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domingo, 21 de maio de 2023

GUERRA DOS MASCATES (1710-1711)

A Guerra dos Mascates foi um conflito ocorrido no início do século XVIII, mais especificamente entre 1710 e 1711. O conflito foi consequência da crescente tensão entre a antiga e decadente elite açucareira instalada em Olinda, que via seu poder e influência diminuírem, e a emergente burguesia mercantil de Recife, composta principalmente por comerciantes portugueses, apelidados pejorativamente de "mascates" pelos olindenses. A faísca que acendeu o barril de pólvora foi a elevação de Recife à categoria de vila, um ato que concedeu autonomia política à cidade e quebrou a subordinação a Olinda, gerando a revolta dos olindenses.
Causas do Conflito

a) As dificuldades da economia açucareira: 
A Insurreição Pernambucana, que culminou na expulsão dos holandeses, deixou um rastro de destruição na principal atividade econômica da capitania: a produção de açúcar. Engenhos foram incendiados, lavouras devastadas e, fundamentalmente, houve uma significativa perda de mão de obra escrava.
b) A reconstrução dos engenhos exigiu investimentos vultosos: os donos de engenho tiveram que recorrer a empréstimos para reerguer suas propriedades, obter mão de obra e reativar a produção. Sendo assim, os donos de engenhos estavam bastante endivididados, principalmente dos ricos comerciantes e agiotas instalados no Recife, a quem recorreram para obter crédito. Essa relação se tornou cada vez mais desfavorável aos senhores de engenho. As dívidas acumuladas, muitas vezes com juros exorbitantes, os colocavam em uma posição de subordinação econômica em relação aos comerciantes. 
c) A inversão do poder econômico: Recife, mesmo subordinada a Olinda, era mais poderosa economicamente. Essa inversão de poder gerou um profundo ressentimento na elite olindense. Eles viam sua antiga hegemonia ruir diante da ascensão dos comerciantes, a quem consideravam socialmente inferiores e meros "aventureiros". A riqueza gerada pelo comércio e pela atividade financeira em Recife contrastava com a crescente dificuldade dos senhores de engenho em manter seus privilégios e sua influência. 
d) A Ascensão de Novos Produtores de Açúcar: a saída dos holandeses do Brasil em 1654 não significou o fim de sua participação no mercado açucareiro. Pelo contrário, eles levaram consigo as técnicas de produção e passaram a produzir açúcar nas Antilhas Holandesas. Além disso, outras potências coloniais, como Espanha (em Cuba), França (no Haiti) e Inglaterra (na Jamaica), também investiram pesadamente na produção de açúcar em suas colônias caribenhas. Esses novos centros produtores representavam uma ameaça direta ao monopólio e à hegemonia brasileira no mercado açucareiro global. 
e) Vantagens Competitivas dos Novos Produtores: Proximidade Geográfica: As colônias do Caribe estavam geograficamente mais próximas dos principais mercados consumidores europeus. Isso resultava em custos de frete significativamente menores para o açúcar produzido nessas regiões. 
f)Tecnologia e Eficiência: Os holandeses, em particular, e posteriormente outros países, introduziram melhorias nas técnicas de produção e refino do açúcar em suas colônias, aumentando a eficiência e, por vezes, a qualidade do produto. 
g) Preços Mais Competitivos: Com custos de produção e, especialmente, de transporte mais baixos, o açúcar do Caribe e das Antilhas era vendido na Europa por preços mais competitivos do que o açúcar brasileiro.
h) Impacto na economia açucareira brasileira: A maior oferta de açúcar no mercado internacional, somada à concorrência de produtores mais eficientes e com fretes mais baratos, levou a uma queda acentuada no preço do açúcar brasileiro. 
Essa queda de preços significava menor lucro para os senhores de engenho de Pernambuco, que já enfrentavam o custo da reconstrução de seus engenhos e a compra de novos escravizados após a Insurreição Pernambucana. 
i) Poder e Ostentação: Os senhores de engenho viviam um estilo de vida luxuoso, ao ponto de serem considerados como a "nobreza da terra" : o engenho não apenas como uma fonte de renda, mas como um símbolo de status e poder social e político. Acostumados a vender seu produto com margens de lucro elevadas e sem grandes desafios de mercado, eles tinham dificuldades em entender que os tempos eram outros 
j) Adaptação aos novos tempos: Para que o açúcar pernambucano continuasse competitivo, seria necessário reduzir drasticamente os custos de produção para compensar o frete mais elevado. Isso implicaria em: 
Modernização dos Engenhos: Investimentos em novas técnicas e equipamentos para aumentar a eficiência da produção.
Gestão Mais Rigorosa: Controle de gastos, otimização da produção, diminuição do estilo de vida ostentatório, etc. 
k) Elevação do Custo da mão de obra escrava: Além disso, o custo do tráfico negreiro estava elevado devido ao início do ciclo da mineração, fato que elevou bastante o preço dos escravos. 

Causas do crescimento do Recife:
- 
Tendo um porto privilegiado, o Recife naturalmente se tornou o centro das atividades mercantis da capitania. Era através do porto que se exportava toda a produção açucareira. Todo o açúcar produzido nos engenhos, tanto os de Olinda quantos os de outras localidades, precisava ser escoado pelo porto do Recife para ser enviado à Europa, dando aos comerciantes recifenses grande controle sobre essa cadeia de suprimentos. 
- Ao mesmo tempo, era através do porto que se importavam escravos, manufaturas, tecidos, armamentos, alimentos, etc., tudo passava pelo porto do Recife.
- Naquela época, a economia pernambucana era  profundamente marcada pela monocultura da cana-de-açúcar. A busca por maximizar a produção de açúcar levou à destinação da vasta maioria das terras férteis para o plantio da cana. Consequentemente, a produção de alimentos básicos era pequena.  Isso gerou uma crítica dependência da importação de alimentos de outras capitanias (como a Bahia e o Sul do Brasil) ou até mesmo de Portugal. Grãos, carnes, farinhas e outros gêneros essenciais para alimentar a população (colonos e escravizados) precisavam ser trazidos de fora. Esta dependência externa de alimentos conferia aos comerciantes do Recife um poder imenso: eles controlavam não apenas a exportação do açúcar, mas também a importação de tudo o que era necessário para a vida diária.
os comerciantes enriqueceram ao ponto de emprestar dinheiro aos senhores de engenho, cobrando elevados juros.
-Junto com a decadência havia a inveja da aristocracia açucareira, que passou a apelidar os comerciantes (que em sua maioria eram portugueses) de mascates.

Poder econômico X Poder Político: os comerciantes tinham poder econômico, mas não o político: dependiam das decisões da Câmara de Olinda, a qual estava nas mãos dos donos de de engenho. As decisões da Câmara pouco ou nada favoreciam o Recife. Todos os impostos eram recolhidos em Olinda. Diante dessa situação desfavorável, os recifenses fizeram chegar ao rei de Portugal suas queixas, o qual, em 1703 autorizou o direito do Recife de ter  representantes na Câmara. Na prática, essa decisão não resultou em nenhuma medida positiva, pois os donos de engenhos eram maioria na Câmara e aprovavam tudo o que quisessem.
O Estopim da guerra:
insatisfeitos, os recifenses apelaram ao rei Dom João V para que emancipasse o Recife. 
A emancipação ocorreu em 1709, quando o rei assinou o alvará régio que elevou o Recife à condição de vila, tornando-o administrativamente independente de Olinda. Essa medida foi vista como uma afronta pelos senhores de engenho olindenses, pois perderiam perder político e econômico.
- sendo elevada à condição de vila, Recife ganhava o direito de ter uma câmara municipal própria e não pagaria mais impostos à Olinda. De imediato, os recifenses mandaram erguer um pelourinho. 
Por que os olindenses (donos de engenho) não aceitavam essa decisão?
a) porque deixariam de receber os impostos dos recifenses
b) porque perderiam poder econômico e político
c) porque os vereadores da Câmara do Recife, com o apoio do governador, poderiam decretar a execução de suas dívidas com os "mascates"
d) porque Olinda deixaria de ser a sede do governo da Capitania

A Revolta dos Olindenses:
Revoltados com a separação e a perda de poder, os olindenses decidiram partir para a violência, destruindo o pelourinho em 1710. 
O capitão olindense, Bernardo Vieira de Melo era um dos revoltados e teria bradado pela primeira vez o grito de república, no Senado de Olinda...mesmo assim, essa revolta não foi separatista, mas uma revolta de insatisfação da aristocracia açucareira contra toda a situação que lhes era desfavorável...na esteira dos acontecimentos, os olindenses ainda tentaram matar o governador Sebastião de Castro Caldas, acusado de favorecer os recifenses. Ferido,  Caldas partiu para Salvador.

