O que é Fascismo? é uma ideologia ou é um movimento? é democrático ou antidemocrático? é de direita ou de esquerda? essas e outras perguntas fazem parte do cotidiano político atual... uma boa parte da sociedade, mesmo desconhecendo o significado, acusa de ser fascista qualquer um que discorde de suas preferências políticas.
Na ideologia fascista há elementos marxistas, nacionalistas, corporativistas, militaristas, antidemocráticas, etc. Sendo assim, não há um conceito que consiga abranger totalmente o fascismo.
FASCISMO COMO IDEOLOGIA:
É um conjunto de princípios que incluem:
Estado absoluto: controlando todos os aspectos da vida (política, economia, cultura, educação). Na questão do papel do Estado, o fascismo e os regimes leninista e stalinista eram iguais.
Nacionalismo extremo: O nacionalismo fascista coloca a nação acima de tudo, considerando-a uma entidade orgânica e indivisível. Os interesses individuais são completamente subordinados aos supostos interesses da nação. O nacionalismo fascista busca a unidade e a homogeneidade dentro da nação, podendo até suprimir a diversidade interna que se oponha ou que seja considerada uma ameaça à ideologia nacionalista.
Culto ao líder:
Os líderes fascistas são vistos como figuras divinas, que encarnam a vontade da nação e são capazes de realizar milagres.
Autoritarismo: todo o poder deve estar concentrado nas mãos do líder.
Totalitarismo: o Estado detém o controle total sobre todos os aspectos da vida pública e privada.
Discurso antissocialista e anticapitalista: o fascismo foi também uma reinterpretação do marxismo (assim como foram as de Lênin, Stálin e outros) e conseguiu atrair boa parte dos italianos que ou eram anticomunistas ou anticapitalistas. O principal lema do fascismo era "Tudo dentro do Estado, nada fora do Estado e nada contra o Estado".
- Para atrair os simpatizantes da foice e do martelo, o fascismo apresentava-se como antiliberal, anticapitalista, antiburguesia e anti-livre mercado.
- Para atrair aos liberais e os que temiam a expropriação, Mussolini defendia a manutenção da propriedade privada, embora sob forte controle do Estado.
Convivência com a F: Para atrair os católicos, no país sede do catolicismo, o fascismo, ao contrário do ateísmo marxista, não condenava nem perseguia os cristãos.
Militarismo e expansionismo: Valorização da força militar, da guerra e da expansão territorial como meios de obter mais riquezas e poder. Havia o ideal de resgatar a grandeza do antigo império romano.
Culto ao líder: Deificação do líder como figura carismática e infalível, símbolo da nação e guia para o seu destino.
União de todos: O fascismo condenava a luta de classes, afirmando que um país dividido só produzira mais ódio, divisão, guerra e destruição, como ocorreu na Rússia. Em vez de luta e divisão, o fascismo defendia a união de todos (ricos e pobres, patrões e empregados) para engrandecer a Itália e torna-la uma potência maior do que já era. A ideia era resgatar a grandeza e o poderio do antigo império romano.
Corporativismo: Em lugar da luta de classes, que só gerava ódio e destrução, o fascismo defendia a ideia de que através do Estado, as justas causas do operariado seriam atendidas, através da criação de corporações ou sindicatos controlados pelo Estado, o qual seria o árbitro justo que solucionaria os conflitos e promoveria o bem estar do trabalhador, ao mesmo tempo em que manteria a burguesia sob seu controle, impedindo medidas injustas contra a classe operária.
Uso da violência: Embora defenda a união de todos e condene a luta de classes, o fascismo defendia a violência contra todos os que se opusessem ao Estado. No fascismo não pode existir oposição.
O FASCISMO COMO MOVIMENTO POLÍTICO
O fascismo surgiu na Itália logo após a Primeira Guerra Mundial e rapidamente foi ganhando a preferência da maioria, dentro de um contexto de crise social, política e econômica. Suas características como movimento incluem:
Organização paramilitar: Uso de milícias para intimidar opositores e impor sua agenda.
Mobilização de massas: Busca pelo apoio popular através de propaganda, comícios e organizações de massa.
Discurso populista: O apelo às emoções do povo, a exploração dos ressentimentos e a promessa de soluções radicais para os problemas da nação.
Partido único: O fascismo criticava a democracia, considerando-a um regime de aproveitadores, ladrões, enganadores, corruptos e antro de comunistas. Para o fascismo, a democracia dificultava a ação e impedia a rápida solução dos problemas. , atrapalhando mais do que ajuda, custa bastante aos cofres da nação, além de ser uma porta aberta para demagogos, enganadores, corruptos, etc.
