ-HISTÓRIA GERAL E DO BRASIL


O termo Pré-história representa o mais antigo período histórico. Sabemos que o prefixo "pré" significa antes...entretanto, na pré-história, o prefixo indica a fase em que, mesmo havendo história humana, não havia ainda a escrita...a pré-história não deixa de ser história por falta da escrita...como os historiadores não criaram um termo mais adequado, ele ainda é usado.
O Surgimento do ser humano: No estudo da Pré-história, somos confrontados com a questão desse surgimento. Existem diferentes abordagens para essa questão, destacando-se o criacionismo, o design inteligente e o evolucionismo, o qual é o adotado na área acadêmica.
O nosso foco não é promover debates nem impor uma visão única nem desrespeitar nenhum tipo de convicção. Como a teoria evolucionista já é abordada em biologia, nosso tema focará nas mudanças provocadas pelo ser humano ao longo da pré-história, as quais culminaram na criação das primeiras civilizações.
A Divisão da Pré-história: os historiadores a dividem em dois ou três períodos
1 - Paleolítico e Neolítico.
2 - Paleolítico, Mesolítico (para muitos pesquisadores, trata-se de uma fase de transição, sendo também considerada como paleolítico avançado ou um neolítico primitivo) e Neolítico.

PALEOLÍTICO: É conhecido também como Idade da Pedra Lascada por causa dos objetos de pedra produzidos de forma grosseira. Além da pedra, utilizavam-se também da madeira e de ossos. É o período mais extenso da Pré-História: aproximadamente entre 2,6 milhões de anos até cerca de 10.000 a.C. Nele, o ser humano teria surgido, criado diversas ferramentas de pedra e produzido o fogo, o qual é considerado como a principal conquista paleolítica.  

Características do Paleolítico:
- RECURSOS ESCASSOS / DIFICULDADES EXTREMAS: os humanos  não produziam alimentos e 
dependiam completamente da natureza para obtê-los, através da caça de grandes animais, pesca ou coleta de plantas, raízes e frutos.
- SOCIEDADES DE CAÇADORES E COLETORES: Os humanos dessa fase não eram produtores de alimentos, não conheciam o potencial da agricultura nem do pastoreio. Para obter alimentos, dependiam do que a natureza oferecesse...sendo assim, eram caçadores de animais e coletores de frutos, sementes, raízes, etc. Para obter sucesso na caçada de grandes animais, passaram a caça-los em bandos, de forma coordenada.
- SOCIEDADE COMUNAL: de maneira geral, os grupos humanos possuíam laços de parentesco...após as caçadas, repartiam entre o grupo tudo o que foi conquistado. Tinham poucos bens. Não havia ainda a ideia de propriedade privada.

- MUDANÇAS CLIMÁTICAS: O Paleolítico foi marcado por flutuações climáticas, com períodos de glaciação e aquecimento que afetavam diretamente os habitats de animais e vegetais. As mudanças no clima podiam resultar em escassez de alimentos, dificultando a caça e a coleta.
- MIGRAÇÃO ANIMAL:
A caçada de grandes animais, como mamutes, bisões e cervos, dependia de migrações sazonais devido à mudança do clima. Os caçadores/coletores acompanhavam os deslocamentos dos animais em busca de pastagens e temperaturas mais amenas. Durante o inverno, muitos animais migravam para regiões mais quentes, e os grupos humanos seguiam esses deslocamentos para garantir alimento e matéria-prima para ferramentas, roupas e abrigo.
- OBJETOS RUDIMENTARES: A pedra foi o principal material utilizado para fazer os objetos necessários à sobrevivência: eram feitos de forma grosseira (pedra lascada), tais como as pontas de lança, raspadores, arpões, facas e pontas de flecha. 
- NOMADISMO / CAVERNAS: os humanos não tinham um lugar fixo para morar e se deslocavam constantemente em busca de alimentos e melhores condições de sobrevivência. Apesar desse estilo de vida nômade, eles também ocupavam cavernas por diversos motivos:
- Abrigo: As cavernas ofereciam proteção contra as intempéries climáticas, como chuva, vento, frio e calor intenso. Elas proporcionavam um refúgio seguro para os grupos humanos, protegendo-os de predadores e de condições climáticas adversas.
- Segurança: As cavernas, por serem naturalmente fechadas e com entradas estreitas, ofereciam proteção contra animais selvagens e outros grupos humanos. Isso garantia maior segurança para os grupos que as habitavam, especialmente durante a noite.
- Disponibilidade de recursos: Algumas cavernas ofereciam acesso a fontes de água, como nascentes ou rios subterrâneos.
- Práticas culturais: As cavernas também eram utilizadas para a realização de rituais, cerimônias e outras práticas culturais. As paredes de algumas cavernas foram decoradas com pinturas rupestres, que podem ter tido significado religioso ou mágico. Além disso, as cavernas podiam ser utilizadas como locais de sepultamento, indicando a importância desses espaços para os grupos humanos. 
É importante ressaltar que nem todos os grupos humanos do Paleolítico ocupavam cavernas. Muitos viviam ao ar livre ou em abrigos temporários, como tendas feitas de pele de animais ou cabanas construídas com materiais disponíveis na natureza. A ocupação de cavernas era uma estratégia de adaptação a diferentes ambientes e condições de vida.
- Gravuras rupestres: são desenhos criados no interior das cavernas e em paredões rochosos, pelos artistas do paleolítico, os quais retratavam, de maneira geral, cenas do cotidiano, principalmente imagens de animais e de caçadas. 

- LIDERANÇA: Nos grupos humanos do paleolítico não existia a anarquia. As principais formas de liderança tinham como base: 
- Experiência e habilidades: caçadores experientes, curandeiros ou aqueles com conhecimentos profundos sobre a natureza. Esses líderes naturais ganhavam respeito e autoridade por sua capacidade de garantir alimentos, proteger o grupo ou cuidar dos membros mais vulneráveis.
- Carisma e Status: embora não existisse divisões de classe, alguns indivíduos poderiam ter um status maior dentro do grupo devido a suas características pessoais, como carisma ou coragem. Esse status poderia levá-los a influenciar decisões coletivas, como a escolha de rotas de caça ou estratégias de sobrevivência.
- Decisões coletivas / Liderança compartilhada: Muitas decisões importantes (ex: como e onde caçar ou onde se estabelecer, para onde migrar, qual a melhor e mais segura rota, etc), poderiam também ser tomadas de forma coletiva, com os membros do grupo discutindo e oferecendo suas opiniões. A comunicação e o consenso eram essenciais para a sobrevivência.
- Liderança na prática: Como as ameaças eram constantes (como animais selvagens ou mudanças climáticas), a liderança era muitas vezes uma questão de praticidade: quem fosse mais capaz de lidar com essas situações urgentes, como liderar uma caçada ou proteger o grupo de predadores, automaticamente assumiria um papel de liderança, mas de maneira temporária e contextual.
- Liderança Espiritual (ex: xamã ou pajé): Essa liderança oferecia conselhos e orientação para o grupo, com base em seus conhecimentos sobre o mundo espiritual e natural. Podia também realizar curas e tratamentos, pois conhecia propriedades de plantas medicinais. Era também responsável por preservar e transmitir os conhecimentos, costumes e tradições do grupo. Ensinava as histórias, mitos e valores da comunidade para as novas gerações.

BANDOS E HORDAS: 
Eram grupos humanos que teriam se envolvido em disputas por territórios, alimentos e até por mulheres. Há um tendência a considerar que as hordas teriam um comportamento mais predatório do que os bandos, como roubar o produto da caça de um bando, matar seus homens e capturar suas mulheres. Esse tipo de comportamente seria resultado de uma luta pela sobrevivência em um ambiente altamente competitivo. Nesse contexto, essas hordas tentariam tomar o que os bandos haviam caçado, como uma forma de garantir recursos para sua própria sobrevivência. 

Bando: Refere-se a um grupo de indivíduos que conviviam, caçavam e repartiam entre si o fruto de seu trabalho. Os bandos eram pequenos grupos familiares ou clãs, compostos geralmente por algumas dezenas de pessoas. A cooperação entre os membros era essencial para a sobrevivência, como para caçar, dividir alimentos e cuidar uns dos outros. algumas correntes de pensamento sugerindo que as hordas poderiam se caracterizar por comportamentos mais agressivos e territoriais, enquanto os bandos seguiam uma organização mais cooperativa.