O Bispo de Olinda no poder: os olindenses, reunidos na Câmara, empossam o bispo de Olinda, dom Manuel Álvares da Costa como novo governante da capitania.O bispo decretou o perdão geral.
A fase da guerra: os recifenses partiram para o revide: destruíram engenhos e prenderam  lideranças olindenses, dentre eles, Bernardo Vieira de Melo e o bispo dom Manuel. A reação de Olinda foi arregimentar tropas para cercar o Recife.

A Intervenção portuguesa:
 Ao saber das notícias vindas do Brasil, a coroa portuguesa decidiu enviar tropas e um novo governador, Félix José de Mendonça, o qual chegou afirmando ser neutro em relação ao conflito...entretanto, após assumir o governo da capitania, favoreceu os mascates e mandou prender mais de 150 pessoas, acusadas de rebelião, separatismo e planejamento de um atentado.
O Final do conflito: Em 1712, Recife é elevada à condição de vila, ganha autonomia, passa a ter sua própria Câmara; Bernardo Vieira de Melo e seu filho André Vieira de Melo são enviados presos para Lisboa, onde são julgados, condenados e presos. Em 1714, o rei Dom João V anistiou os envolvidos e perdoou as dívidas dos senhores de engenho olindenses.
Em 1823, Recife é elevada à condição de cidade e em 1827 tornou-se a capital da província de Pernambuco. 
Olinda na atualidade: Há muito tempo que Olinda deixou de produzir açúcar. Com o passar do tempo, seu imenso território foi sendo subdividido em novas cidades. Hoje, em termos de área, Olinda é a menor cidade da região metropolitana do Recife e a terceira menor do Estado de Pernambuco. Por outro lado, sendo Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO (desde 1982), Olinda atrai grande número de turistas, fato que favorece o turismo, o comércio, a hospedagem, o artesanato, etc. Olinda tornou-se conhecida também como uma cidade da festa, através de seu famoso carnaval que atrai milhares de foliões e gerando uma movimentação econômica significativa para o setor de serviços, hotelaria, gastronomia e comércio.

quarta-feira, 10 de maio de 2023

EXPANSÃO TERRITORIAL E CICLO DA MINERAÇÃO

Entre os séculos XVII e XVIII, o Brasil mais que duplicou o tamanho do seu terrritório...o Brasil tornou-se a maior colônia portuguesa e se transformaria no quinto maior país do mundo após sua independência no século XIX.














Causas da Expansão Territorial
- A União Ibérica (1580-1640):
Mesmo não tendo sido extinto o Tratado de Tordesilhas, a união das coroas facilitou as investidas luso-brasileiras no território além da linha do tratado, principalmente através da ação de alguns protagonistas.


Protagonistas da Expansão

As Entradas
Ao tomar posse da América portuguesa, Portugal se deparou com um imenso território onde imaginava encontrar ouro de imediato, assim como aconteceu com os espanhóis no México. Nos primeiros anos da colonização, Portugal financiou expedições chamadas de Entradas, as quais eram geralmente comandadas por militares, com objetivos diversos tais como a expansão do território, a procura por pedras e metais preciosos, drogas do sertão (eram especiarias amazônicas utilizadas na área medicinal e na gastronomia, tais como o guaraná, o anil, a salsa, o urucum, pau-cravo, gergelim, cacau, baunilha,  castanha-do-pará, etc., que eram comercializados tanto na colônia quanto no exterior), ou qualquer coisa que fosse lucrativa.

- Os Militares: realizaram expedições principalmente na Amazônia, uma imensa região pouco explorada pelos espanhóis. Os militares mapearam, expulsaram invasores (holandeses, franceses e ingleses), e construíram fortalezas. O maior destaque foi o português Pedro Teixeira, que passou para a história como o conquistador da Amazônia: em outubro de 1637, cumprindo ordens do governador da capitania do Grão-Pará, Jácome Raimundo Noronha, liderou uma expedição fluvial que conseguiu chegar à cidade de Quito, no atual Equador, em outubro de 1638.

- Os Jesuítas: fundaram diversas missões pelos sertões do Brasil, principalmente em direção ao sul do Brasil, onde catequizavam e defendiam os indígenas contra as investidas dos bandeirantes. É importante frisar que as missões (ou reduções) não tinham como objetivo a expansão territorial em si, mas sim a catequese e a proteção dos indígenas contra as tentativas de escravização. Os jesuítas foram alvo de conflitos com as autoridades coloniais, que viam nelas uma ameaça ao controle do território e à mão de obra escrava indígena.

- Os Criadores de Gado: foram responsáveis por desbravar e ocupar vastas áreas dos sertões da Bahia, Ceará, Piauí, Pernambuco, Maranhão, Mato Grosso, etc. Foram eles os principais protagonistas da incorporação do sul do Brasil ao território da América portuguesa.

- Os Paulistas ou Bandeirantes:
antes do ciclo da mineração, a economia da atual região sudeste era inferior à do Nordeste. Na capitania de São Vicente, seu litoral estreito dificultava a expansão agrária. Para os que produziam acima da serra do mar, ou seja, no planalto, havia a dificuldade de levar a carga através da serra até chegar ao litoral. Sendo assim, havia um certo isolamento de quem vivia no planalto. Esse isolamento levou os paulistas a se especializarem em explorar os sertões, em busca de índios e de metais ou pedras preciosas. Essas explorações foram chamadas de Bandeiras e os paulistas ficaram conhecidos também como bandeirantes. Havia três tipos de Bandeiras:
a) Bandeira de Prospecção ou exploração: procuravam encontrar metais e pedras preciosas.
b) Bandeira de Preação ou apresamento: eram destinadas à captura e comércio de indígenas.
c) Bandeira de Contrato: prestavam serviços de captura de índios, escravos fugidos, localização e aniquilamento de quilombos, etc.

Bandeirantes: Heróis ou vilões?

 

 








No final do século XIX e em boa parte do século XX, os bandeirantes eram retratados como heróis, os principais agentes da expansão territorial do Brasil. Entretanto, pesquisas mais recentes mostraram um lado cruel, o de caçadores de índios e exterminadores de quilombos.  Em nossos livros didáticos o bandeirante é retratado dessas duas formas: herói por um lado e vilão por outra.

Quem foram os bandeirantes / Os riscos do bandeirismo

a maioria era pobre, falava a língua geral (o tupi), eram mamelucos, criados com a mãe índia, andavam descalços e usavam roupas muito simples.
A atividade bandeirante (ou bandeirismo) era arriscada: estava sujeita às doenças tropicais, aos ataques de animais selvagens e dos indígenas...além disso, nem sempre os mantimentos que levavam eram suficientes; quando acabavam, era necessário alimentar-se de caça e coleta...entretanto, a possibilidade de melhorar de vida atraía muita gente, principalmente os mais pobres, que não tinham muita escolha.
A bandeira de prospecção, que eram as maiores, era composta também pelo pessoal de apoio, ou seja, os ajudantes ou auxiliares responsáveis por tarefas como transportar suprimentos, construir acampamentos e fortificações temporárias, além de outras atividades necessárias para a sobrevivência e sucesso das expedições.
Muitos índios também eram atraídos para essas bandeiras por motivos que iam da vingança contra inimigos até o desejo de obter ferramentas, tecidos, riquezas e até proteção contra  ataques de outros grupos indígenas.