O MANIFESTO FASCISTA:
Foi escrito por Giovanni Gentile e assinado por vários intelectuais italianos, sendo publicado em 21 de abril de 1925 com o objetivo de criar uma base filosófica e ideológica para o fascismo italiano, que já estava no poder sob Benito Mussolini. Seus principais princípios podem ser sintetizados da seguinte forma:
-Idealismo Ativista e Espiritualismo: Defesa de um ideal de espírito em constante auto-criação através da ação e da vontade. A vida era vista como uma luta e uma missão espiritual.
-Primazia do Estado e do Interesse Nacional: O ser humano existe para servir ao Estado, que era considerado a encarnação da vontade e do espírito da nação. Os interesses individuais deveriam ser sacrificados em prol do bem comum nacional.
-Concepção Ética da Política: Através da política, cabia ao Estado a responsabilidade de moldar a moralidade e os valores da nação, elevando-a a um nível superior de civilização.
-Unidade e Autoridade: Era essencial uma liderança forte e autoritária para unir a nação. A disciplina, a hierarquia e a obediência eram consideradas virtudes essenciais.
-Corporativismo: Defesa de um sistema econômico corporativista, onde os interesses de diferentes classes (trabalhadores e empregadores) seriam harmonizados sob a direção do Estado, visando a produção nacional e a superação da luta de classes.
Valorização da Ação Direta e da Violência: Em certos aspectos, o Manifesto valorizava a ação direta e a violência como meios para alcançar objetivos políticos e afirmar a vitalidade da nação.
Rejeição do Individualismo e do Liberalismo: O individualismo era visto como egoísta e dissolvente da unidade nacional. O liberalismo político e econômico era criticado por sua ênfase nos direitos individuais e na livre competição, considerados prejudiciais à coesão social e à força do Estado.
Concepção Orgânica da Nação: A nação era vista como um organismo vivo com seus próprios interesses e destino, transcendendo os interesses individuais e de classe.
Papel Educacional do Estado: O Estado tinha a responsabilidade de educar os cidadãos nos valores fascistas, moldando seu caráter e preparando-os para servir à nação.
Religião da Pátria: Havia uma dimensão quase religiosa na devoção à pátria e ao Estado fascista, com seus próprios ritos, símbolos e mitos.
Em suma, o Manifesto dos Intelectuais Fascistas articulava uma visão de mundo onde o Estado nacional autoritário era central, o indivíduo estava subordinado à nação, a ação e a vontade eram exaltadas, e a unidade e a disciplina eram consideradas essenciais para a grandeza da Itália.
TOTALITARISMO: O Fascismo é um regime totalitarista, assim como outros regimes autoritários, tais como o Stalinismo, o Leninismo, o Maoísmo, o Castrismo, o Nazismo, etc.
Definição de Totalitarismo: É o mais autoritário modelo político e o mais elevado grau de controle da sociedade, onde todos os segmentos são controlados pelo Estado: economia, cultura, educação, propaganda, arte, literatura, etc. Não há espaço para oposição e críticas ao Estado. Não há liberdades individuais a não ser a favor do Estado. Não há democracia. Qualquer tipo de oposição é punida com prisão, condenação e até execução. São exemplos de regimes totalitários: União Soviética, China, Cuba, Coreia do Norte, Alemanha Nazista, Itália Fascista, etc. O Primeiro governo totalitário da história foi o da ditadura socialista de Lênin, logo após o golpe bolchevique de outubro de 1917. O segundo foi a ditadura socialista comandada por Stálin.
AS SEMELHANÇAS ENTRE FASCISTAS E SOCIALISTAS
Embora existam diferenças, esses regimes citados tem mais semelhanças do que diferenças entre eles. A principal de todas é o controle absoluto sobre a sociedade e o indivíduo.
Outras semelhanças são
- Partido Único e Líder Carismático: Em todos esses regimes, só há um partido político que detém o poder absoluto, sob o comando de uma figura carismática, a qual é elevada a um status quase messiânico e se torna o símbolo da nação ou da ideologia. Exemplos incluem Mussolini no fascismo, Stalin no stalinismo, Lenin no leninismo e Mao Tsé Tung no maoísmo.
- Ideologia Oficial Abrangente: Cada um destes regimes impõe uma ideologia oficial que busca explicar todos os aspectos da vida, da história e do futuro, moldando a visão de mundo da população e eliminando ideologias concorrentes.
-Uso Sistemático do Terror e da Repressão: Todos esses regimes empregam o terror em larga escala para eliminar todo o tipo de oposição e crítica...esse terror é essencial para espalhar o medo na população, garantindo a obediência. Isso se manifesta através de prisões arbitrárias, tortura, execuções, campos de concentração ou de "reeducação", e uma polícia secreta onipresente.