Horda: Na antropologia, este termo é usado para descrever grupos  humanos que, embora também cooperassem entre si, seriam mais agressivos do que os bandos, ao ponto de atacá-los para obter alimentos, matar seus homens e capturar suas mulheres.

Prováveis causas da rivalidade entre Bandos e Hordas:

1 - A falta de parentesco: Nos primeiros grupos humanos, as relações familiares eram fundamentais para a organização do grupo, e, por consequência, para as alianças. Quando diferentes grupos não tinham laços de parentesco, a confiança mútua era mais difícil de estabelecer, e isso poderia gerar tensões.

2 - Disputa por Territórios: embora ainda não houvesse propriedade privada, esses bandos e hordas já viviam em territórios que consideravam seus, onde dispunhamn de recursos necessários à sobrevivência (áreas de caça, fontes de água ou abrigos)... entretanto, esses recursos eram limitados.

3 - Expansão Genética e Reprodutiva: 
Nos tempos do Paleolítico, quando a sobrevivência estava intimamente ligada à procriação e à manutenção de um número suficiente de membros para garantir a força de trabalho e a defesa do grupo, as mulheres desempenhavam um papel crucial na reprodução e na continuidade da comunidade.  Ao sequestrar mulheres de outro grupo, um bando ou horda podia ampliar sua força demográfica. Essa prática teria sido uma forma de garantir a perpetuação da linhagem, já que, se um grupo se encontrasse em uma situação de escassez de mulheres ou de jovens, essa estratégia poderia ser vista como uma solução para garantir a sobrevivência do grupo a longo prazo. Além de procriarem , as mulheres também coletavam alimentos, confeccionavam ferramentas de pedras e roupas com o couro dos animais. 
A violência entre bandos e hordas existiu, mas a dinâmica social do Paleolítico também envolvia outros tipos de interação, como troca, comunicação e alianças que possibilitavam a sobrevivência e a expansão das comunidades humanas.

- UM GRANDE AVANÇO: O CONTROLE DO FOGO: a capacidade de produzir fogo é considerada como a maior conquista humana no paleolítico, pois trouxe inúmeros benefícios: espantar animais selvagens, cozinhar ou assar seus alimentos, aquecer-se, etc.
- DIVISÃO RUDIMENTAR DO TRABALHO: os principais papéis dos homens e das mulheres eram:
Homens: caçar, coletar, pescar, ir à guerra, defender seu grupo tanto do ataque de predadores quanto de povos inimigos.
Mulheres: cuidar dos filhos, coletar, criar os filhos e preparar os alimentos.
Essa divisão é frequentemente justificada por fatores biológicos (força física masculina para a caça e a guerra) e pela necessidade de cuidados com a prole, que recaiam sobre as mulheres. Novas pesquisas indicam que esta divisão não era assim tão rígida: dependendo do povo, as mulheres também caçavam.  


NEOLÍTICO: Foi o período que provocou profundas mudanças na vida dos seres humanos, a partir do momento em que foi inventada a  agricultura. Essa mudança é chamada de Revolução Agrícola ou Agropastoril ou Revolução Neolítica. 
A agricultura resultou de um processo gradual de observação, experimentação e adaptação dos seres humanos ao ambiente. A transição da caça e coleta para a agricultura ocorreu entre 7000 e 5000 anos em regiões como o Oriente Médio, América Central e África. Esse processo envolveu:
1. Observação da natureza: Notaram o ciclo de crescimento das plantas.
2. Experimentação: Testaram técnicas de cultivo e seleção de sementes.
3. Necessidade e aprimoramento: a agricultura resultou em melhorias nas condições de vida do ser humano, sendo assim, houve aumento populacional, fato que forçou o ser humano a buscar aprimorar suas técnicas de produção de alimentos, tanto agrárias quanto pecuárias.

Características do Neolítico

1. Produção de Alimentos: o ser humano passa a produzir alimentos através da Revolução Agrícola ou Agropecuária: tornou-se agricultor e criador de animais. Essa revolução muda tudo, pois o ser humano não depende mais de ter sorte em caçadas. Além disso, passou a dominar a natureza no sentido de plantar e colher seus alimentos.
2. Sedentarismo: o ser humano tornou-se sedentário, ou seja, passou a ter moradia fixa, devido à necessidade de morar próximo ao seu local de trabalho, que eram suas plantações e criações de animais.
3. Desenvolvimento da cerâmica: devido à necessidade de guardar os alimentos.
4. Uso de ferramentas de pedra polida: foi uma evolução da produção de objetos de pedras.
5. Comércio e especialização: o comércio surgiu a partir da geração de excedentes da agricultura. Esses excedentes foram trocados por outras mercadorias. Juntamente com a escrita, o comércio foi uma das maiores invenções da humanidade.
6. A invenção da Escrita: foi necessário para registrar as quantidades, a produção, os negócios, os regulamentos, etc. A invenção da escrita foi tão importante que ela dividiu a história: a partir daí chamou-se História Antiga em lugar de pré-história.
7. Surgimento de vilas e cidades
8. Multiplicação das atividades: a sociedade torna-se complexa devido ao aumento das funções e serviços: carpinteiros, pedreiros, artesãos, ceramistas, comerciantes, transportadores, pecuaristas, metalúrgicos, tecelões, etc.
9.Surgimento das primeiras civilizações, com destaque para aquelas localizadas na Mesopotâmia: Sumérios, Acádios, Babilônios, Assírios, Caldeus, Persas.

PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL: A chegada dos humanos nas Américas
A teoria mais aceita é a da migração de asiáticos através do Estreito de Bering, entre a Rússia e o Alasca. A semelhança física entre asiáticos e os povos das três américas é outro fato que contribui para esta teoria. A partir dessa migração, que teria ocorrido durante uma era de glaciação, os humanos teriam se espalhado pelas Américas. 
Durante muito tempo, prevalecia a tese de que o início da ocupação humana nas Américas teria se iniciado nos EUA, devido à descoberta do sítio arqueológico Clóvis, no Novo México., o qual, por muito tempo foi considerado o mais antigo nas Américas, com datação entre 11 mil e 11,5 mil anos atrás.

Entretanto, no Brasil, a partir das pesquisas da arqueóloga 
Niede Guidon no Sítio de Pedra Furada, na Serra da Capivara, no Piauí, desenvolveu-se a tese de que a presença humana no Brasil seria a mais antiga das Américas e teria ocorrido por volta de 20.000 a 30.000 anos atrás. 

Possíveis Causas da Migração para a América do Sul antes da América do Norte:

- Clima Mais Ameno: A região sul da América, particularmente a parte tropical e subtropical da América do Sul, oferecia um ambiente menos afetado pelo resfriamento global, com uma vegetação mais densa, clima mais quente e recursos naturais mais abundantes, como fauna e flora para a caça e coleta.
- Deslocamento de Animais: A megafauna, grandes animais como mamutes, mastodontes, preguiças-gigantes e outros herbívoros que dominavam o Norte e o Centro da América, também poderia ter migrado para o sul, em busca de melhores condições para sua sobrevivência. Para os humanos, que dependiam da caça desses animais, isso significaria a necessidade de seguir essas grandes presas, o que poderia ter levado ao deslocamento para regiões mais quentes e mais ao sul.


OS POVOS DOS SAMBAQUIS
Nossos pré-históricos também eram Caçadores-coletores e habitavam  quase todo o território brasileiro, vivendo em cavernas, florestas e no litoral. Um dos povos mais famosos foram os povos dos Sambaquis.