O tamanho das bandeiras era variável: 
-as menores tinha em torno de 40 integrantes, com destaque para as bandeiras de preação.
-as de porte médio, entre 50 a 200 homens
-as de grande porte, podiam contar até com 300 ou mais homens.

Bandeiras de Preação ou Apresamento ou Captura: geralmente eram de tamanho pequeno porque sua estratégia era o ataque surpresa, a emboscada e a rapidez para fugir levando os prisioneiros. Em média tinham entre 30 e 50 componentes. Não podiam ser mais numerosas para não chamar a atenção dos indígenas. Muitas vezes, entre seus integrantes havia também indígenas aliados (como os Tupiniquins ou Guaranis), que conheciam as rotas e aldeias-alvo.
Expedições de captura com mais de 50 homens ocorriam quando havia resistência organizada (como tribos guerreiras ou missões jesuíticas fortificadas).

Alguns dos bandeirantes mais famosos foram: Fernão Dias Paes Leme, Manuel de Borba Gato, Antonio Raposo Tavares, 
Bartolomeu Bueno da Silva (Anhanguera), Domingos Jorge Velho, Manuel Preto, Nicolau Barreto, Antonio Rodrigues de Arzão (considerado o primeiro bandeirante que descobriu ouro).

A Descoberta de ouro e a onda migratória
Na última década do século XVII, os bandeirantes descobriram ouro na região norte da capitania de São Vicente (atual Minas Gerais). Por terem descoberto, achavam-se os únicos com direito a garimpa-lo....entretanto, a divulgação da notícia provocou intensas ondas migratórias de pessoas vindo de várias partes do Brasil e também de Portugal, passando a disputar com os paulistas o direito de garimpar.

A Intervenção Portuguesa
Em 1702, ao saber de que havia muito ouro na colônia, Portugal interveio nas regiões mineradoras, criando a Intendência das Minas, órgão responsável pela administração, fiscalização, policiamento, cobrança de impostos e justiça. A Intendência era responsável também pela divisão das áreas de mineração, conhecidas como datas. A Intendência criou também as Casas de Fundição, local para onde todo o ouro garimpado era obrigatoriamente levado pelo dono, era cobrado o imposto chamado de O quinto, após o ouro ser derretido e transformado em uma barra.

A Guerra dos Emboabas (1707  a 1709): Causas:
-A descoberta do ouro atraiu um grande número de pessoas à região, criando uma disputa  pela exploração dos garimpos. 
- A chegada dessas multidões tinha o apoio do governo português, entretanto provocou muitos atritos com os paulistas, que sentiam-se ameaçados no seu domínio. Os paulistas  não queriam dividir o garimpo com ninguém, pois sentiam-se os únicos com o direito a garimpar, por terem sido os descobridores. O apelido de emboaba era pelo fato dos forasteiros usarem botas, enquanto os paulistas andavam descalços.

Consequências da Guerra:
- A coroa portuguesa decidiu regulamentar:
a) Criação da Minas Gerais em 1709
b) São Paulo deixa de ser vila, tornando-se cidade
e) Derrotados, os paulistas partiram para o oeste, onde anos mais tarde descobriam jazidas de ouro nos atuais estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás.

O CICLO DA MINERAÇÃO - O CRESCIMENTO POPULACIONAL
A riqueza gerada pela mineração levou a capitania de Minas Gerais a se tornar a mais rica da colônia. Em 1760, Minas Gerais era a mais rica porção de terra de todo o reino português, por conta da extração do ouro e pedras preciosas. Em termos de população, Vila Rica, atual Ouro Preto, era um dos locais mais populosos povoados das Américas: para se ter uma ideia, Vila Rica tinha cerca de 40 mil habitantes , enquanto Nova York contava com cerca de 20 mil e a futura São Paulo só possuía cerca de 8 mil pessoas.

A MÃO DE OBRA ESCRAVA
Em princípio, alguém poderia argumentar que o garimpo não necessitava de tanta mão de obra quanto nos engenhos de açúcar. Nos engenhos era preciso um enorme terreno com muitos escravos para plantar e cortar a cana, moê-la, fabricar o açúcar, encaixotá-lo, etc...nos garimpos, bastava alguém usando uma bateia para garimpar. Na realidade,  os garimpeiros perceberam que precisavam também de muitos escravos, pois quanto mais gente garimpando, mais chances de extrair ouro. Outra justificativa foi a do garimpo subterrâneo, quando foi preciso cavar profundos buracos e garimpar em galerias subterrâneas...foi necessário até mais escravos do que na produção açucareira.
A população aumentaria ainda mais com a importação dos escravos africanos, os quais passaram a compor a base da sociedade. Mestiços e negros chegaram a compor cerca de 77,9% da população, tamanha era a necessidade de mão de obra. Doenças como a disenteria, a malária, as infecções pulmonares e as mortes por acidentes eram rotineiras. Entretanto, a resistência à escravidão foi intensa: Foi no ciclo da mineração onde houve o maior número de quilombos de toda a colônia, algo em torno de 160, entre os anos de 1710 e 1798.

Os Impostos
- O quinto foi o primeiro dos impostos sobre a mineração: 20% do ouro, diamantes ou qualquer metal/pedra preciosa deveria ser repassado à Coroa. Sendo precária a fiscalização, o povo procurava por todos os meios burlar o fisco. Foi nessa época que surgiu o "santo do pau oco" que eram imagens de madeiras ocas, onde escondiam o ouro. As casas de fundição foram criadas para reforçar a cobrança do quinto. Qualquer pessoa com ouro garimpado era obrigada a leva-lo para a fundição para pagar o quinto, onde o metal era derretido, transformado em barras e marcado com o símbolo do governo metropolitano. Dessa maneira, a cobrança do quinto seria facilitada e o tráfico coibido com maior eficiência.
- A capitação: o garimpeiro deveria pagar uma quantidade de ouro proporcional ao número de escravos que tivesse no garimpo. Quanto mais escravos tivesse, mais impostos pagaria. Mesmo que fosse um simples garimpeiro (chamado de faiscador), pagaria um imposto proporcional à extração realizada por ele mesmo.
- A Finta (ou cota fixa) era um imposto que consistia no recolhimento anual de cerca de 1500  quilos de ouro (na época eram cerca de 100 arrobas) por cada região mineradora. Com o tempo, essa obrigação foi ficando cada vez mais difícil de ser paga.
- A Derrama: Na segunda metade do século XVIII, o ouro foi ficando cada vez mais difícil de ser garimpado. A produção diminuía, mas os impostos não. As regiões mineradoras não conseguiam mais pagar a Finta. Portugal acreditava que era sonegação e para reforçar sua autoridade, criou a Derrama: consistia no confisco de bens da população caso não repassassem o valor total da Finta. 

A Revolta de Filipe dos Santos ou Revolta de Vila Rica (1720)

Foi uma revolta de uma parte do povo contra uma situação que consideravam insuportável da parte da Intendência das Minas
a)    O aumento dos impostos: o governo português aumentou os impostos sobre a produção de ouro na região, o que gerou insatisfação entre os mineradores.
b)    O abuso de autoridade da Intendência, que limitava a autonomia dos mineradores e gerava forte descontentamento.
c)    A escassez e a carestia de alimentos: a maioria dos alimentos ainda vinha de longe, através dos tropeiros, e eram caros.
d)   A atuação dos contratadores: eram aqueles que concediam as licenças para a garimpagem, só que eram acusados de cobrar elevadas taxas sobre o ouro garimpado.
e)   A falta de representação política: a população local não tinha representantes que os defendessem perante as autoridades.Todos esses fatores contribuíram para a insatisfação da população local e para a eclosão da revolta liderada por Filipe dos Santos.
A rebelião não logrou sucesso; o governador de Minas ordenou a prisão dos envolvidos; muitos foram presos e punidos. Alguns foram condenados a trabalhos forçados nas obras públicas, outros foram exilados e alguns executados, dentre eles, o líder, Filipe dos Santos.