- Antiliberalismo e Controle Estatal da Economia: Esses regimes são anticapitalistas e impõem um controle significativo sobre a economia, seja através da planificação centralizada (como no stalinismo e maoísmo) ou da direção e subordinação dos interesses privados aos objetivos nacionais (como corporativismo fascista).
- Censura e Monopólio dos Meios de Comunicação: O Estado controla estritamente todos os meios de comunicação para disseminar propaganda massiva, promover a ideologia oficial, glorificar o líder e o regime, e suprimir qualquer forma de dissidência ou informação não sancionada.
- Controle da Educação e da Cultura: A educação e a cultura são instrumentalizadas para doutrinar o povo desde a infância, incutindo as ideias, os valores e as crenças do regime, além de promover o culto ao líder e à ideologia, ao mesmo tempo em que combate e elimina expressões culturais ou intelectuais que não se alinham com a linha oficial.
- Subordinação do Indivíduo ao Estado: Nos regimes totalitários, os direitos e as liberdades individuais são considerados inferiores aos interesses do Estado ou da coletividade, conforme definidos pelo partido no poder. O indivíduo existe para servir ao Estado e à ideologia.
- Militarismo e Nacionalismo Exacerbado: Muitos regimes totalitários promovem um forte nacionalismo e militarismo, buscando a expansão territorial, a demonstração de poder e a criação de um senso de excepcionalismo nacional.
A BASE IDEOLÓGICA DO FASCISMO
Diversos intelectuais, mesmo não sendo fascistas contribuíram para que a ideologia e o movimento fossem criados: Georges Sorel, Gustave Le Bon, Antonio Labriola e outros foram destaques. O próprio Mussolini, formado no marxismo, herdou de Marx a ideia de que a sociedade era movida por conflitos irreconciliáveis e que era necessária a ação revolucionária.
Dentre os intelectuais, destacamos:
GEORGES SOREL (1847–1922)
Foi um intelectual francês que reinterpretou o marxismo através da defesa de alguns ideais tais como:
- Sindicalismo revolucionário: é um ideal que defende:
Ação Direta Violenta: Sorel discordava da ideia de uma militância política que ao longo do tempo faria reformas sociais até atingir o socialismo...em vez disso, defendia a ideia da violência através de greves gerais, sabotagens e confrontos...Sorel chega ao ponto de defender a destruição como o melhor meio para realizar mudanças. A violência não é só para derrubar o sistema, mas para regenerar moralmente a classe trabalhadora,
Elite Sindical Revolucionária – Sorel discorda de Marx sobre a questão de "consciência espontânea" da classe operária, argumentando que se for esperar pela espontaneidade da classe operária, a revolução jamais ocorrerá. Em vez disso, Sorel defende uma elite militante dentro dos sindicatos combativos, liderando a revolução.
Anti-Estado e Anti-Política – ta partidos políticos e a ditadura do proletariado (ao contrário de Lênin). Defendia uma sociedade gerida por sindicatos autônomos, sem governo centra
Violência como Força Criadora – livrando-a da passividade burguesa.
l.
-Destruição da velha ordem: o que era corrompido pelo liberalismo (individualismo, usura, democracia parlamentar) deveria ser aniquilado.
-Ao mesmo tempo, defende valores considerados por Sorel como nobres e tradicionais de tal maneira que não deveriam ser destruídos, tais como família, honra e ética do trabalho), os quais deveriam ser purificados e elevados pela revolução.
A Influência de Sorel no Bolchevismo: Há semelhanças entre a obra de Sorel e o discurso de Lênin:
Sorel já escrevia suas obras principais antes de Lênin consolidar suas teorias revolucionárias.
Lênin só desenvolveu sua tese da "vanguarda revolucionária" depois de entrar em contato com ideias sindicalistas revolucionárias, incluindo as de Sorel.
Lênin leu Sorel, embora não o citasse diretamente (para não associar o bolchevismo a teorias "não marxistas"), há relatos de que Lênin conhecia seus escritos.
Paralelos conceituais:
A ideia soreliana de uma minoria militante que lidera as massas ecoa na vanguarda bolchevique.
A defesa da violência revolucionária (Sorel) foi radicalizada por Lênin no Terror Vermelho.
Violência como Método: Ambos rejeitavam o reformismo pacífico. Sorel via a greve geral violenta como mito mobilizador; Lênin defendia a insurreição armada. A Revolução de Outubro (1917) e o Terror Vermelho (1918-1922) refletiram essa lógica soreliana.