O que são os Sambaquis? são construções artificiais em forma de morros, constituída por conchas, ossos de animais, artefatos utilitários de pedra e osso e até esqueletos humanos. A palavra sambaqui vem do tupi-guarani, onde "tambá" significa "monte" e "ki" significa "concha" . São encontrados em baías, praias ou na foz de grandes rios. No Brasil, localizam-se principalmente no litoral do sudeste e sul.  Os povos dos sambaquis se estabeleceram em regiões litorâneas, onde a abundância de recursos marinhos como peixes, moluscos e crustáceos era fundamental para sua sobrevivência. Além disso, a caça de animais terrestres como roedores e pequenos mamíferos também fazia parte de sua dieta. 
Construção de Sambaquis: Durante séculos, esses povos acumularam restos de suas atividades diárias — como restos de alimentos, ferramentas e cerâmica — em locais específicos. Os sambaquis eram, assim, montados ao longo do tempo, o que os torna registros arqueológicos valiosos para entender o modo de vida e as crenças desses grupos. Com o tempo, a construção de sambaquis foi diminuindo e, em algumas regiões, desaparecendo. Os povos dos sambaquis foram se integrando a outras culturas e adaptando-se a novos modos de vida, como a agricultura primitiva dos povos indígenas. 

Civilização marajoara: Considerada uma das mais avançadas da nossa pré-história, essa civilização viveu aproximadamente  entre 400 d.C. e 1400 d.C., na Ilha de Marajó, localizada na região amazônica, no estado do Pará.

Características:

Localização e Ambiente: A Ilha de Marajó, onde há grandes áreas de várzea e uma rica biodiversidade, favorecendo o crescimento de uma sociedade complexa de agricultores, artesãos e comerciantes.

Economia: além da caça e pesca, já existiam técnicas agrícolas de  irrigação onde se cultivavam principalmente mandioca, milho e batata-doce. A produção agrícola era favorecida por técnicas de irrigação e cultivo adaptadas ao ambiente da ilha. Eles também praticavam o comércio de produtos, como cerâmica e alimentos, com outras regiões da Amazônia. O uso de barcos para transporte e comércio era comum, dado o ambiente aquático da região. 

Arte e Cultura: Os marajoaras são especialmente conhecidos por sua cerâmica, que é uma das mais sofisticadas da pré-história brasileira. Suas peças de cerâmica incluem vasos, urnas funerárias e figuras humanas e animais, frequentemente adornadas com complexos desenhos geométricos e figuras estilizadas. Essas urnas eram frequentemente usadas para enterrar mortos, em um rito funerário que envolvia práticas religiosas e culturais.

A arte marajoara também é marcada pelo trabalho em metais, como ouro, e pela construção de açudes, que mostravam grande habilidade em engenharia e organização social.

Organização Social: A sociedade era estratificada, com uma clara divisão de classes, provavelmente incluindo uma elite dominante, responsáveis pela administração da região, e uma grande população de trabalhadores ligados à agricultura, pesca e cerâmica. Eles construíram grandes vivendas comunitárias e também eram conhecidos por suas grandes aldeias cercadas por muros ou palmeiras, o que indica uma sociedade organizada e com uma estrutura hierárquica.

Declínio e Legado: A civilização marajoara entrou em declínio por volta de 1400 d.C., possivelmente devido a mudanças climáticas, superexploração dos recursos naturais ou a pressão de outros grupos indígenas. Deixou como legado cultural a beleza de seus artefatos cerâmicos.  A civilização marajoara, portanto, representa um dos grandes exemplos de complexidade cultural da pré-história brasileira e um dos mais avançados povos indígenas da região amazônica antes da chegada dos europeus.


sexta-feira, 30 de agosto de 2024

AÇÃO SOCIAL - SOCIOLOGIA

É toda ação que o indivíduo realiza levando em consideração a reação ou o comportamento de outras pessoas. Essa ação nem sempre tem o  objetivo de obter um benefício direto para quem a realiza. O importante é que ela tem um significado subjetivo e é orientada em função dos outros, seja para obter uma resposta, influenciar comportamentos, ou mesmo expressar emoções ou valores. O simples fato de escrever uma mensagem ou uma carta é uma ação social, pois o emissor espera que ela seja lida por alguém. Seu ato somente tem significado enquanto envolve outra pessoa. 

Tipos de Ação Social


Ações racionais
são feitas pelos sujeitos que têm  controle sobre seus atos e procuram realizá-los. Elas são separadas em dois conceitos:


  • Ação racional em relação a fins – ocorre quando o propósito da ação justifica a intenção e os caminhos percorridos para alcançar determinado objetivo. O sujeito utiliza meios racionais para conquistar um resultado satisfatório.
    Exemplos:
    Quando alguém estuda almejando objetivos tais como tirar boas notas, ser aprovado no Enem, em um concurso, emprego, etc. 
    Quando alguém vai a uma igreja em busca da cura ou de um emprego.
    Quando alguém trabalha em troca do salário.
  • Ação racional em relação a valores – o indivíduo age sem almejar benefícios próprios, mas de acordo com seus valores ou crenças pessoais. Age de acordo com o que considera correto, benéfico para o próximo. Esse tipo de ação geralmente é fruto de tradições, como religiosas ou familiares.
    Exemplos:
    Ativismo ambiental: Uma pessoa que se dedica a causas ambientais, como reduzir o consumo de plástico ou participar de protestos contra o desmatamento, não por ganhos materiais, mas por acreditar na importância de preservar o meio ambiente.

    Atitudes religiosas: Alguém que pratica rituais religiosos, jejua, ou segue regras estritas de conduta moral porque acredita nos ensinamentos de sua fé, mesmo que isso exija sacrifícios.

    Pacifismo: Uma pessoa que se recusa a participar de conflitos armados ou a usar violência, mesmo em situações de autodefesa, por acreditar firmemente nos valores da paz e da não-violência.

    Trabalho voluntário: Alguém que dedica seu tempo a ajudar os menos favorecidos, como trabalhar em uma ONG ou distribuir alimentos a pessoas em situação de rua, guiado por um sentido de justiça social e compaixão, sem esperar nada em troca.

    Luta por direitos civis: Uma pessoa que se envolve em movimentos por igualdade e justiça, como protestar contra a discriminação racial ou de gênero, porque acredita profundamente na importância dos direitos humanos.


Ações irracionais 


Nesta segunda definição, os atos são baseados em sentimentos, motivados pela emoção ou impulsos. Eles também são divididos em dois subgrupos:


  • Ação irracional tradicional – é pautada nos hábitos e costumes que as pessoas, dentro da sociedade em que vivem, começam a adotar. É em decorrência de tudo que aprenderam habitualmente a fazer e acreditar. O costume de ir à missa aos domingos, por exemplo, é visto como uma ação irracional tradicional.
    Exemplos:
        Cumprimentar com um aperto de mão: Muitas pessoas apertam as mãos ao se encontrar, sem pensar conscientemente sobre por que fazem isso. É um costume social estabelecido.

        Fazer o sinal da cruz ao passar por uma igreja: Algumas pessoas fazem o sinal da cruz automaticamente ao passar por uma igreja, sem refletir profundamente sobre o significado da ação a cada vez que a realizam.

        Celebrar datas comemorativas: Participar de festas como o Natal ou o Ano Novo, seguindo tradições familiares, mesmo que a pessoa não tenha uma conexão religiosa ou pessoal forte com o significado dessas datas.

        Usar certos trajes em eventos específicos: Vestir roupas formais para um casamento ou usar preto em um funeral, seguindo tradições culturais, sem questionar o motivo por trás dessa prática.

        Sair de casa com o pé direito: Em algumas culturas, é comum as pessoas seguirem superstições, como sair de casa com o pé direito para atrair sorte, sem realmente acreditar ou pensar no porquê de fazer isso.


  • Ação irracional afetiva – envolve sentimentos e emoções. O sujeito tem uma ação motivada por raiva, esperança, medo, paixão, inveja, entre outros gatilhos sentimentais. Como o afeto pode ser despertado pelo costume, esse tipo de ação irracional também se enquadra na categoria tradicional.
    Exemplos:
    Gritar de alegria ao receber uma boa notícia: Quando alguém recebe uma notícia muito boa, como passar em um concurso ou receber uma promoção, e grita ou pula de alegria, agindo impulsivamente, movido pela emoção.

    Chorar ao assistir a um filme triste: Uma pessoa que chora durante uma cena emocional de um filme, reagindo de maneira imediata e emocional, sem refletir sobre o fato de que é apenas uma história fictícia.

    Agir com raiva em uma discussão: Quando alguém, no calor de uma discussão, grita ou faz gestos agressivos, agindo sob a influência da raiva sem pensar nas consequências ou na racionalidade da situação.