ECONOMIA E SOCIEDADE MINERADORA - AS MUDANÇAS

Menos Concentração de Renda: A economia mineradora era diferente da açucareira: enquanto na açucareira havia concentração de renda, na mineira houve desconcentração de renda; isso é explicado pela ampla malha de trabalhadores do garimpo, onde havia gente muito abastada de um lado e simples faiscadores do outro...sendo assim, a renda estava espalhada em meio à sociedade mineira, ao passo que na açucareira ela concentrou-se no bolso dos donos de engenhos...a renda obtida pelo garimpo diversificou a economia, promovendo a diversificação de ocupações e aumento dos fluxos monetários.

A região Sudeste ultrapassa a região Nordeste:

- O Sudeste tornou-se a região mais rica, tomando o lugar do Nordeste...Minas era a capitania mais rica devido ao ouro...o Rio de Janeiro tornou-se o maior polo comercial, pois era por lá que o ouro ia para a Europa e por onde chegavam grandes quantidades de importados europeus.
- foi por estes motivos que em 1763, a coroa portuguesa transferiu a capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro.

Sociedade açucareira X Sociedade Mineradora

- litoral x interior: enquanto na açucareira a riqueza concentrava-se no litoral, para facilitar o escoamento do açúcar, na mineradora, a riqueza estava concentrada no interior da colônia, onde situavam-se os garimpos.
- rural x urbana: enquanto a sociedade açucareira tinha como característica ser rural, a sociedade mineradora era urbana, com pequenos núcleos de classe média; várias cidades surgiram: Vila Rica, Mariana, São João Del Rei, Cuiabá etc.

O Dinamismo da Economia mineradora
O início da Classe Média
A economia mineradora provocou a ampliação do mercado consumidor da colônia, ou seja, deu origem ao surgimento de camadas intermediárias na sociedade, ou seja, não havia apenas os muito ricos e os muito pobres. Surgiram os primeiros núcleos urbanos, a primeira classe média, composta composta por artesãos, arquitetos, ourives, escultores, pintores, técnicos mineradores, comerciantes, alfaiates, artistas, músicos, poetas, burocratas, advogados, etc. Algumas pessoas ostentavam sua riqueza através de seus trajes que importavam da Europa ou mandavam fazer a partir de gravuras.
A Primeira Integração da Colônia
A necessidade de consumo desses núcleos urbanos levou a um processo econômico que resultaria na ligação das cidades mineiras com outras regiões da colônia, como o Nordeste e o Sul, que passaram a ser fornecedores principalmente de gado, carne e couro. Do Rio de Janeiro vinham os escravos comprados na África e os produtos importados da Europa. Para poder realizar esse comércio, foi fundamental a participação dos tropeiros, os quais foram  enfrentavam todo o tipo de dificuldades, frios, tempestades, calor, atravessaram regiões montanhosas, florestas densas, enfrentando ataques de índios, assaltantes, etc.
Ao mesmo tempo em que transportavam mercadorias, os tropeiros também contribuiram para o surgimento de vilas e cidades ao longo do trajeto, em locais onde paravam para descansar e pernoitar.

Mais Liberdade para os Escravos
Na sociedade mineradora houve mais chances de conseguir a alforria do que na açucareira. Isso ocorria porque muitos escravos tinham a autorização do dono para minerar no final do expediente e nos dias santos...após cumprirem a cota exigida, poderiam ficar com o ouro que encontrassem...muitos donos de escravos incentivavam o escravo a garimpar em troca de benefícios...foi assim que muitos conseguiram acumular a quantia necessária para comprar sua liberdade.
A CARTA DE CORTE E A ALFORRIA : Mesmo sendo caro o preço de um escravo, isso não impediu o elevado número de alforrias, algo que foi uma prática até certo ponto comum na sociedade mineradora. Por gratidão do dono ou por mérito próprio, muitos negros conseguiram sua liberdade. A população liberta cresceu consideravelmente. Havia também a situação dos escravos coortados, ou seja, eram escravos em processo de compra de sua liberdade, os quais andavam com um documento atestando que estavam saldando prestações referentes à compra de sua carta de alforria. Esses escravos, após trabalharem para seu senhor, tinham liberdade para vender sua força de trabalho em outra atividade, mediante pagamento. Alguns recebiam de seus senhores instrumentos de trabalho, a fim de poder se dedicar a uma função remunerada e, consequentemente, juntar a quantia estipulada. Outros se viam prejudicados pelos senhores que os impediam de trabalhar. Muitos senhores impunham condições: trabalhar por mais um número específico de meses, ou só aceitar dar carta de corte se houvesse um fiador.

OS ESCRAVOS DE GANHO: Eram escravos utilizados para vender vender diversos tipos de mercadorias pelas ruas (cestos, milho, leite, frutas, legumes, pães, carnes, etc). Havia também escravos alugados para realizar qualquer tipo de serviço, leve ou pesado; um dos mais solicitados era o de transportar cargas e pessoas. Também existiam escravos barbeiros, serradores, pedreiros e carpinteiros. Além disso, poderiam vender a sua força física trabalhando como carregadores de objetos de qualquer tipo e até mesmo pessoas.
Houve também as chamadas "escravas ou negras de ganho": eram mulheres que passavam o dia vendendo alimentos em tabuleiros, geralmente doces e salgados. Além dessa venda, essas escravas eram usadas também para entregar mensagens secretas ou esconder ouro ou diamantes. Alguns donos faziam acordos com elas: dependendo do esforço e do sucesso das vendas, destinavam uma parte do lucro para a compra da alforria.

INCONFIDÊNCIA MINEIRA
foi um movimento de caráter separatista que ocorreu em Vila Rica, em 1789, o qual tinha como objetivos principais a independência de Minas Gerais, a criação de uma república e a liberdade econômica. O movimento não passou da fase de planejamento, não resultou em atos de rebeldia, não passou do campo das intenções...foi delatado ao governador, resultando na prisão e condenação de seus líderes.
Causas:
- queda na produção aurífera a partir de 1760: mesmo com a diminuição, as cobranças de impostos mantinham-se as mesmas: quando o ouro entregue não alcançava 100 arrobas (cerca de 1500 kg) anuais, o governador poderia decretar a “derrama”. Esta consistia em cobrar da população, pela força das armas, a quantidade que faltava.
- Apesar de ter sido decretada somente uma vez, sempre pairava a ameaça que a derrama poderia se tornar realidade e isso assustava tanto os mineradores quanto a população.
- O custo de vida em toda a região aumentava, pois tudo era comprado a prazo e com ouro.
- Com isso, muitos garimpeiros, comerciantes e fazendeiros estavam endividados
- o “Alvará de 1785”, determinou o fechamento das manufaturas (que durante algum tempo tiveram permissão para funcionar) têxteis e de qualquer natureza (a única exceção foram as manufaturas de panos grosseiros, destinadas principalmente para vestir os escravos). Isto obrigava a população a consumir apenas manufaturas importadas, que eram mais caras.
- as ideias do movimento iluminista, que defendiam temas como a autonomia dos povos, a liberdade econômica, o fim dos privilégios das autoridades; estas ideias eram proibidas na colônia e sua literatura circulava de maneira clandestina.
- Estas ideias foram trazidas por estudantes brasileiros que tinham realizado cursos superiores na Europa e também através de livros.
- o exemplo da Independência dos Estados Unidos, onde os colonos se revoltaram contra o sistema fiscal inglês e conseguiram a independência. Não foi somente uma colônia, mas um grupo de colônias...a força irresistível do patriotismo contra a opressão da metrópole. 
- As ideias do século - o liberalismo político e econômico, o racionalismo, o sentimento revolucionário que ocorreu na Inglaterra e ocorria na França.