O Mito revolucionário
Georges Sorel criticava os marxistas moderados (ou progressistas) que sonhavam com uma sociedade perfeita no futuro. Em vez disso, ele defendia a ideia da luta e da ação, através do Mito revolucionário, a qual seria mais poderosa do que planos ou discursos,...o mito motivaria as pessoas a lutar, seria uma crença coletiva que daria coragem e sentido à revolução.
Exemplos:
- Sorel, que era ateu, citava o exemplo dos cristãos, os quais agiam em prol da causa de Cristo, o grande líder, cuja causa era considerada grandiosa ao ponto de sacrificarem até a própria vida, almejando o reino de Deus e a vida eterna.
- Para Sorel, os trabalhadores, da mesma forma, deveriam se unir e agir sob o comando de uma elite revolucionária para ir à luta e fazer a revolução
- O Mito da Greve Geral: Sorel afirmava que as pessoas agem muito mais motivadas pela emoção e pelo efeito de manada do que por cálculos racionais. A greve geral transformaria os indivíduos tímidos e isolados em um grupo forte e disposto ao ponto de sacrificar-se pela causa. Sem esse mito, as revoluções viram negociações chatas (como política partidária). A violência revolucionária (greves, protestos radicais) só acontece quando as pessoas acreditam profundamente no mito.
- O "mito revolucionário" levaria as pessoas a agir, mesmo sem saber exatamente como a vitória viria. Não seria sobre como vencer, mas sobre "por que" lutar.
- Sorel afirmava que a ordem vigente era mantida através da repressão institucionalizada, representada pelas leis e pelas forças armadas ao serviço do Estado...o único meio de mudança seria através de atos de rebelião espontâneos, como motins e sabotagens, que visavam destruir as estruturas opressoras...a "violência" seria libertadora e regenerativa...a violência não seria um fim em si mesma, mas uma ferramenta de emancipação moral e política.
O Romantismo anticapitalista
Sorel não era um marxista ortodoxo, pois criticava o determinismo econômico e o racionalismo iluminista que permeavam algumas interpretações do marxismo. Para Sorel, a força motriz da história não residia apenas nas transformações materiais ao longo do tempo. Essa era uma visão muito mecanicista e passiva. Ele defendia a tese de que a história não era apenas o resultado inevitável de forças econômicas, mas também era moldada pela vontade humana, pelas crenças, pela cultura, tradições, etc., os quais também levavam as pessoas a agirem. Ele acreditava que a revolução era, em última análise, uma questão de vontade e de mobilização, e não apenas de leis econômicas inevitáveis.
Essa luta revolucionária através de greves gerais e confrontos radicais, forjaria uma nova ética, baseada em heroísmo, dignidade coletiva e autenticidade...ao mesmo tempo, isso preservaria valores tradicionais que ele considerava como fundamentais, tais como a família, a honra e o recato sexual — estes não deveriam ser destruídos, mas conservados e purificados pela revolução.
-Enquanto Marx defendia o fim da família, Sorel a defendia, juntamente com a solidariedade tribal (como em comunidades camponesas ou grupos operários unidos) , os quais representavam uma resistência orgânica ao individualismo burguês.
-A honra e a disciplina no trabalho (como no artesanato ou no sindicalismo militante) seriam virtudes revolucionárias, não resquícios do passado.
-A Violência como Purificação: A greve geral, por exemplo, não era apenas uma tática econômica, mas um rito de passagem para uma ordem moral superior.
-Essa ideologia de Sorel ficou conhecida também como "Romantismo anti-capitalista".
Crítica ao Marxismo Moderado:
Entretanto, Sorel discordava dos marxistas moderados (partidos sociais democratas ou mencheviques, ou progressistas, na linguagem de hoje), os quais, na sua visão, eram compostos por lobos enganadores e devoradores, os quais, ao mesmo tempo em que enriqueciam, submetiam o proletariado à alienação e à falsa democracia parlamentar, a qual era considerada como fonte de desmoralização, balcão de negócios, mar de corrupção e destruição da solidariedade de classe.
Marxistas ortodoxos o acusavam de "romantismo reacionário" por misturar revolução com valores tradicionais.