    Abraçar impulsivamente uma pessoa querida após um reencontro: Encontrar alguém que você não vê há muito tempo e, sem pensar, correr e abraçar a pessoa, movido pelo carinho e saudade.

    Cometer um ato de vingança ferindo ou matando alguém, ou destruindo objetos, reagir de maneira perigosa diante de um assalto, reagir de forma imediata e emocional, buscando retribuir o que considera uma injustiça, sem ponderar as consequências de sua ação.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

LUIZ GAMA

Luiz Gama: o maior abolicionista do Brasil


Luís Gonzaga Pinto da Gama (1830-1882) , mais conhecido como Luiz Gama, é considerado o patrono da abolição no Brasil.. É o patrono da cadeira n.º 15 da Academia Paulista de Letras.

Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu livre em Salvador, Bahia, no dia 21 de junho de 1830. Filho de um português  (cujo nome jamais citou) e da escrava livre Luiza Mahin que, segundo ele, participou da revolta do Malês em 1835 e da Sabinada em 1837 e, como consequência teve que fugir para o Rio de Janeiro, deixando o filho aos cuidados do pai.

Em 1840, com 10 anos, foi levado por seu pai para o Rio de Janeiro e vendido ao negociante e alferes Antônio Pereira Cardoso para pagar uma dívida de jogo. De lá, ele foi levado para uma fazenda em Limeira, São Paulo...
sendo assim, foi o único abolicionista que passou pela experiência da escravidão. Com 17 anos, Luiz Gama conheceu o estudante Antônio Rodrigues do Prado, hóspede da fazenda de seu pai, que lhe ensinou a ler e escrever.
Em 1848, com 18 anos, sabendo que sua situação era ilegal, uma vez que sua mãe era livre, Luiz fugiu para a cidade de São Paulo e conquistou a alforria na justiça. Nesse mesmo ano, alistou-se na Força Pública da Província.
Em 1850, casou-se com Claudina Gama, com quem teve um filho. Ainda em 1850, tentou ingressar no curso de Direito do Largo de São Francisco, mas a faculdade recusou sua inscrição porque era ex-escravo e pobre. Mesmo sendo hostilizado pelos professores e alunos, ele teve direito a assistir as aulas como ouvinte.
Mesmo sem ter a formação plena em Direito, Gama adquiriu o direito de atuar como advogado (naquela época era permitido), fato que o levou a se especializar na defesa jurídica dos escravos. Por meio do estudo aprofundado da cultura jurídica, ele descobriu leis que protegiam a vida dos escravizados e não eram aplicadas. Além da articulação na área do direito, ele escrevia sobre os casos nos jornais locais para conscientizar a população sobre os seus direitos

Em 1856 tornou-se escriturário da Secretaria de Polícia da Província de São Paulo.
Em 1864, junto com o ilustrador Ângelo Agostini, Luiz Gama inaugurou a imprensa humorística paulista ao fundar o jornal Diabo Coxo, que se destacou por utilizar caricaturas que ilustravam as reportagens dos fatos cotidianos da conjuntura social, política e econômica, o que permitia os iletrados compreenderem os fatos.

Em 1869, junto com Rui Barbosa, fundou o Jornal Paulistano. Colaborou com diversos jornais, entre eles Ipiranga e A República.
De escravo a advogado abolicionista: Gama sempre esteve  envolvido nos movimentos contra a escravidão tornando-se um dos maiores líderes abolicionistas do Brasil. Em 1873 participou da Convenção de Itu, que criou o Partido Republicano Paulista.

Ciente de que naquele espaço dominado por fazendeiros e senhores de escravos suas ideias abolicionistas não receberiam apoio, passou a denunciá-los e condená-los de todas as formas. Em 1880 tornou-se o líder da Mocidade Abolicionista e Republicana.

Luiz Gama trabalhou na defesa dos negros escravizados exercendo a profissão de “rábula” - nome dado aos advogados sem título acadêmico por meio de uma licença especial, o provisionamento.

Nos tribunais, Luiz Gama usava uma oratória impecável e com seus conhecimentos jurídicos defendia os escravos que podiam pagar pela carta de alforria, mas eram impedidos da liberdade por seus donos. Defendeu os escravos que entraram no território nacional após a proibição do tráfico negreiro de 1850.

Participava de sociedades secretas, como a Maçonaria, que o ajudava financeiramente.
Livros e poemas

Luiz Gama projetou-se na literatura em função de seus poemas, nos quais satirizava a aristocracia e os poderosos de seu tempo. Muitas vezes ele se ocultava sob o pseudônimo de Afro, Getulino e Barrabás.

Em 1859, Luiz Gama publicou uma coletânea de versos satíricos, intitulado Primeiras Trovas Burlescas de Getulino, que fez grande sucesso, no qual se encontra o poema, “Quem Sou Eu?” (Popularmente chamada de “Bodarrada” ou “Bode” era uma gíria que tentava ridicularizar os negros.

CONTEXTO HISTÓRICO DA ÉPOCA DE LUIZ GAMA: O Brasil estava em um processo de mudança, onde já existiam leis abolicionistas, embora com pouco efeito...mesmo assim, já era possível a um ex-escravizado estudar em uma faculdade e exercer a função de advogado mesmo sem ter completado os estudos.


Em 1931, ele se tornou a primeira pessoa negra a ter uma estátua na cidade de São Paulo. A homenagem está localizada no Largo do Arouche, centro da cidade.
Em 2015, 133 anos após sua morte, o abolicionista recebe o título oficial de advogado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e em 2018 foi declarado patrono da abolição da escravidão no Brasil.

QUESTÕES SOBRE O FILME "PRIMEIRO ELES MATARAM MEU PAI"

1 – A ESCRAVIZAÇÃO DO POVO CAMBOJANO PELA DITADURA MARXISTA DO KHMER VERMELHO
- A escravização do povo fazia parte da política de reforma da ditadura do Khmer Vermelho, que tinha o marxismo com base político/ideológica para sua prática, através de um programa de "engenharia social", onde o povo foi submetido à uma brutal reestruturação social e econômica, entre 1975 e 1979. As razões da ditadura foram basicamente as seguintes:
- Visão Ideológica Radical: O Khmer Vermelho era uma ditadura socialista que buscava criar uma sociedade comunista de base agrária, livre de influências ocidentais. Eles acreditavam que a transformação radical da sociedade era necessária para atingir esse objetivo. Para realizar esta transformação era preciso eliminar qualquer influência considerada negativa: religiões (o regime era materialista), todas as antigas tradições tanto orientais quanto ocidentais, toda a cultura ocidental (com exceção da marxista), a burguesia local, etc.
- Ano Zero: O Khmer Vermelho adotou uma política conhecida como "Ano Zero", na qual eles buscavam apagar completamente todas as influências culturais, religiosas e sociais do passado do Camboja. Eles consideravam a população urbana e educada como inimigos do regime e buscavam criar uma nova sociedade agrária a partir do zero, o que exigia trabalho forçado para alcançar seus objetivos.
- Reestruturação Econômica: A ditadura queria transformar a economia cambojana de maneira rápida e extremamente radical: de uma economia agrária para uma economia agrária de subsistência, onde todos foram forçados a ir viver e trabalhar na agricultura, sem direito a salário (o dinheiro foi abolido)....a única recompensa era a precária alimentação...na prática era a volta da escravidão Os que resistiam à essa Engenharia social foram submetidos a tortura e execuções sumárias.
Controle e Poder: O uso de trabalho escravo servia para consolidar o controle do regime sobre a população. Ao obrigar as pessoas ao trabalho escravo, a ditadura marxista demonstrava que seu poder não tinha limite algum.
Em suma, o Khmer Vermelho escravizou seu próprio povo como parte de sua visão radical de reestruturação social, econômica e política do Camboja. Eles acreditavam que apenas por meio do trabalho forçado e da repressão extrema poderiam alcançar seus objetivos de criar uma sociedade comunista radicalmente transformada.