Objetivos da Inconfidência Mineira: os Inconfidentes queriam:
- separar Minas Gerais e adotar um regime republicano
- Fundar uma universidade em Vila Rica;
- Liberdade comercial para ter fábricas e acabar com o monopólio comercial português;
- serviço militar obrigatório;
 -Criar um parlamento
-
Melhorar as condições de vida do povo, acabando com as leis opressivas, os odiosos monopólios e os impostos esmagadores
- A bandeira dos inconfidentes tinham uma frase em latim: "Libertas quae sera tamen" (Liberdade ainda que tardia). Mais tarde, essa bandeira serviu de base para a atual bandeira do Estado de Minas Gerais.

A TRAIÇÃO E O FRACASSO DO MOVIMENTO
A revolta começaria no dia que provavelmente ocorreria a derrama, em 1788; mas o governador, Visconde de Barbacena, suspendeu-a quando soube que havia um movimento conspiratório. Três envolvidos delataram o movimento:
- o mais divulgado e conhecido dos três foi o coronel de cavalaria Joaquim Silvério dos Reis, o qual, premido pela grande dívida que tinha com a Fazenda Real, delatou o movimento ao governador.
- foram também delatores o tenente-coronel Basílio de Brito Malheiro do Lago e o mestre de campo Inácio Correia Pamplona.
- Tiradentes, que era fazendeiro e dentista, foi preso no Rio de Janeiro, em maio de 1789, para onde tinha ido a fim de adquirir armas.
- Após três anos sendo processados, todos os participantes foram perdoados ou condenados ao degredo. A maior parte das narrativas afirma que Tiradentes foi executado no dia 21 de abril de 1792.
- a figura de Tiradentes só passou a ter considerável importância na história brasileira após o golpe republicano: os defensores da república precisavam de uma figura que os representaasse na história do Brasil...sendo assim, resgataram Tiradentes e o transformaram em mártir.

Além de Tiradentes, alguns dos principais inconfidentes foram:
- poetas/ intelectuais/fazendeiros/advogados: Cláudio Manuel da Costa, Inácio José de Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga
- os padres José da Silva e Oliveira Rolim, Manuel Rodrigues da Costa, Carlos Correia de Toledo e Melo

OS DESTINOS DO OURO BRASILEIRO

O ouro extraído das minas do Brasil colonial teve um destino complexo, com grande parte seguindo para Portugal e, de lá, para a Inglaterra, devido ao acordo comercial, chamado de Tratado de Panos e Vinhos, de 1703. 

Portugal já era um reino decadente que precisava do auxílio de uma potência para não ser anexado pela Espanha ou pela França. Sendo assim, Portugal usou parte do ouro e diamantes para pagar os tecidos ingleses. O Tratado impediu o avanço tecnológico/industrial português, que resumia-se à produção de azeite e vinho.

O ouro que ficou no Brasil: 

foi usado em diversas áreas

A)Urbanização e Arte Barroca: As áreas de mineração, especialmente em Minas Gerais, se tornaram centros de riqueza e atraíram uma enorme população. Cidades como Ouro Preto, Mariana e Diamantina foram construídas e se desenvolveram rapidamente. O ouro financiou a construção de igrejas, palácios e casas que, em um estilo artístico único, formaram o Barroco mineiro. Artistas como Aleijadinho e Mestre Ataíde deixaram obras-primas que decoravam esses edifícios, tornando a região um importante polo cultural e artístico.

b) O Mercado Interno: a economia mineradora estimulou o desenvolvimento de um mercado interno crescente que demandou o fornecimento de alimentos, gado, ferramentas e outros bens essenciais. Isso impulsionou a agricultura e a pecuária em outras regiões da colônia, como São Paulo, que passou a fornecer alimentos, e o sul, que fornecia gado, conectando diferentes partes do Brasil colonial por meio de rotas comerciais. 

C) Fortalecimento da Burguesia Colonial: Embora a Coroa Portuguesa impusesse pesados impostos (como o Quinto), uma parte do ouro circulava na colônia, favorecendo a ascensão de uma nova elite, composta por comerciantes, funcionários da Coroa e donos de minas, que acumularam riquezas e formaram uma incipiente burguesia colonial, com acesso a bens de luxo e uma vida social mais sofisticada.

Crescimento Populacional e Deslocamento do Eixo Econômico: A descoberta de ouro no interior provocou uma verdadeira corrida por riquezas, atraindo milhares de pessoas de outras partes da colônia e de Portugal. Esse fluxo migratório intenso levou a um aumento demográfico expressivo e ao deslocamento do eixo econômico e político do Nordeste (Salvador) para o Sudeste, culminando na mudança da capital da colônia para o Rio de Janeiro em 1763.

Libertação de Escravos: Parte do ouro e diamantes foi usada para que escravos comprassem suas próprias alforrias, um processo conhecido como manumissão, garantindo-lhes a liberdade. Outra parte da riqueza também era usada por senhores para libertar escravos como uma forma de reconhecimento ou recompensa por serviços prestados.


EGITO ANTIGO

EGITO ANTIGO
Foi uma grande civilização que floresceu às margens do rio Nilo, no nordeste da África, entre o V milênio a.C. e 332 a.C. Foi uma sociedade complexa, organizada em torno de um faraó, considerado uma divindade, e com uma rica cultura, incluindo hieróglifos, pirâmides, templos e avanços em áreas como matemática, astronomia e medicina. O Egito fazia parte, junto com a Mesopotâmia de uma gigantesca área chamada de Crescente Fértil, que partilhava características semelhantes: uma área desértica que se tornou fértil devido às enchentes anuais de grandes rios, onde havia a presença de milhares de pessoas comandadas por um estado teocrático que comandava as grandes obras hidráulicas através do trabalho  compulsório.

A história do Egito antigo é dividida em dois períodos:

1 - Período Pré-dinástico (5000-3100 aC)

É o período que vai desde a formação dos Nomos, passando pela criação de dois reinos (alto e baixo Egito) até a unificação.

2 - Período Dinástico (3100-1085 aC)
É dividido em diversas fases, onde intercalaram-se fases de poder unificado (Antigo, Médio e Novo Império) e fases de descentralização do poder (períodos intermediários). A fase final é chamada de Época Baixa.

 

PERÍODO PRÉ-DINÁSTICO

Apesar de estar localizada em uma região desértica, o Egito tornou-se um importante centro de povoamento na Antiguidade. Diversos povos foram atraídos para as margens do rio Nilo, em especial por causa da fertilidade do solo proporcionada pelas cheias anuais do rio. Essas inundações, ao recuarem, deixavam uma camada de húmus que tornava a terra ideal para a agricultura, sendo fundamentais para a sobrevivência naquela região árida. Com o tempo, milhares de pessoas se fixaram ao longo do Nilo, formando os primeiros núcleos de habitação, conhecidos inicialmente como Proto-Nomos.

Proto-nomos: do grego Proto (primeiro ou inicial) e Nomo (distrito ou província)l”. Os proto-nomos eram as formas iniciais e rudimentares de organização territorial no Egito.

Características: Comunidades pequenas e descentralizadas, baseadas em clãs, os quais viviam basicamente da agricultura de subsistência. Não havia uma autoridade central forte ou estrutura administrativa formal.

Nomos: A expansão dos proto-nomos deu origem aos Nomos, os quais eram unidades administrativas e territoriais bem definidas, cada um com seu governante, (chamado de Nomarca), seus deuses, símbolos e centro político. Os Nomos eram cidades-estados.

