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domingo, 21 de maio de 2023

GUERRA DOS MASCATES (1710-1711)

    Foi um conflito envolvendo os comerciantes do Recife, apelidados de mascates, contra os senhores de engenho de Olinda. Vamos ver as causas deste conflito:

1) A concorrência estrangeira na produção açucareira: Outros países passaram a produzir açúcar e a grande quantidade do produto no mercado mundial fez o seu preço cair em torno de 50%. Os holandeses, após saírem de Pernambuco, passaram a produzir açúcar nas Antilhas; A Inglaterra o produzia na Jamaica; A França no Haiti e a Espanha em Cuba. 
2) A decadência da economia açucareira: os senhores de engenho olindenses, a "aristocracia açucareira": mantinham o poder político através da Câmara, mas economicamente estavam em sérias dificuldades devido à concorrência na produção e a queda no preço do açúcar:
a) Eles não estavam acostumados com a concorrência e precisavam adaptar-se aos novos tempos.
b) era preciso reduzir custos pois o frete partindo de Pernambuco para a Europa era mais caro do que o do açúcar concorrente, que era produzido na América central
c) era preciso modernizar os engenhos para produzir mais em menos tempo... e isso também representava custos. Além disso, o preço dos escravos africanos estava elevado devido ao início do ciclo da mineração. 

O Crescimento do Recife
a) A decadência da economia açucareira também trouxe  consigo a decadência de Olinda...mesmo sendo a sede da capitania, perdia dia a dia sua importância diante do crescimento do Recife, que ainda era classificado como povoado: era no Recife que se encontravam grandes comerciantes portugueses, aproveitando a proximidade do porto.
Causas do crescimento do Recife:
- os comerciantes compravam a produção açucareira e a exportavam
- os comerciantes importavam todo o tipo de mercadorias do exterior e de outras capitanias...a maior parte dos alimentos vinha de outras capitanias 
- os comerciantes enriqueceram ao ponto de emprestar dinheiro aos senhores de engenho
(cobrando juros elevados)...junto com a decadência havia a inveja da aristocracia açucareira, que passou a apelidar os comerciantes (que em sua maioria eram portugueses) de mascates.
b) O poder econômico X poder político:
os comerciantes tinham poder econômico, mas não tinham o poder político...
- a Câmara de Olinda era dominada pelos donos de engenho e os  "mascates" não tinham nenhuma representação política...sentiam-se prejudicados por depender em tudo das decisões dos olindenses. Sendo assim, fizeram chegar ao rei de Portugal suas queixas...em 1703, o rei autorizou que os mascates tivessem direito a representantes na Câmara, um fato que não resultou em nenhuma medida positiva para os recifenses, pois os donos de engenhos eram maioria na Câmara e aprovavam tudo o que quisessem.

O Estopim da guerra:
insatisfeitos, os recifenses apelaram no sentido de emancipar o Recife...o rei de Portugal autorizou a criação da Câmara do Recife, em 1710...de imediato, o governador de Pernambuco, Castro Caldas, ordenou a construção do pelourinho do Recife...
- os olindenses não aceitaram essa decisão e decidiram de imediato pela destruição do pelourinho do Recife.
Por que os olindenses (donos de engenho) não aceitavam essa decisão?
a) porque deixariam de receber os impostos dos recifenses
b) porque perderiam poder econômico e político
c) porque os vereadores da Câmara do Recife, com o apoio do governador, poderiam decretar a execução de suas dívidas com os "mascates"
d) porque Olinda deixaria de ser a sede do governo da Capitania

O capitão olindense, Bernardo Vieira de Melo era um dos revoltados e teria bradado pela primeira vez o grito de república, no Senado de Olinda...mesmo assim, essa revolta não foi separatista, mas uma revolta de insatisfação da aristocracia açucareira contra toda a situação que lhes era desfavorável...na esteira dos acontecimentos, os olindenses revoltados tentaram matar o governador Sebastião de Castro Caldas, acusado de favorecer os recifenses. Ferido,  Caldas partiu para Salvador.
f) O Bispo de Olinda no poder: os olindenses, reunidos na Câmara, empossam o bispo de Olinda, dom Manuel Álvares da Costa como novo governante da capitania.O bispo decretou o perdão geral.
g) A fase da guerra: os recifenses partiram para o revide, destroem engenhos e prendem lideranças olindenses, dentre eles, Bernardo Vieira de Melo e o bispo dom Manuel. A reação de Olinda foi arregimentar tropas para cercar o Recife.
h) A Intervenção portuguesa: a coroa enviou tropas e um novo governador, Félix José de Mendonça, o qual chegou afirmando ser neutro em relação ao conflito...entretanto, após assumir o governo da capitania, favoreceu os mascates e mandou prender mais de 150 pessoas, acusadas de rebelião, separatismo e planejamento de um atentado.
i) O Final do conflito: Em 1712, Recife é elevada à condição de vila, ganha autonomia, passa a ter sua própria Câmara; Bernardo Vieira de Melo e seu filho André Vieira de Melo são enviados presos para Lisboa, onde são julgados, condenados e presos. Em 1714, o rei Dom João V anistiou os envolvidos e perdoou as dívidas dos senhores de engenho olindenses.

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