2 - CONTEXTO HISTÓRICO DO FILME
O Camboja é um país localizado no sudeste asiático, com uma rica herança cultural e histórica, incluindo os antigos templos de Angkor Wat. No século XIX tornou-se uma colônia francesa até a sua independência em 1953. O país era uma monarquia até 1970 e era neutra em relação à guerra do Vietnã.
Mesmo sendo neutro, o território do Camboja estava envolvido na Guerra: o Vietnã do Norte tinha bases e rotas de suprimentos no leste do país.
No mesmo ano de 1970, um golpe de estado derrubou a monarquia e implantou uma república, sob o comando do general Lon Nol, o qual declarou apoio aos EUA na guerra do Vietnã...sendo assim, entrou em guerra contra o Vietnã do Norte. Além disso, já enfrentava o grupo guerrilheiro marxista Khmer Vermelho, que almejava tomar o poder no Camboja.
A aliança com os EUA resultou na permissão para que os americanos bombardeassem posições vietcongs no território, resultando na morte de civis do próprio Camboja. Esses bombardeios pioraram a situação do governo, pois resultaram em
a) ódio da maioria do povo contra o governo de Lon Nol.
b) ódio da maioria do povo contra os EUA.
c) aumento da influência do movimento do Khmer Vermelho sobre o povo, que aproveitava para insuflar o ódio do povo contra Lon Nol e os EUA...ao mesmo tempo, o Khmer Vermelho tentava passar a ideia de que seriam os “libertadores” do Camboja.
O exército de Lon Nol, mau equipado e mau treinado, foi presa fácil dos guerrilheiros do Khmer Vermelho, os quais tomaram a capital, Phnom Penh, em 17 de abril de 1975.
Sob o regime Khmer Vermelho, estima-se que cerca de 1,7 milhão de pessoas tenham morrido de fome, execuções sumárias, desnutrição, doenças e trabalho escravo. A população cambojana foi submetida a graves abusos de direitos humanos e o país enfrentou décadas de devastação e trauma.
O filme se passa nesse contexto histórico turbulento, narrando a história da família de Loung Ung, enquanto eles lutam pela sobrevivência sob o regime brutal do Khmer Vermelho. Ele oferece uma visão íntima e pessoal dos horrores do genocídio e das consequências devastadoras da ideologia marxista do regime no povo cambojano.

3 - O REGIME E A IDEOLGIA DO KHMER VERMELHO
Tinha uma ideologia comunista radical e empregou um brutal programa de engenharia social, através da expropriação dos bens, deslocamento da população para o campo, censura, repressão política, trabalho escravo, torturas, fome, desnutrição, milhões de mortos, enfim, um  genocídio. .
PRINCÍPIOS MARXISTAS QUE FORAM USADOS PELO KHMER VERMELHO
A - Igualitarismo radical: Em qualquer sociedade é natural que haja desigualdades, pois os seres humanos são desiguais por natureza...mas isso era visto como um problema para o Khmer Vermelho, o qual procurou igualar todos através das seguintes ações:
- expropriação de toda a propriedade privada: tudo passou a pertencer ao Estado
- eliminação do dinheiro
- eliminação de todos aqueles que eram considerados
"inimigos de classe": fazendeiros, intelectuais, professores, artistas, empresários, jornalistas, etc.
B - Coletivização agrícola: Inspirado na ideia de coletivização criada por Marx, o Khmer Vermelho forçou a população ao trabalho escravo nas fazendas coletivas gerenciadas pelos soldados do Khmer. A disciplina brutal resultava em julgamentos e execuções sumárias de todos os que cometiam qualquer ato, incluindo o de comer escondido algumas espigas para tentar matar a fome, que era uma rotina.
C - Ruralização da sociedade: A ditadura do Khmer usou seu povo como cobaias, através de um projeto de engenharia social, que na prática traduziu-se em trabalho escravo, fome, torturas, desnutrição, doenças, miséria, execuções sumárias e milhões de mortos.
D - Autoritarismo centralizado: O regime estabeleceu um governo centralizado e autoritário, com Pol Pot e seus associados exercendo controle absoluto sobre todas as instituições do Estado e da sociedade. Isso refletia a ideia marxista-leninista de um partido de vanguarda que lideraria a revolução e implantaria a ditadura, que no caso não foi uma ditadura do proletariado, pois o país não era industrializado e não havia um comitê de operários como ditadores.

4 - AS ATROCIDADES DO KHMER VERMELHO
O marxismo, através de suas obras "O capital" e "O manifesto comunista" defende a ideia de uma ditadura do proletariado no poder... sendo assim, defende uma ditadura, um regime que não é, nunca foi democrático e nunca será democrático. O termo "ditadura do proletariado" na teoria marxista, criado por Marx e Engels, foi usado para descrever um período de transição entre o capitalismo e o comunismo, durante o qual a ditadura faria reformas sociais, que na prática sempre resultam em expropriações, prisões, censura, perseguições, tortura, eliminação de opositores, etc.
Na ideologia marxistas, a ditadura do proletariado significa uma fase de transição para uma sociedade sem classes. O que Marx não diz é que na prática isso significa o uso da violência governamental para tomar todas as propriedades do povo, todos os meios de produção, concentrando-a nas mãos da ditadura e impondo o povo ao trabalho escravo...quem discorda é preso e eliminado...isso é incompatível com os ideais democráticos e viola todos os direitos humanos fundamentais.
Portanto, é válido afirmar que qualquer regime que use da violência para impor sua vontade e reprimir a oposição está agindo de forma autoritária, independentemente de se autodenominar como uma democracia ou ou uma república popular. O respeito aos direitos humanos e às liberdades individuais deve ser uma preocupação central em qualquer sistema político que se pretenda democrático e justo.

VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS PRATICADAS PELA DITADURA COMUNISTA DO KHMER VERMELHO:
Sob o comando do ditador Pol Pot, entre 1975 e 1979, houve uma série de violações graves dos direitos humanos:
a) Genocídio: O regime almejava eliminar grupos étnicos minoritários, intelectuais, religiosos e outros que fossem considerados uma ameaça à ideologia do partido, resultando em um genocídio que levou à morte de milhões de pessoas.
b) Prisões arbitrárias e execuções em massa: Milhares de pessoas foram presas arbitrariamente e executadas sem julgamento prévio. Muitos foram mortos em campos de extermínio ou forçados a trabalhar até a morte em condições desumanas.
c) Trabalho escravo: O regime forçou a população a trabalhar em campos agrícolas coletivos em condições desumanas. Muitos morreram de fome, exaustão e doenças devido às condições brutais.
d) Restrições à liberdade de expressão e religião: Todas as formas de expressão e religião foram reprimidas. Livros foram queimados, templos religiosos foram destruídos e práticas religiosas foram proibidas.
e) Deslocamento forçado da população: Milhões de pessoas foram deslocadas de suas casas e forçadas a viver em áreas rurais para trabalhar nos campos. Famílias foram separadas e muitos morreram durante o deslocamento.

f) Fim das liberdades individuais: crença, opção política, opinião, imprensa, expressão, direito de ir e vir, tudo foi eliminado.

f) Justiça: a justiça foi extinta e em seu lugar os guerrilheiros do Khmer julgavam, torturavam e matavam qualquer um que considerassem inimigos de qualquer princípio ou orientação da ditadura. Foi assim que eliminaram os pais da protagonista.

5 - LOUNG UNG, A PROTAGONISTA E SUA FAMÍLIA
aos 10 anos de idade, Loung Ung tinha visto mais mortes, desgraças e tragédias do que a maioria das pessoas viu durante toda a vida. Ung foi criada em uma família de classe média alta em Phnom Penh...seu pai, era um oficial militar no governo de Lon Nol...tudo mudou quando em em 17 de abril de 1975, o Khmer Vermelho do ditador Pol Pot invadiu a capital e forçou dois milhões de pessoas a evacua-la. Todos os que resistiram foram baleados e mortos.
O assassinato dos pais
Os pais de Loung Ung, foram mortos pela ditadura devido à sua origem urbana e ao seu passado associado à classe educada e intelectual. Para a ditadura do Khmer Vermelho, os membros da classe urbana, incluindo funcionários do governo, profissionais, educadores e intelectuais, por terem uma educação e cultura influenciadas pelo Ocidente, eram vistos como inimigos do regime e eram alvos de perseguição e execução.
O Khmer Vermelho buscava implementar uma visão radicalmente igualitária da sociedade cambojana, promovendo uma ideologia agrária e anti-intelectual. Eles consideravam a vida urbana e a educação formal como símbolos de corrupção e exploração, e procuravam eliminar qualquer vestígio da antiga ordem social.