 

ALTO E BAIXO EGITO:

Com o passar do tempo, os nomos foram unificados em dois reinos: Alto Egito e Baixo Egito;

 
Alto Egito: Sua capital era Tebas; localizava-se ao sul, era conhecido pela sua proximidade com a nascente do Nilo e a região montanhosa. Era a região mais extensa. A coroa do faraó era vermelha.

 Baixo Egito: tendo Mênfis como capital, localizava-se ao norte e sua área correspondia à região costeira e ao Delta do Nilo. A coroa do faraó era branca.

 O Alto e o Baixo Egito  existiram como reinos separados durante cerca de 400 anos, até que por volta de 3100 aC, o faraó Menés (ou Narmer), do Alto Egito, invadiu e anexou o Baixo Egito, unificando os dois reinos, tornando-se o primeiro faraó e dando início ao período dinástico.

 PERÍODO DINÁSTICO

Diferentemente dos governantes mesopotâmicos que eram representantes dos deuses, os faraós eram considerados como deuses e passaram a usar uma coroa dupla, vermelha e branca, representando a união dos dois reinos.


A TEOCRACIA

O Egito era ao mesmo tempo uma monarquia e uma teocracia.
As diversas atribuições do Faraó: suas atribuições eram política, militar, econômica e religiosa.

-Liderança Política e Econômica: Ele governava o Egito através dos sacerdotes, nomarcas e uma enorme burocracia governamental.
- Trabalho compulsório: os camponeses estavam submetidos a esse tipo de trabalho (também conhecido como corveia), o qual era a base de toda a riqueza do Egito.
- Os escribas eram a espinha dorsal da administração, registrando tudo, desde a colheita até os impostos e a contabilidade. O controle sobre essas classes era fundamental para a manutenção do estado.
-A distribuição de alimentos e recursos para os camponeses era crucial para a estabilidade do reino, especialmente em uma economia agrícola.

- A capacidade de mobilizar e organizar grande quantidade de mão de obra e recursos para essas obras demonstrava o poder e a autoridade do faraó e dos sacerdotes e nomarcas sob o seu comando.
- Liderança Militar: o Faraó era o chefe militar do Exército e responsável tanto pela guerra de expansão quanto pela defesa do território.
- Liderança Religiosa: o faraó era considerado a encarnação de um dos deuses; sua principal responsabilidade era manter a Ma'at, a ordem cósmica e a justiça, através da participação em rituais e oferendas. A falha nesse dever poderia levar ao caos (secas, fome, pragas, etc). O faraó também era o sumo sacerdote de todos os cultos, com os sacerdotes agindo em seu nome.

A construção de templos e sepulturas grandiosas  era uma expressão visível de sua devoção e poder, visando garantir sua imortalidade e a continuidade do bem-estar do Egito. Em suma, a função religiosa do faraó era a espinha dorsal do sistema egípcio, garantindo a estabilidade e prosperidade do reino.
 
DIVISÃO DO PERÍODO DINÁSTICO: é subdividido em fases que alternam períodos de centralização e descentralização do poder político, provocadas pela opressão, rebeliões, clima, invasões estrangeiras, etc.

 ANTIGO IMPÉRIO - foi a primeira fase  centralizada. É mais conhecida como a “era das pirâmides”. Foi uma época marcada pela paz interna e externa, estabilidade política e grande concentração de poder na mão dos faraós, a qual foi usada para dirigir gigantescas obras públicas, dentre elas as da construção das famosas pirâmides de Gizé, realizadas através dos trabalhos compulsórios (ou servidão coletiva ou corveia), submetendo a maioria da população (os felás ou camponeses) a esse tipo de trabalho.


Causas do fim do Antigo Império:
Crise hídrica: diminuição do volume das enchentes do rio Nilo

Menos terras férteis

Menos colheitas

Menos alimentos

Desabastecimento e fome
Opressão sobre os camponeses: a pressão da servidão coletiva continuava, mesmo com a falta de mantimentos e fome
Essa opressão resultou em diversas rebeliões camponesas, as quais desestabilizaram o poder dos faraós, provocando o colapso do poder centralizado

PRIMEIRO PERÍODO INTERMEDIÁRIO
O Egito se dividiu em diversos pequenos reinos ou principados, governados pelos nomarcas (governadores regionais), que passaram a atuar de forma independente, controlando suas próprias terras, recursos e exércitos.
Ascensão dos Nomarcas: Os nomarcas, que antes eram meros administradores do faraó, tornaram-se governantes de seus nomos. Eles rivalizavam entre si e não reconheciam uma autoridade faraônica superior. Isso gerou conflitos e guerras civis internas pelo controle de territórios e recursos.
Ao mesmo tempo, alguns povos conseguiram invadir partes do território egípcio, aproveitando o momento de crise.

MÉDIO IMPÉRIO

Com o passar do tempo, o faraó Mentuhotep II conseguiu reunir forças suficientes para quebrar o poder dos Nomarcas, expulsar invasores e voltar a centralizar o poder.

Fim da crise hídrica: regularização das enchentes anuais do rio Nilo

Retorno de grandes obras obras públicas

Crescimento populacional

Expansão do comércio e execução de grandes projetos arquitetônicos (ex: construção de lagos,  tumbas e templos majestosos).

Para tentar garantir a estabilidade política e aumentar seu poder de expansão, o Estado investiu na ampliação do Exército, o qual era composto principalmente pelos camponeses.

O Egito conquista partes da Núbia (atual Sudão) e da atual Palestina
Causas do fim do Médio Império:
A grandiosidade das obras contrastava com a opressão do trabalho compulsório e a pobreza dos camponeses.

Voltam a ocorrer diversas revoltas camponesas com o apoio de nomarcas e sacerdotes.

A instabilidade política e as revoltas internas favoreceram a invasão do norte do Egito por alguns povos semitas chamados de Hicsos, os quais tinham armas superiores às egípcias e usavam cavalo e carros de guerra.


SEGUNDO PERÍODO INTERMEDIÁRIO

Os Hicsos governavam o norte e os egípcios o sul.

Os Hicsos tentaram legitimar e ampliar o seu poder sobre o povo adotando adotando tradições e costumes egípcios, inclusive o título de Faraó. Em contrapartida, os egípcios não se conformavam com a perda de uma rica e significativa parcela de seus domínios."

Foi durante esse período de domínio Hicso que ocorre a chegada dos hebreus, os quais foram bem recebidos e instalaram no baixo Egito.

 

NOVO IMPÉRIO

Ao final de cerca de 150 anos de domínio hicso, os egípcios reuniram forças militares suficientes para expulsá-los.

O faraó Amósis I conseguiu reunir forças militares suficientes para expulsar os hicsos e reunificar o país. No novo império, o Egito se tornou uma grande potência militar e econômica.

A faraôa Hatshepsut passou para a história como a primeira mulher a governar o Egito; ela fez um bom governo, expandindo o comércio e mantendo boas relações diplomáticas e realizando grandes obras arquitetônicas.

Foi no novo império que, sob a liderança de Moisés, ocorreu a saída dos hebreus, após um fase em que foram submetidos à escravidão...esse evento foi chamado de Êxodo.

A reforma religiosa: O faraó Akenaton (ou Amenófis IV) implantou uma reforma religiosa, substituindo o politeísmo pelo monoteísmo dedicado ao deus sol Aton. Os estudiosos apontam como causas dessa reforma:

a) Akenaton imaginou que através dessa reforma enfraqueceria a influência, a riqueza e o poder dos sacerdotes de Amon (deus dos ventos e do ar) sobre o povo, ao mesmo tempo em que fortaleceria o seu poder.

b) A crença pessoal de Akenaton no deus Aton podem ter influenciado a tomar essa decisão radical,

c) Ele almejava unificar o Egito através da religião, eliminando os cultos regionais e enfatizando a adoração a um único deus.