GUSTAVE LE BON(1841-1931)
Foi um polímata (era engenheiro, sociólogo e psicólogo) francês que criou teorias sobre a psicologia coletiva e sua influência sobre as massas. É de Le Bon a teoria das massas e do efeito manada, a qual é descrita como um fenômeno psicológico análogo ao fanatismo religioso. Segundo Le Bon, as ideias só se tornam acessíveis às multidões depois de ganharem uma forma muito simplificada, sofrendo completas transformações e reducionismos para se tornarem populares. Ou seja, essas ideias chegam ao povo simplificadas e não exibem sua complexidade, passando a ser consideradas como a solução fácil para os problemas do mundo. A maioria do povo é pouco instruída e isso é causado ou pela falta de tempo ou pela falta de condições para estudar e aprofundar seus conhecimentos sobre ideias complexas a respeito de política, economia, cultura, etc. Mesmo aqueles que tem tempo e condições para isso, não se interessam. É mais fácil aceitar e seguir cegamente aquilo que preferem acreditar como verdade. Sendo assim, a maioria do povo despreza tudo o que foi construído ao longo dos séculos da civilização e passa a agir através do efeito de manada.
A multidão sob esse efeito, passa a ter a ilusão da invencibilidade, posto que o indivíduo adquire “um sentimento de poder invencível, que lhe permite ceder a instintos que, sozinho, não seria capaz. No meio da multidão, o indivíduo sente-se poderoso e consequentemente irresponsável. Para os líderes, isso não é ruim, muito pelo contrário, é algo que serve muito bem aos seus interesses, pois fica mais fácil controlar, pois manada não pensa, não raciona, apenas obedece e age cegamente sob as ordens do ditador. Isso é muito positivo para os líderes que querem tomar o poder, pois facilita o controle sobre a massa que perdeu todo o senso crítico e obedece cegamente.
ANTONIO LABRIOLA (1843–1904)
Um dos primeiros marxistas italianos, Labriola defendia uma reinterpretação do marxismo revolucionário, o qual deveria ser flexível e adaptado à realidade italiana...assim como Lênin o reinterpretou para a realidade russa, assim também seria necessário adequar o marxismo à Itália, um país que tinha uma realidade totalmente diferente da russa.
SERGIO PANUNZIO(1886–1944)
Panunzio teorizou que o Estado deveria ser o instrumento máximo da revolução social. Ele foi um dos maiores ideólogos do fascismo no campo jurídico e político, propondo um Estado forte, corporativo e intervencionista.
BENITO MUSSOLINI (1883-1945)
Nascido na Itália, começou a vida como professor e jornalista, ativista e principal liderança do Partido Nacional Fascista. Governou a Itália entre 1922 a 1943, primeiro como primeiro-ministro e depois como "Il Duce" (o líder). Era membro do Partido Socialista Italiano e redator do jornal do partido, o Avanti. Foi admirado por Lênin. O historiador Paul Johnson destaca seis pontos comuns entre Lênin e Mussolini:
1) Ambos eram totalmente opostos à "democracia burguesa" e a qualquer reformismo;
2) Encaravam o partido como uma agência ferozmente disciplinada, hierárquica e centralizada para atingir os objetivos socialistas;
3) Queriam a liderança de revolucionários profissionais;
4) Não confiavam na capacidade de organização dos trabalhadores;
5) Achavam que a consciência revolucionária poderia ser levada às massas por uma elite organizada do partido;
6) Acreditavam na violência como árbitro final na luta de classes.
Itália: Surgimento do Fascismo
Surgiu e expandiu-se logo após a Primeira Guerra Mundial, favorecido por causas econômicas e políticas:
Causas Econômicas:
1 - Crise Econômica: A economia estava devastada pela guerra, com alta inflação, desemprego em massa e uma grande dívida pública.
2 - Descontentamento dos Trabalhadores: Havia grandes movimentos de trabalhadores exigindo melhores condições, salários e reformas sociais, muitas vezes levando a greves e conflitos violentos.
Causas Políticas:
1 - Descrença na democracia e no liberalismo: Uma boa parte do povo queria soluções rápidas para a crise e passou a descrer da democracia e do liberalismo econômico, pois não viam sinais imediatos de melhoria.
2 - Decepção com o Tratado de Versalhes: o povo sentia-se traído pelo Tratado de Versalhes, pois o país não recebeu nenhuma recompensa pela sua participação na guerra.
3 - Medo do Comunismo: O temor de uma revolução e uma guerra civil causadas pelo comunismo assombrava os italianos...tanto as elites quanto a maioria do povo passariam a apoiar qualquer movimento que os defendesse dessas terríveis ameaças. média e as elites, que viram no fascismo uma barreira contra o comunismo.
4 -Nacionalismo e Revanchismo: O ressentimento pela "vitória mutilada" fomentou um forte sentimento nacionalista e desejo de revanche, que foi explorado pelos fascistas.
5 - Apoio da maioria do povo: O Fascismo passou a ser visto como a única alternativa para evitar que a Itália se transformasse numa ditadura marxista.