Como resultado, muitos dos que tinham origem urbana, educação formal ou associação com o governo anterior foram considerados traidores ou espiões e foram alvo de perseguição, prisão e execução sumária pelo regime do Khmer Vermelho. Os pais de Loung Ung, como muitos outros, foram vítimas dessa política de repressão e violência indiscriminada.

Nos 5 anos seguintes, Ung foi separada de seus pais e irmãos, torturada, presa em cativeiro e obrigada a treinar como criança soldado (aos sete anos). Algum tempo depois, ela, seu irmão e sua cunhada conseguiram fugir para a Tailândia, onde permaneceram em um campo de refugiados até que conseguiram asilo político nos EUA, em junho de 1980. Em 2000, ela publicou suas memórias em um livro intitulado First They Killed My Father.
Loung Ung é uma ativista e professora de direitos humanos... é a porta-voz nacional da Campanha por um Mundo Livre de Minas Terrestres.




domingo, 24 de março de 2024

INTRODUÇÃO À HISTÓRIA - Primeiro ano do ensino médio

INTRODUÇÃO À HISTÓRIA

Origem da palavra história

sua origem é grega e significa de maneira geral "conhecimento que se adquire através da pesquisa". Para os historiadores, o grego Heródoto é considerado o Pai da história: foi provavelmente, o primeiro a escrever sobre eventos de maneira metódica, buscando evidências que comprovassem a veracidade.


Alguns conceitos de História:

A história estuda o ser humano e suas ações ao longo do tempo

A história é o estudo das ações humanas no passado e no presente

A história é a ciência que estuda as ações humanas ao longo do tempo, ou seja, as mudanças e permanências na sociedade


Atribuições da História: O que a história estuda?

-As realizações humanas, independente de serem consideradas boas ou ruins

-As mudanças tecnológicas e comportamentais

-As permanências (aquilo que ao longo do tempo foi preservado, sendo praticado e respeitado por determinada civilização)

-A produção cultural, imaterial e material


Mudanças e Permanências: O que muda de maneira mais rápida: a tecnologia ou os comportamentos?

As mudanças tecnológicas ocorrem de maneira mais rápida do que as comportamentais...isso é explicado pelo desejo humano de ter menos esforço, de procurar mais conforto, mais benefícios, etc.

As mudanças comportamentais ocorrem de maneira mais lenta porque dependem dos usos, costumes, tradições, crenças, etc.

Algumas civilizações mudam de comportamento de maneira mais rápida do que outras...o maior exemplo é quando comparamos a civilização ocidental com a islâmica: a ocidental muda de maneira bem mais rápida na questão dos usos e costumes.

Alguns povos praticamente não mudaram ao longo do tempo devido ao isolamento em que vivem. Temos o exemplo de algumas nações indígenas isoladas na Amazônia brasileira.


A produção cultural

Todo ser humano é um ser cultural...o ser humano produz cultura...Exemplo: é o único ser que cria e utiliza objetos para se alimentar: gás, eletricidade, fogo, grelhas, micro-ondas, talheres, copos, panelas, condimentos, pratos, etc.

Toda a produção cultural humana é imaterial e material

imaterial: antes de materializar-se, ela foi imaginada, pensada, projetada, etc.

material: ocorre quando a ideia se materializa

Exemplos:

-os objetos que o ser humano inventou; primeiramente foram imaginados, depois foram fabricados.

-a casa que alguém sonhou em ter: primeiro ela foi imaginada, depois ela foi construída segundo o que foi projetado.

-a música que alguém compôs: ela existiu primeiro na mente e se materializou quando foram usados instrumentos musicais, partitura, etc.

-samba e frevo fazem parte do patrimônio imaterial do Brasil porque existem primeiramente na mente, traduzem saberes, relações de pertencimento, para sambar ou frevar é preciso primeiro conhecer os passos, ensaiar, etc...e tudo isso ocorre na mente.


Patrimônio Cultural:

Um Povo sem História é um Povo sem Memória...preservar as paisagens, as obras de arte, as festas populares, a arquitetura, a gastronomia ou qualquer outro elemento cultural de um povo, é manter a identidade desse povo.

A produção cultural ao longo do tempo produz um patrimônio imaterial e material, o qual, deve ser preservado. Essa preservação vai depender do grau de importância que cada povo concede ao seu passado. Esse patrimônio faz parte da identidade cultural de um povo, do seu legado, de sua história.

Infelizmente, o Brasil não valoriza seu rico patrimônio histórico (museus, parques históricos e naturais, etc), fato que resulta em descaso e depredação.

Alguns dos motivos para esse descaso são:

- Falta de investimentos públicos na manutenção e valorização do patrimônio: O Estado, seja ele federal, estadual ou municipal pouco investe na valorização e preservação do patrimônio histórico. O Estado também não investe na educação...A educação para a preservação do patrimônio histórico é essencial para garantir que as futuras gerações compreendam a importância desse legado e se engajem na sua proteção. É preciso investir em programas educativos que despertem o interesse das crianças e jovens pela história e pela cultura, que ensinem a importância de preservar os bens materiais e imateriais, e que incentivem a participação da comunidade na proteção do patrimônio.

- Falta de educação patrimonial da população, a qual não recebe a devida instrução no sentido de valorizar o seu patrimônio histórico: a maioria desconhece e não tem interesse em preservar, justamente por não ter a devida educação patrimonial e por isso vandaliza, picha e destrói. O maior exemplo já começa na escola, onde muitos estudantes não reconhecem nem a valorizam como parte do patrimônio: picham as paredes e mesas, quebram ou empenam cadeiras e bancas, destroem os banheiros, etc. A educação patrimonial é uma ferramenta para valorizar a cultura e os aspectos que caracterizam a sociedade e o local de vida da comunidade


A Memória Coletiva

É um conjunto de fatos e lembranças que compõem a identidade de um povo. Ela é construída a partir das interações entre os indivíduos e grupos, e é transmitida através das gerações por meio da oralidade, da escrita, da música, da arte e de outras formas de expressão cultural.

A preservação da memória coletiva de um povo em relação ao seu passado é de importância vital para a construção e manutenção da identidade cultural, social e histórica de uma nação. Essa memória coletiva, que abrange tradições, histórias, costumes, conhecimentos e experiências compartilhadas, desempenha um papel fundamental em diversos aspectos da vida de uma sociedade. São componentes da memória coletiva:

1. Identidade Cultural: Ao preservar e transmitir histórias e tradições de geração em geração, uma sociedade mantém vivas suas raízes e características únicas. Essa identidade cultural cria um senso de pertencimento e continuidade, reforçando os laços entre os membros da comunidade e promovendo um entendimento profundo do que significa fazer parte daquele grupo. Exemplos de identidade cultural de algumas regiões do Brasil:

Nordeste: festas juninas, frevo, forró, axé, maracatu, bumba-meu-boi

Sudeste: Festas do divino, peão de boiadeiro, samba, caiapó, folia de reis e jongo

Região Sul: Oktoberfest, Festa da Uva, fandango, milonga, chimarrão, Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, etc.

2. Coesão Social: A preservação da memória coletiva promove a coesão social ao criar uma narrativa compartilhada que une os indivíduos em torno de uma história comum. Celebrações, rituais e eventos históricos fortalecem os laços sociais e incentivam a solidariedade e o apoio mútuo.

3. Patrimônio e Herança: A memória coletiva é um componente essencial do patrimônio e da herança de uma nação. Monumentos, documentos históricos, arte, literatura e outras formas de expressão cultural preservam a rica cultura de um povo.


As diferentes identidades culturais: O Brasil, com dimensões continentais, abriga uma multiplicidade de identidades culturais que se manifestam de maneira distinta em cada região do país. Essa diversidade é resultado de uma rica tapeçaria de influências indígenas, africanas, europeias e asiáticas. Mesmo sendo diferentes, há alguns elementos que são comuns e servem para identificar aquilo que seria a identidade cultural brasileira: a língua portuguesa, o carnaval e o futebol (os três elementos são comuns em todo o território brasileiro). 