As Consequências: A reforma religiosa foi muito mal recebida tanto pelos sacerdotes quanto pelo povo, já que alguns templos foram fechados e as imagens e inscrições dos deuses foram removidas ou destruídas. O povo, de maneira geral, não aceitava abandonar o politeísmo e o culto aos deuses tradicionais. Após a morte de Akhenaton, sua reforma religiosa foi anulada.

 

O fim do Novo Império: uma série de fatores provocaram sua decadência e fim:

o sistema político centralizado, burocratizado, ineficiente e corrupto, revoltas internas, secas, declínio das colheitas, aumento da fome, invasão de outros povos tais como os assírios e os hititas.

Além disso, o sistema político centralizado e burocrático dos faraós se tornou cada vez mais ineficiente e corrupto, o que contribuiu para o declínio geral do Novo império, que chegou ao fim após a invasão dos Povos do Mar (foi uma coalizão de vários grupos nômades que se estabeleceram ao longo da costa do Mediterrâneo Oriental e atacaram várias cidades e reinos na região, incluindo o Egito)

 

A ÉPOCA BAIXA: A PARTE FINAL DA HISTÓRIA DO EGITO ANTIGO

Foi marcado pela instabilidade onde o poder fragmentou-se entre os nomarcas e alguns povos invasores, como os núbios e os líbios.

No final deste período, uma dinastia Núbia conquistou o Egito e governou-o por cerca de um século, período em que ocorreu o RENASCIMENTO SAÍTA, uma época em que o Egito teve sua cultura e sua arte revitalizadas.

O FIM: O Império Aquemênida (persa) invadiu e conquistou o país, marcando o fim do Egito como nação independente.

 

O EGITO SOB DOMÍNIO PERSA:
1a ocupação: 525 a.C. - 404 a.C.
2a ocupação: 343 a.C. - 332 a.C.
 A dominação persa foi marcada por duas fases de ocupação intercalada por uma fase em que a resistência egípcia conseguiu durante um breve período reconquistar sua autonomia (entre 404 e 343 aC.).

O EGITO SOB DOMÍNIO MACEDÔNICO: Alexandre  conquistou o Egito em 332 a.C., tendo sido recebido como um libertador, pois os persas exerciam uma intensa opressão através de muitos impostos, além de desrespeitarem as tradições e a religiosidade egípcias. Alexandre, pelo contrário,  demonstrou grande respeito, tendo, inclusive, ido visitar os templos onde ofereceu sacrifícios aos deuses egípcios. Foi desta maneira que os egípcios passaram a reconhece-lo como faraó e ele assumiu os títulos e o poder associados a essa posição, sendo coroado em Mênfis (a antiga capital do Egito). Alexandre fundou a cidade de Alexandria.

Dinastia Ptolemaica: Após a morte de Alexandre em 323 a.C., seu vasto império foi dividido entre seus generais. Um de seus generais, Ptolomeu I Sóter, assumiu o controle do Egito e fundou a Dinastia Ptolemaica. Essa dinastia macedônica governou o Egito por quase 300 anos, mantendo muitos costumes egípcios, mas com uma forte influência cultural grega.  Foi sob o domínio macedônico que a famosa rainha Cleópatra viveu e governou.

 

Cleópatra VII Filopátor (reinou de 51 a.C. a 30 a.C.) foi a última rainha da Dinastia Ptolemaica. Embora ela tenha sido a única de sua linhagem a aprender a língua egípcia (além do grego), sua cultura e sua dinastia eram essencialmente gregas macedônias.

 

SOCIEDADE

Em termos de Estratificação, era uma sociedade estamental: a mobilidade (movimentação) social não era impossível, mas era bastante difícil, pois a posição social do indivíduo era praticamente determinada pela condição de nascimento do indivíduo. Exemplo: quem nascia camponês, geralmente morria camponês, embora fosse possível se tornar um artesão ou comerciante, ou casar com alguém de outro estamento. Os principais estamentos eram:

    Faraó e família real: o faraó era o líder do Egito e era uma das divindades.Sua família e os parentes mais próximos tinham grande poder e prestígio. Na família do faraó havia a prática do incesto. Isso ocorria por algumas razões:

- a ideia da "pureza" da dinastia real

- a crença de que, sendo uma divindade, só poderia casar com outras divindades, no caso, sua própria família.

- evitar que o poder passasse a ser de outra dinastia

Nem todos os faraós se casaram com irmãos ou parentes próximos. Alguns se casaram com mulheres de outras famílias reais ou até mesmo com mulheres plebeias.

    Sacerdotes:

- organizavam os rituais, festas e atividades religiosas; eram donos de vastas propriedades e comandavam os trabalhos de milhares de pessoas. Desfrutavam de enorme riqueza proveniente das oferendas. pelo culto aos deuses

- eram bastante populares e tinham acesso a conhecimentos considerados sagrados. Muitos faraós os consideravam como pessoas perigosas, que ambicionavam tomar o seu lugar.

- faziam parte dos conselheiros de faraó.

    Nobreza:

era composta pelos Nomarcas, altos funcionários reais e militares. Eles possuíam grandes propriedades de terra e exerciam grande influência política.

   Artesãos, comerciantes e escribas: os artesãos eram obrigados a trabalhar em oficinas estatais, produzindo objetos de luxo e outros bens para o Estado e para os templos; sendo assim, estavam sujeitos aos trabalhos compulsórios.

   Camponeses (ou Felás): formavam a maior parte da população e estavam sujeitos a todo o tipo de trabalho compulsório que o Estado os obrigasse.

    Escravos: diferente do que muitos imaginam, a maior parte da mão de obra egípcia não era escrava...

A origem dos escravos:

a) prisioneiros de guerra

b) através dos traficantes, que os vendiam nos mercados

c) escravidão por dívida

O escravo era utilizado em qualquer tipo de trabalho, desde os mais pesados (pedreiras, minas, construções de monumentos, agricultura), até os mais amenos, como o trabalho doméstico. Os escravos eram propriedade do Estado ou de particulares. A escravidão era hereditária: os filhos dos escravos também continuavam sendo escravos.


A SITUAÇÃO DAS MULHERES

Elas desfrutavam de uma posição social e legal mais avançada do que em muitas outras civilizações da mesma época, possuindo direitos que poucos imaginam existir naquela época. Elas  podiam exercer papéis significativos em diversas esferas da vida. Havia igualdade legal com os homens, ou seja, elas podiam:

-Possuir e administrar propriedades: Incluindo terras, casas e escravos. Isso era um direito raro para mulheres em outras culturas antigas.

-Comprar e vender bens: Podiam fazer seus próprios negócios e contratos.

-Herança: As mulheres podiam herdar bens de seus pais e maridos. A linha de herança muitas vezes passava de mãe para filha.

-Divórcio: Podiam iniciar um processo de divórcio e, em muitos casos, manter uma parte dos bens adquiridos durante o casamento, incluindo a casa. Acordos pré-nupciais eram comuns para proteger os bens da mulher.

-Testemunhar e depor em tribunal: Tinham voz legal e eram tratadas de forma semelhante aos homens na justiça.

-Papéis Domésticos e Profissionais: Ainda que a maioria se dedicasse ao lar e à família, o que era altamente valorizado, elas também exerciam uma variedade de profissões:

-Gerentes de propriedade: Mulheres de classes mais altas frequentemente supervisionavam suas próprias propriedades e os trabalhadores nelas.

-Sacerdotisas: Desempenhavam papéis importantes em templos dedicados a deuses e deusas, como as "Esposas de Deus Amon", que tinham grande poder espiritual e influência política.

-Médicas: Há registros de mulheres atuando como médicas, como Peseshet, considerada a primeira médica conhecida na história.

-Artesãs e comerciantes: Trabalhavam como tecelãs, padeiras, cervejeiras, cozinheiras e vendiam produtos em mercados.

-Musicistas e dançarinas: Tinham presença em festividades e eventos religiosos.