2) Coletivismo Estatal: O liberalismo defende a primazia dos direitos e das liberdades individuais, enquanto o fascismo priorizava o coletivo, a Nação e o Estado. O indivíduo era visto como subordinado ao bem-estar do Estado e da Nação, o que se opunha à ênfase liberal nos direitos individuais.
3) Corporativismo: O fascismo implementava um sistema corporativista no qual o estado mediava as relações entre trabalhadores e empresários, em vez de deixar essas relações serem determinadas pelo mercado livre, como propõe o liberalismo. Esse sistema buscava eliminar os conflitos de classe através da cooperação estatal e da regulação.
4) Crítica ao Capitalismo: o fascismo compartilhava a crítica ao capitalismo liberal. Os fascistas acusavam o capitalismo de criar desigualdades sociais e econômicas que enfraqueciam a nação.
5) Mobilização das Massas: O fascismo procurava mobilizar as massas em apoio ao Estado. Utilizava propaganda, rituais públicos e organizações de massa para engajar a população e promover sua ideologia, semelhante à forma como os partidos comunistas mobilizavam o proletariado.
6) Controle Estatal da Economia: O fascismo implementava um controle significativo do Estado sobre a economia, através de políticas intervencionistas e planejamento econômico, o que se aproxima dos métodos de gestão econômica marxistas, embora com o objetivo de fortalecer o estado e a nação, em vez de abolir a propriedade privada. Na prática, o Fascismo não tomou as empresas privadas, mas passou a controlá-las através do planejamento centralizado da economia. Era esse planejamento que definia tudo o que seria produzido, construído, investido, financiado, etc.
Essa “oração” aqui resume praticamente todo o mantra comunista sobre o fascismo e mostra a fonte de todos os mitos que vocês vão ver a partir desta coluna. Então agora que a gente entendeu onde começou a confusão no estudo do fascismo, e por que tanta gente fala tanta besteira por aí, vamos para outra referência no assunto, o professor Stanley Payne no seu clássico A história do fascismo para gente entender melhor ainda essa falácia primordial do fascismo como agente do capitalismo. Na p. 168, no capítulo “Nacional Socialismo Alemão”, o professor Payne explica uns detalhes bem interessantes sobre a “ajuda” que Hitler teve dos burgueses capitalistas para chegar ao poder: “Tal como Mussolini durante 1921-22, Hitler trabalhou durante 1931-32 para estabelecer laços com setores influentes da sociedade, cooperando parte do tempo com a direita e tentando tranquilizar os empresários de que eles não tinham motivos para estar apreensivos com o 'socialismo' nazista. No entanto, apesar da massiva propaganda esquerdista de que Hitler era o agente pago do capitalismo, Hitler obteve apenas recursos financeiros limitados de grandes empresas. Embora houvesse um apoio considerável a Hitler entre os pequenos industriais, a maioria dos setores das grandes empresas iam consistentemente contra permitir que ele formasse um governo. O Partido Nazista foi principalmente financiado pelos seus próprios membros.” Parece que os burgueses capitalistas não estavam querendo que Hitler salvasse eles não, hein?
Agora na p. 190 o professor Payne concorda com o professor Griffin sobre essa bagunça marxista em forçar a ideia de que o fascismo era o agente do capitalismo, olha com ele não deixa dúvidas aqui: “Muito foi feito por comentaristas marxistas, durante a década de 1930 e por quase meio século depois, sobre a alegada dominação capitalista da economia alemã sob o nacional-socialismo, quando a verdade da questão era mais praticamente o OPOSTO. É importante distinguir entre benefícios contingentes que os capitalistas desfrutaram por causa do domínio nazista e da verdadeira identidade de interesses entre a indústria e o regime nazista.”
Primeiramente foram os comunistas, que há muito tempo lutavam para tomar o poder, que conquistavam boa parte dos trabalhadores. No sentido contrário surgiram na Itália o Partido Fascista e na Alemanha o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (Nazismo), os quais também tinham um discurso antiliberal e antidemocrático. Naquela época, a democracia estava em perigo e em descrédito. Temendo as consequências de um regime comunista, muita gente na Alemanha e na Itália preferiu um totalitarismo que na sua avaliação seria menos ruim, mesmo sendo tão desumano e cruel quanto o soviético.
1 - Fascismo italiano: causas da expansão e chegada ao poder:
a) O país não recebeu nenhum território após o fim da guerra; os enormes gastos do conflito se refletiam na crise econômica, gerando desemprego e miséria;
2) O temor do comunismo: a maioria dos italianos temia que ocorresse na Itália algo semelhante ao que aconteceu na Rússia com a implantação do comunismo: expropriação, ditadura, guerra civil, milhões de mortos, perseguição aos opositores, campos de concentração, tortura, eliminação, etc.