Para que serve a História? por que estudar história?

-O estudo da história não tem o poder de salvar a humanidade dos erros do passado, nem pode impedir que o ser humano os repita. Se assim fosse, não teríamos, por exemplo, o erro que milhares de pessoas cometem ao enveredar pelo caminho das drogas ou do alcoolismo, mesmo sabendo que são caminhos de desgraça. O estudo da história também não pode evitar que as pessoas elejam e reelejam governantes corruptos e demagogos.

- O estudo da história serve como um aviso, um alerta sobre os perigos de se repetir erros. O sábio aprende com os erros alheios, o inteligente aprende com os próprios erros, o insensato não aprende e geralmente não reconhece que está errado.

A história nos auxilia a compreender o que a humanidade construiu ao longo de sua existência e o que os diversos povos contribuíram em termos intelectuais, culturais e materiais.

Compreensão do Passado: Estudar história nos permite entender como as sociedades evoluíram ao longo do tempo, compreendendo os eventos e processos que moldaram o mundo moderno.

Valorização das Conquistas: Conhecer as grandes conquistas e inovações do passado nos ajuda a valorizar e apreciar os avanços tecnológicos, científicos e culturais.

Construção da Identidade: A história é fundamental para a construção da identidade individual e coletiva, proporcionando um senso de pertencimento e continuidade.

Desenvolvimento do Pensamento Crítico: Estudar história estimula o pensamento crítico, pois exige a análise e interpretação de fontes e eventos complexos.

Compreensão das Diferenças Culturais: A história nos permite entender e respeitar as diversas culturas e tradições ao redor do mundo, promovendo a tolerância e a empatia.

Informação para a Tomada de Decisões: Conhecer o passado fornece uma base sólida para tomar decisões informadas no presente e no futuro, seja em nível pessoal, social ou governamental.

Preservação da Memória Coletiva: A história preserva a memória coletiva de uma sociedade, mantendo vivas as tradições, experiências e conhecimentos acumulados ao longo do tempo.

Inspiração e Motivação: A história está repleta de histórias inspiradoras de coragem, resiliência e inovação que podem motivar e encorajar as pessoas a superar desafios e buscar seus objetivos.

-Entender a realidade: através do estudo da história podemos entender como o passado influenciou o presente e porque a realidade do Brasil é a de um país subdesenvolvido.

-Ampliação das fronteiras da imaginação e enriquecimento do vocabulário.

-Ampliar o horizonte de nossa consciência e evitar a visão provinciana (aquela que acha que a nossa cultura e valores são superiores aos dos outros povos).

-Entender as estruturas econômicas, sociais, políticas, religiosas, ideológicas e jurídicas das sociedades ao longo do tempo.


O USO DA HISTÓRIA / QUEM USA A HISTÓRIA

Não são apenas os historiadores que a usam. Todos nós usamos a história diariamente, quando estamos conhecendo e repassando os acontecimentos da nossa casa, da escola, da vizinhança, do trabalho, da cidade, do estado, do país e do exterior, desde os mais simples até os mais complexos.

-Há outras áreas do conhecimento que usam (ou deveriam usar) princípios da história, mesmo que seus profissionais não tenham a formação nesta área. Exemplos:

-o investigador policial e o perito criminal a usam como base de seu trabalho, através de várias técnicas de investigação.

-Advogados de defesa e promotores devem utilizar a história de maneira séria e estratégica em seus trabalhos para fortalecer seus argumentos e melhor representar seus clientes ou o estado

-O jornalista sério usa a história através da verificação da veracidade das informações, não se deixando levar por suas preferências políticas, ideológicas, etc. Da mesma maneira devem proceder o escritor, o cineasta, o professor, etc.

Todas as áreas do conhecimento possuem sua própria história: história da física, da química, da matemática, da medicina, da engenharia, etc.


AS FONTES HISTÓRICAS
São documentos, objetos, textos, sons, etc., os quais possuem informações importantes sobre algum período da história, sendo indispensáveis para que se estude o passado.

Tipos de Fontes históricas

a) escritas: textos, discursos, leis, decretos, etc., os quais foram escritos em argila, papiro, pergaminho, pedra, papel, digital, etc. 

b) orais: depoimentos, entrevistas, gravações, relatos e histórias contadas por pessoas...incluem-se também as lendas e as tradições que uma geração passa para a outra.

c) Fontes Diretas ou Primárias: As fontes diretas, também conhecidas como fontes primárias, são documentos, objetos ou testemunhos originais que foram criados ou registrados no momento em que os eventos históricos ocorreram. Essas fontes são fundamentais e fornecem evidências diretas e contemporâneas sobre os acontecimentos, as pessoas e os lugares estudados. Alguns exemplos:

Documentos Escritos: Diários, cartas, contratos, registros oficiais, leis, tratados, manuscritos e jornais contemporâneos aos eventos.

Artefatos: Objetos como ferramentas, roupas, moedas, móveis e armas que foram usados na época.

Registros Visuais e Sonoros: Fotografias, filmes, gravações de áudio e vídeos que capturam eventos em tempo real.

Depoimentos Orais: Entrevistas, relatos e testemunhos de pessoas que vivenciaram os eventos históricos.

As fontes diretas são valiosas porque permitem aos pesquisadores obter uma visão mais precisa e detalhada dos eventos e contextos históricos.


Fontes Indiretas ou Secundárias: As fontes indiretas, também chamadas de fontes secundárias, são análises, interpretações e sínteses de informações baseadas em fontes diretas. Essas fontes são produzidas após os eventos e geralmente por pessoas que não foram testemunhas diretas dos acontecimentos. Alguns exemplos de fontes indiretas incluem:

Livros e Artigos Acadêmicos: Obras escritas por historiadores, pesquisadores e acadêmicos que analisam e interpretam eventos históricos com base em fontes primárias.

Ensaios e Resenhas: Textos críticos que discutem e avaliam trabalhos acadêmicos e outras obras relacionadas aos eventos estudados.

Documentários, filmes e programas de tv: Produções audiovisuais que reconstroem e interpretam eventos históricos com base em pesquisas e entrevistas.

Enciclopédias e Dicionários: Obras de referência que compõem informações de diversas fontes para fornecer uma visão geral sobre determinados temas.


d) Fontes Imagéticas: referem-se às imagens, gravuras, desenhos, pinturas, esculturas, filmagens, mosaicos, vídeos, grafitagens, etc. Na pré-história o ser humano já desenhava nas paredes das cavernas as gravuras rupestres.

e) Fontes materiais: são os vestígios físicos das atividades de pessoas humanas. Por exemplo: roupas, móveis, utensílios, ferramentas, armamentos, etc... incluem-se também os objetos e os sítios arqueológicos, fósseis, etc.


O Tempo e a História:

1 - Anacronismo: significa a interpretação do passado realizada a partir de um contexto social, político e cultural diferente e distante daquele em que ocorreram os eventos. É um erro de temporalidade onde eventos, objetos ou interpretações de uma determinada época são aplicados incorretamente a outra. Isto ocorre quando alguém interpreta o passado a partir de valores, conhecimentos, contextos sociais, políticos e culturais contemporâneos, que são diferentes daqueles que estavam presentes no período em questão. Esse tipo de análise pode distorcer a compreensão histórica, criando uma imagem imprecisa ou tendenciosa dos eventos passados. Hoje, todos nós criticamos com razão o colonialismo e a escravidão sem considerar que, durante milênios a escravidão, a exploração, a invasão, a guerra e a conquista de novas terras eram consideradas legítimas por diversos povos. Essas práticas consideradas absurdas nos dias atuais eram considerados normais pelos povos do passado, pois os mesmos viviam em um contexto totalmente diferente do nosso.

Interpretar eventos históricos fora de seu contexto original pode levar a mal-entendidos significativos. Julgar práticas sociais de civilizações antigas com base nos padrões éticos e morais de hoje pode resultar em uma visão distorcida sobre a complexidade de outras culturas e épocas. Para evitar anacronismos, é essencial que historiadores e estudiosos mantenham uma perspectiva crítica e contextual ao analisar documentos, artefatos e eventos históricos. Isso não significa que estamos defendendo aquilo que é considerado injusto, desumano ou cruel, mas estamos entendendo o seu contexto cultural, político e histórico...ou seja, não se está defendendo nem a escravidão nem a colonização...significa que, tendo como base diversos contextos (religioso, cultural, político, etc.), entendemos porque aquilo que se praticava.