OS FARAÓS NEGROS

O Egito Antigo se desenvolveu no nordeste da África, onde sua população original era, e ainda é, uma mistura de povos africanos, com gradientes de características físicas variadas ao longo do Vale do Nilo, as quais não se encaixam como brancas ou negras de forma simplificada. A pele dos egípcios antigos, como representados em sua própria arte, variava de tons mais claros a mais escuros.

Nem todos os faraós eram brancos: durante a época baixa, o Egito foi governado por faraós negros, vindos da Núbia (correspondente ao atual Sudão e parte do sul do Egito). Essa fase é conhecida como a 25ª Dinastia do Egito, também chamada de Dinastia Cuchita (ou Kushita), que reinou aproximadamente entre 747 a.C. e 656 a.C. Aqui estão os pontos chave sobre os faraós negros do Egito Antigo:

Origem e Contexto: A Núbia, ao sul do Egito, era uma região com uma rica e antiga civilização, o Reino de Kush. Esse reino tinha uma relação longa e complexa com o Egito, ora como parceiro comercial, ora como dominado (especialmente durante o Novo Império).

 

Durante a Época Baixa, os reis de Kush, que se consideravam herdeiros legítimos das tradições egípcias e devotos do deus Amon (cultuado tanto no Egito quanto na Núbia), aproveitaram a oportunidade para invadir e reunificar o Alto e o Baixo Egito.

Características do Reinado Cuxita:

Restauração Egípcia: influenciados pela cultura egípcia, os faraós cuxitas restauraram antigas tradições religiosas, templos e monumentos, com destaque para a construção de muitas pirâmides de tamanho bem menor.

O domínio cuxita  sobre o Egito chegou ao fim devido às invasões e campanhas militares dos assírios, os quais tinham táticas e tecnologia militar superior.


O PAPEL DOS SACERDOTES: os templos desempenhavam um papel semelhante ao da Mesopotâmia — eram verdadeiros "estados dentro do Estado", especialmente quando o poder real estava enfraquecido.

Os templos não eram espaços só religiosos, mas também  econômicos, administrativos e culturais, tais como:

a) Cuidar dos Templos e dos Deuses: Os templos eram a "casa" do deus local, e os sacerdotes realizavam rituais diários: banhar, vestir, alimentar e homenagear suas esculturas, manter os rituais e o calendário religioso.

b) Administração e Economia: grandes extensões de terras e riquezas eram de domínio dos templos, sendo administradas pelos sacerdotes, os quais administravam os trabalhos dos camponeses, armazenavam grãos, etc.

c) Conhecimento e Ciência: Eram também escribas, astrônomos, médicos e estudiosos. Usavam saberes sobre medicina, astrologia, matemática e escrita para fins práticos e rituais. Guardavam e copiavam textos sagrados e científicos. Usavam um calendário litúrgico para marcar datas de festivais e oferendas.

 

A RIVALIDADE ENTRE FARAÓ E O CLERO: os sacerdotes (ou o clero egípcio), devido ao seu poder político sobre o povo, tornaram-se uma força política quase autônoma e até perigosa para a autoridade real. Havia uma rivalidade entre o faraó e os sacerdotes, os quais disputavam quem teria mais influência junto ao povo. Em várias épocas, os sacerdotes chegaram a rivalizar ou até substituir a autoridade política do faraó em regiões específicas. Embora oficialmente servissem ao faraó, na prática, eles controlavam riquezas e  influência sobre o povo. Em determinados períodos, principalmente quando o poder faraônico enfraquecia, os templos se tornaram verdadeiros Estados dentro do Estado, com influência econômica, militar e política — uma forma de Estado-Templo egípcio.

 

A QUESTÃO DA PROPRIEDADE: Quem eram os donos da terra?

-No Egito antigo, toda a terra era propriedade do faraó, pois ele considerado o governante supremo e uma divindade viva, detendo o controle de todas as terras e recursos do reino.

- No entanto, uma parte significativa das terras era concedida aos templos, e estes, por sua vez, eram administrados pelos sacerdotes. Os templos acumulavam grande riqueza e influência por meio dessas propriedades, que eram cultivadas por camponeses através do trabalho compulsório, os quais entregavam uma parte da colheita como tributo.

- outra parte das terras pertencia a funcionários importantes do governo, nobres e chefes militares: eles recebiam estas terras como recompensa por seus serviços ao faraó. Essas terras eram cultivadas por trabalhadores e geravam renda para seus "proprietários". Embora fossem "dadas" pelo faraó, esses indivíduos tinham um controle significativo sobre elas e podiam até passá-las para seus herdeiros, mas sempre sob a soberania do faraó.

-Havia também pequenas propriedades: Há evidências de que algumas famílias, talvez camponeses mais abastados ou artesãos, podiam ter o usufruto de pequenas parcelas de terra, mas sempre com a obrigação de pagar impostos e prestar serviços ao Estado.

 

O LEGADO EGÍPCIO

O Antigo Egito deixou um legado significativo para a humanidade em diversas áreas, incluindo:

    Arquitetura monumental: as pirâmides, templos, tumbas e outros edifícios monumentais

    Escrita hieroglífica: considerado uma das primeiras formas de escrita do mundo e foi usado por mais de três mil anos.

    A medicina: Desenvolveram técnicas avançadas para a época, deixando um importante legado para a humanidade, mesmo não estando totalmente desvinculada do misticismo. Acreditavam que algumas doenças eram causadas por deuses ou demônios. Usavam encantamentos e amuletos associados aos tratamentos, especialmente quando os procedimentos técnicos eram insuficientes.


Características da Medicina Egípcia:

Papiros Médicos: A maior parte do nosso conhecimento sobre a medicina egípcia provém de papiros antigos que contém registros sobre diagnósticos, tratamentos, prognósticos e prescrições para uma vasta gama de doenças e lesões. Eles demonstram um conhecimento detalhado de anatomia e fisiologia (embora com algumas imprecisões).

Conhecimento Anatômico: A prática da mumificação, que envolvia a remoção de órgãos internos, proporcionou aos egípcios um conhecimento anatômico prático sem precedentes para a época. Eles eram capazes de identificar órgãos e suas posições, o que era crucial para cirurgias e tratamentos.

 

Farmacologia: Utilizavam uma vasta gama de ingredientes naturais em suas prescrições, incluindo ervas, minerais e produtos animais. O mel, por exemplo, era amplamente usado por suas propriedades antissépticas. Havia também o uso de substâncias com propriedades analgésicas, como o ópio, e até métodos contraceptivos.

 

Higiene e Saúde Pública: Os egípcios davam grande importância à higiene pessoal e à saúde. Banhavam-se regularmente, e há evidências de preocupação com a limpeza e prevenção de doenças.

 

Matemática
era voltada para a prática, para a necessidade de resolver os problemas do cotidiano, tais como a  construção, medição de terrenos e a contabilidade.  Embora não tivessem o conceito de zero, eram hábeis para calcular áreas e volumes, essencial para suas grandes obras arquitetônicas.

    Astronomia: desenvolveram um calendário baseado no ciclo anual do rio Nilo, além de terem uma compreensão avançada dos movimentos planetários.

   Fontes:
https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/reportagem/historia-de-que-raca-eram-os-egipcios.phtml
DORSA, V. L. O. (Org.). Mulheres e Múmias: O Feminino no Egito Antigo. Rio de Janeiro: Editora da UERJ, 2018.

SILVA, L. S. O Livro dos Mortos do Antigo Egito: Tradução e Estudo da Recensão Tebana. Petrópolis: Vozes, 2008.

SILVA, R. A. História do Egito Antigo. São Paulo: Ática, 2007 (ou edições posteriores).

AMARAL, I. H. (Org.). Mundo Egípcio: Estudos de Arqueologia e História. São Paulo: Humanitas/FFLCH-USP, 2012.

CHAMPOLLION, J-F. Gramática Egípcia. Tradução de Fábio Freire. Rio de Janeiro: Lexicon, 2010.