3) As divergências internas dos socialistas italianos sobre a participação na Primeira Guerra Mundial: os marxistas italianos eram, de maneira geral, contra a entrada do país na guerra; sendo assim, foram acusados de covardes, traidores, antipatriotas e colaboradores dos inimigos da Itália. Por ter defendido a entrada da Itália na guerra, Benito Mussolini, que fazia parte da liderança socialista, foi expulso do partido.
4) Mussolini e outro intelectuais criaram o Partido Fascista Italiano, o qual tinha um discurso voltado para a união de todos os italianos...o símbolo do partido era o antigo feixe de varas do senado romano, o qual também é um dos símbolos da república...a ideia de união ia no sentido contrário ao dos comunistas, que pregavam a divisão através da luta de classes...Mussolini percebeu que poderia ganhar a simpatia do povo ao defender o ideal da união de todos em prol de uma Itália grande, onde o Estado se tornaria o árbitro das disputas entre os segmentos sociais.
Além disso, havia a questão religiosa: Não fazia sentido pregar o ateísmo marxista no país que é o centro do cristianismo... Para conquistar a simpatia dos anticomunistas e acalmar milhões de cristãos, Mussolini, mesmo sendo um ateu, sabia que era necessário agradar ao povo... se dizia anticomunista, afirmando que não tomaria a propriedade de ninguém e nem exterminaria com a religião no país que é o centro do cristianismo.
Para conquistar os simpatizantes do comunismo, Mussolini se dizia anticapitalista, antiliberal, defendendo a forte presença do Estado em todos os setores da vida dos italianos.
De maneira geral, os italianos perceberam que estavam em uma situação difícil pois a democracia estava com os dias contados e teriam que escolher entre duas opções totalitárias.
5) Mussolini no poder: após se tornar primeiro-ministro da Itália em 1922, por indicação do rei Vitório Emanuel, Mussolini ainda governou de maneira democrática até 1925, quando dissolveu o Parlamento e iniciou seu período ditatorial. Os de mais partidos foram extintos, a imprensa foi censurada e quem o critica foi preso ou eliminado.
A ECONOMIA FASCISTA: o modelo econômico fascista nunca foi liberal: era intervencionista e corporativista, em contraste com os princípios do liberalismo econômico. O Estado desempenhava um papel central na economia, controlando e direcionando os setores-chave. Para fortalecer o poder do Estado, foram criadas várias empresas estatais e o Estado assumiu o controle de setores estratégicos da economia, como transporte, energia, comunicações e indústria pesada. Um dos exemplos foi a fundação do Instituto para a Reconstrução Industrial (IRI) em 1933, com o objetivo de promover a industrialização e a modernização da economia. O IRI assumiu o controle de várias empresas privadas em dificuldades financeiras e se tornou um dos principais grupos econômicos do país, abrangendo setores como siderurgia, química, transporte e telecomunicações.
- A Indústria bélica: Sendo o militarismo uma das características do fascismo, Mussolini implantou uma política de rearmamento e modernização das forças armadas, direcionando vastos recursos para produzir armamentos, equipamentos militares e infraestrutura militar. A construção de navios de guerra, aviões, tanques e outras armas se tornou uma prioridade do Estado italiano. O país deveria estar devidamente armado caso houvesse um novo conflito. Os investimentos na indústria bélica geraram bastante emprego inclusive em outros setores tais como o da metalurgia, indústria química, etc., impulsionando a economia e criando muitos empregos. O fascismo também obrigou todos os homens ao alistamento militar. É importante frisar que o investimento na indústria bélica tinha também ambições imperialistas, onde Mussolini planejava restaurar o antigo Império Romano e garantir a influência italiana em regiões como o Mediterrâneo e o norte da África, o que exigia um aparato militar poderoso.
2 - Nazismo: causas da expansão e chegada ao poder
1) O Nazismo cresceu na Alemanha em meio à forte crise econômica resultante das imposições humilhantes do Tratado de Versalhes: desemprego, miséria, inflação astronômica, diversas restrições, etc.
2) No campo político, aumentava o temor da chegada dos comunistas ao poder, pois o regime democrático mostrava-se incapaz de impedir o avanço comunista. Era uma questão de tempo. Foi nesse contexto que surgiu o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, o qual tinha um discurso anticapitalista, antidemocrático e ao mesmo tempo anticomunista;
3) O Nazismo tinha também uma pauta racista: a falsa ideia de raça superior germânica que deveria expandir-se através de outro ideal, o Lebensraum (espaço vital)...o ideal era conquistar muita terra para que os germânicos pudessem ter acesso a todos os recurso necessários...essas terras ficavam no leste europeu, principalmente na Ucrânia e Rússia.