2 - Tempo Cronológico: refere-se à contagem do tempo a partir de eventos marcantes para algumas civilizações. Esses eventos resultaram na criação de CALENDÁRIOS. Abaixo, temos dois dos mais famosos calendários são:

a) Gregoriano: também conhecido como cristão ou ocidental, é o calendário usado atualmente pela maioria dos países, incluindo o Brasil. Tem como base o nascimento de Jesus Cristo...sendo assim, a contagem do tempo é dividida em antes e depois de Cristo.

b) Judaico ou Hebraico: tem como base a criação do mundo de acordo com a tradição religiosa. Em 2024, o calendário hebraico corresponde aos anos 5784 e 5785; o ano 5784 começou no dia 15 de setembro de 2023 e termina no dia 2 de outubro de 2024.


3 - Tempo Histórico: tem como base os eventos considerados mais importantes para a história de cada povo, os quais são adotados como datas comemorativas. Exemplos:

a) Independência do Brasil: 07 de setembro

b) Revolução Francesa: 14 de Julho

c) Independência dos EUA: 04 de Julho


4 - Tempo de Natureza: é o tempo que alguns povos usam para orientar suas atividades produtivas e suas celebrações, através da observação do clima e das estações do ano... geralmente são povos isolados, nações indígenas.


5 - Tempo de Fábrica: é o tempo mais utilizado no mundo, pois tem como base a hora, a carga horária para a realização de diversos tipos de atividades: aulas, treinamentos, trabalho, diversão, etc.


6 - Tempo de Informática: é a modalidade mais recente de uso do tempo, o qual inovou a partir da dispensa da presença física dos envolvidos. O maior exemplo são as aulas, treinamentos e atividades realizadas à distância, sem a necessidade da presença física dos envolvidos. Pilotar drones militares, participar de conferências e realizar cirurgias à distância já é uma realidade.


7 - Tempo de curta duração: refere-se a um evento que tem data para iniciar e terminar. 

Exemplos: As Olimpíadas e a Copa do mundo de futebol.


8 - Tempo de Média duração: são eventos que dependem de um contexto histórico tanto para iniciar quanto para terminar. Sua duração é variável. Exemplo:

- o processo da independência do Brasil, que levou 14 anos, tendo iniciado com a transferência da Corte em 1808 e terminado com o evento do "grito" de independência de Dom Pedro às margens do riacho do Ipiranga, em 1822.


9) Tempo de Longa Duração: são eventos históricos tão comuns que já se incorporaram ao cotidiano da vida de um povo. Exemplos:

- a república, nos países que são republicanos

- o cristianismo, nos países que são cristãos

- a monarquia, nos países que são monárquicos

- o islamismo, nos países que são islâmicos.

Observação importante: para não haver confusão, é preciso distinguir os eventos de longa e média duração:

exemplos:

- a república brasileira é um evento de longa duração, entretanto, o processo do golpe que implantou a república é um evento de média duração

- o Brasil independente é um evento de longa duração, entretanto, o processo da independência é um evento de média duração.


10 - Tempo cíclico: é o tempo que se repete, de maneira rápida ou lenta. Na vida pessoal, ocorre diariamente: acordar, tomar café, sair para estudar ou trabalhar, voltar para casa, etc. Na história econômica dos povos, há ciclos de crescimento econômico e ciclos de recessão e desemprego. Alguns países pobres da África e do Oriente Médio experimentam ciclos de conflito e paz, caracterizados por períodos de instabilidade seguidos por fases de relativa calma. No entanto, é crucial notar que a "paz" nesses contextos muitas vezes não significa estabilidade plena, mas sim uma ausência de conflitos em larga escala.


11 - Tempo Linear: é o tempo caracterizado por uma sucessão de eventos que não se repetem. De maneira geral, a historiografia moderna se baseia na concepção linear do tempo histórico. É  importante ressaltar que essa não é uma visão unânime e que a ideia de tempo cíclico também aparece em diferentes contextos e interpretações da história, como já citamos.


Exemplos de tempo linear:

a) nosso tempo de vida biológico: nascimento, crescimento, envelhecimento, morte

b) nossa evolução do conhecimento: ensino fundamental, médio, superior, pós graduação, etc.

c) nossa evolução profissional: o tempo em que a pessoa passou em cada empresa, as promoções, as mudanças de emprego, etc.

d) a história dos povos ao longo do tempo: Cada país, ao analisar seu passado, o faz linearmente, buscando entender como eventos, personagens e processos históricos o levaram ao presente.

e) O cristianismo ensina que o tempo tem um começo e um fim. A narrativa de Gênesis (o começo) e do Apocalipse (o fim) é um exemplo dessa visão

f) a história da evolução tecnológica: da pedra lascada aos grandes avanços da ciência nos dias atuais.


Exercícios (sem valer nota, apenas para melhorar o aprendizado)

01 - diante de uma notícia ou uma informação, seja na internet ou na tv nosso papel deve ser*
a) acreditar fielmente
b) desacreditar sem procurar saber se é verdade
c) verificar se é verdade ou não
d) duvidar e acreditar ao mesmo tempo
e) abcd estão incorretas

02 - Sobre conceitos e atribuições da história, analise as afirmações e assinale a correta*
a) está voltada preferencialmente para o estudo dos grandes fatos políticos, com destaque para a biografia dos governantes.
b) não há uma preocupação com a investigação dos eventos históricos, pois atualmente o mais importante é a compreensão global da história.
c) diferentemente do que ocorreu no século XX, a história atual procura ter um novo olhar crítico, desvinculado das demais ciências humanas.
d) O estudo das fontes e a crítica dos documentos são partes fundamentais do processo de produção historiográfica.
e) tudo pode e deve ser criticado o tempo todo, mesmo que sejam críticas anacrônicas, infundadas ou superficiais.

03 - Analise os eventos abaixo e assinale os que se são classificados como tempo de média duração:*
a) Revolução Pernambucana de 1817 e as Olimpíadas
b) Independência do Brasil e a Copa do mundo de Futebol
c) II Guerra mundial e Independência do Brasil
d) O 11 de setembro e a independência do Brasil
e) a monarquia inglesa e a Revolução francesa

04 - Sobre a questão do Anacronismo na história, podemos afirmar que o correto é
a) estudar e interpretar o passado a partir dos nossos valores e conceitos atuais.
b) estudar o passado a partir de seu contexto cultural, político e social, mesmo não concordando, mas entendendo que eram tempos bem diferentes dos dias atuais
c) ter uma visão atualizada do passado, mesmo sendo desconexa com o conjunto de valores e ideias daquela época
d) abc estão corretas
e) abc estão incorretas

05 - É considerado como evento de Longa duração
a) o processo histórico da independência do Brasil
b) o golpe militar que implantou a república
c) o cristianismo no Brasil
d) abc estão corretas
e) abc estão incorretas

06 -  Sobre patrimônio cultural, assinale a alternativa FALSA:
a) A preservação da cultura de um povo depende da proteção que se dá ao seu patrimônio material e imaterial
b) A proteção da cultura material e imaterial depende exclusivamente dos governantes.
c) O patrimônio histórico é um legado deixado pelos mais velhos para as novas gerações.
d) O que determina se um bem cultural será ou não um patrimônio cultural são a sua importância e contribuição para a cultura e história de um povo.
e) abcd estão incorretas

07 - Assinale abaixo a afirmação correta sobre patrimônio material
a) as lendas, músicas, canções e narrativas.
b) as expressões e movimentos artísticos.
c) os instrumentos, objetos e vestimentas.
d) as técnicas de artesanato e saberes orais.
e) abcd estão incorretas

08 - Assinale abaixo a afirmação correta sobre onde se usa a história:
a) apenas na sala de aula
b) apenas nos museus
c) em diversas áreas: jornalismo, polícia, sala de aula, tribunal, etc.
d) apenas nas redações dos telejornais e na internet
e) apenas quando se fala da vida dos outros