A revolta de Beckman foi uma das revoltas nativistas ocorridas no Brasil colonial. Entende-se por nativistas todas as revoltas que não pretendiam a separação de Portugal, mas a solução de problemas que as autoridades locais não tinham interesse em resolver.
A revolta de Beckman foi uma delas: ocorrida na Capitania do Maranhão, foi resultado de diversas causas que que revoltaram fazendeiros e comerciantes contra a má administração colonial. Os revoltosos chegaram a tomar a sede do governo, mas no final foram presos, julgados e executados.
Antecedentes:
- A economia maranhense
-No século XVII, a economia era agrária e extrativista; o algodão era a principal base econômica, mas produzia-se também açúcar e fumo; No extrativismo, destacavam-se as drogas do sertão (ex: salsa, urucum, cacau, baunilha, castanha-do-pará, etc. Para tentar desenvolver a economia local, o governo português criou uma Companhia de Comércio, a única que estava autorizada tanto a importar (escravos e diversas mercadorias) quanto a exportar mercadorias. Os preços, tanto dos escravos quanto das mercadorias foram tabelados, ou seja, não poderia ser cobrado um preço maior do que o da tabela.
- O monopólio comercial (ou estanco) e a questão da mão de obra:
A dificuldade dos fazendeiros do Maranhão era obter mão de obra escrava para suas lavouras; os índios estavam protegidos pelos jesuítas através de acordo com o governo português. Restava a mão de obra negra através do tráfico transatlântico...mas isso dependia do fornecimento pela Companhia de Comércio do Maranhão, que assumiu o compromisso de fornecer anualmente no mínimo 500 escravos...o problema é que a empresa nunca cumpriu com sua parte do acordo: sempre demorava para trazer os escravos e sempre cobrava um preço acima do preço tabelado, sob protestos dos fazendeiros, que não tinham outra opção senão pagar o valor a mais.
- Além de escravos, a Companhia deveria também fornecer tecidos, manufaturados europeus, bacalhau, vinhos e farinha de trigo...a Companhia também atrasava as entregas, fornecendo produtos de má qualidade; no caso dos alimentos, muitos chegavam já estragados.
- A Companhia tinha também o compromisso de transportar mercadorias locais para Portugal, tais como cacau, baunilha, cravo, tabaco, etc. Da mesma maneira, deixava a desejar, atrasava as entregas e desagradava a todos.
- Outro ponto importante é que os preços das mercadorias eram tabelados, mas a Companhia descumpria a tabela e cobrava sempre a mais, sabendo que os clientes dificilmente iriam negar a pagar a extorsão, pois a necessidade era grande.
- Os Jesuítas e os indígenas
- os fazendeiros também não tinham como usar a mão de obra indígena, pois era proibida: eles estavam sob a proteção dos Jesuítas, através de um acordo com a coroa portuguesa. Entretanto, os jesuítas, ao ensinar os índios as técnicas agrícolas, aproveitavam-nos para produzir as "drogas do sertão", fato que irritava profundamente os fazendeiros, os quais, eventualmente, contratavam os caçadores de índios para invadir as missões e capturá-los de maneira ilegal.
-O desinteresse do governador
- outra reclamação era destinada ao governador Francisco de Sá e Menezes, que passava mais tempo em Belém do Pará, onde residia, do que em São Luís...o governador não demonstrava interesse em resolver os problemas do povo maranhense; em seu lugar, "governava" o capitão-mor Balthasar Fernandes, comandando um pequeno destacamento.
-Insatisfação geral:
- Os fazendeiros reclamavam porque a falta de mão de obra emperrava a produção agrícola
- Os comerciantes reclamavam da demora da chegada das mercadorias importadas
- Fazendeiros e comerciantes reclamavam que havia uma tabela de preços, porém, a Companhia não a respeitava e cobrava sempre a mais.
- Os caçadores de indígenas reclamavam da lei que proibia a escravidão dos nativos;
- A população reclamava da irregularidade do abastecimento de alimentos e da carestia dos produtos.
As Ações dos revoltosos
No início de fevereiro de 1684. os irmãos Beckman (Manoel e Tomás), Francisco Dias
Deiró e outros proprietários de terras, juntamente com alguns padres, espalharam bilhetinhos nas missas e panfletos pela cidade, atacando a administração de Francisco de Sá e Menezes. No dia 25 de fevereiro de 1684, aproveitando a ausência rotineira do governador, uma enfurecida multidão com mais de 100 pessoas conseguiu invadir a sede do governo maranhense, render o pequeno contingente militar e assumir o governo, criando uma Junta Governativa composta por seis membros, sendo dois representantes dos fazendeiros, dois do clero e dois dos comerciantes. As principais decisões dessa Junta foram:
a) expulsaram os jesuítas: os índios
b) extinguiram a Companhia de Comércio
c) declararam deposto o governador Francisco de Sá e Menezes
O FIM DA REVOLTA
Durou pouco mais de um ano o governo dessa Junta, pois em em maio de 1685, os portugueses enviaram uma esquadra e um novo governador, Gomes Freire de Andrade; as tropas retomaram o poder local sem muita dificuldade; muitos moradores e envolvidos com a revolta fugiram com medo das punições.
Os principais líderes foram presos, julgados e condenados, alguns ao exílio, outros à execução, dentre eles, Tomás Beckman.
Os Jesuítas retornaram. O negócio com a Companhia de Comércio foi desfeito.
As consequências da revolta de Beckman:
1 - A Resistência contra a situação de descaso, privilégios e exploração econômica impostas pelo monopólio comercial
2 - Os colonos maranhenses lutaram contra o injusto tratamento ao qual estavam submetidos pelo governo local. Este tratamento prejudicava não somente os grandes produtores rurais e comerciantes, mas também os médios e pequenos, sendo assim prejudicava toda a cadeia produtiva da colônia.
3 - A Revolta demonstrou a importância da união e solidariedade entre as pessoas que compartilham dos mesmos sentimentos de injustiça. Essa coesão foi fundamental para o sucesso da revolta enquanto ela durou.
4 - Luta pela liberdade econômica: A revolta, mesmo não sendo separatista, foi uma das primeiras a lutar contra as imposições e a insensibilidade da Metrópole.
5 - A revolta deixou um legado importante na história do Maranhão e do Brasil, sendo lembrada como um símbolo de resistência e luta pela justiça.
6 - Sobre os jesuítas, alguns anos depois, a Coroa portuguesa autorizou o seu retorno e a retomada do aldeamento dos indígenas.
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sexta-feira, 2 de junho de 2023
A REVOLTA DE BECKMAN (1684-1685)
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