4) Os nazistas acrescentaram também o ódio aos judeus, os quais eram acusados de serem os culpados pela derrota alemã na I guerra...o Exército alemão não havia sido derrotado militarmente, mas tinha sido traído especialmente por judeus, socialistas, marxistas e outros grupos considerados inimigos do Estado. Para os nazistas, os judeus e outros elementos "indesejáveis" da sociedade alemã conspiraram para minar o esforço de guerra alemão e enfraqueceram moralmente o país, favorecendo o espírito de covardia. Essa teoria antissemita e revisionista tinha como objetivo justificar o ódio contra os judeus, criando um bode expiatório para os problemas enfrentados pela Alemanha no período pós-guerra. Era preciso culpar alguém e a culpa caiu sobre os judeus...muitos judeus eram donos de indústrias, empresas comerciais e bancos...com a implementação das políticas antissemitas, eles foram os judeus foram alvo de discriminação, perseguição e restrições cada vez mais severas. Suas propriedades e negócios foram confiscados e expropriados, e muitos empresários judeus foram forçados a abandonar suas empresas e deixar o país. Essa visão distorcida e falsa desempenhou um papel significativo na propagação do antissemitismo na sociedade alemã durante o regime nazista, culminando posteriormente no genocídio e na perseguição sistemática dos judeus durante o Holocausto.
5) O discurso Nazista agradou boa parte do eleitorado alemão...assim como foi no fascismo, o nazismo usou a democracia, mesmo sendo antidemocrático: Hitler foi eleito deputado em 1933; os nazistas só conseguiram ter maioria no Parlamento aliando-se a outros partidos...sendo assim, em 1933, Hitler foi indicado como chanceler (primeiro ministro) pelo presidente Paul Von Hindenburg. Ao assumir o poder, Hitler põe em marcha seus planos autoritários e passa a restringir toda a oposição através de manobras políticas que tiveram o apoio de alguns partidos. Em março de 1933, a aprovação da Lei de Concessão de Plenos Poderes deu a Hitler amplos poderes legislativos e o permitiu governar por decretos, contornando o parlamento. Logo em seguida, Hitler implanta a ditadura, fecha o parlamento, extingue os demais partidos políticos e proclama a chegada do III Reich.
A ECONOMIA NAZISTA: o nazismo era antiliberal, ou seja, era contra o livre mercado; A economia passou a ser dirigida pelo Estado, o qual controlava e administrava a produção, distribuição e consumo, implementando políticas de planejamento central, nacionalização de empresas, controle de preços e restrições comerciais. De maneira geral, as ações nazistas para reerguer a economia foram as seguintes:
a) Rearmamento e expansão militar: pesados investimentos na indústria bélica, aumentando a produção de armamentos e expandindo as forças armadas. Isso impulsionou o setor industrial e gerou empregos.
b) Autossuficiência: o objetivo era reduzir a dependência do comércio internacional através da autossuficiência, sendo assim, criou-se políticas protecionistas que estimulavam a produção interna, especialmente em setores estratégicos como agricultura e recursos naturais.
c) Programas de trabalho e infraestrutura: implementou-se um amplo programa de obras públicas para gerar muito emprego e renda (estradas, pontes, moradias, etc.). Essas obras não apenas forneceram empregos para a população, mas também melhoraram a infraestrutura do país.
d) Intervencionismo: O Estado assumiu um papel central na economia, intervindo na gestão de empresas, regulando os preços e controlando as relações trabalhistas. Foram estabelecidos cartéis e sindicatos controlados pelo Estado, visando consolidar o poder econômico e político.
e) Expansão territorial: A anexação de territórios visava acessar os recursos naturais necessários para o crescimento da Alemanha.
f) No campo trabalhista, o Nazismo criou a sua versão do corporativismo fascista: a Frente Alemã do Trabalho, que era uma organização sindical controlada pelo Estado. Essa organização buscava unificar os trabalhadores e os empregadores em uma estrutura hierárquica, na qual o Estado tinha autoridade para regular e determinar as condições de trabalho, salários e direitos trabalhistas.
De maneira equivocada ou mal intencionada, muitos intelectuais, por serem marxistas, chamam de totalitários apenas os regimes fascista e nazista, ou seja, tentam passar a imagem de que os regimes marxistas não seriam totalitários...isso é desonestidade intelectual, pois o primeiro regime totalitário foi o Leninista, cuja base ideológica é a marxista.
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