EGITO ANTIGO
Foi uma grande civilização que floresceu às margens do rio Nilo, no nordeste da África, entre o V milênio a.C. e 332 a.C. Foi uma sociedade complexa, organizada em torno de um faraó, considerado uma divindade, e com uma rica cultura, incluindo hieróglifos, pirâmides, templos e avanços em áreas como matemática, astronomia e medicina. O Egito fazia parte, junto com a Mesopotâmia de uma gigantesca área chamada de Crescente Fértil, que partilhava características semelhantes: uma área desértica que se tornou fértil devido às enchentes anuais de grandes rios, onde havia a presença de milhares de pessoas comandadas por um estado teocrático que comandava as grandes obras hidráulicas através do trabalho compulsório.
A história do Egito antigo é dividida em dois períodos:
1 - Período Pré-dinástico (5000-3100 aC)
É o período que vai desde a formação dos Nomos, passando pela criação de dois reinos (alto e baixo Egito) até a unificação.
2 - Período Dinástico (3100-1085 aC)
É dividido em diversas fases, onde intercalaram-se fases de poder unificado (Antigo, Médio e Novo Império) e fases de descentralização do poder (períodos intermediários). A fase final é chamada de Época Baixa.
PERÍODO PRÉ-DINÁSTICO
Apesar de estar localizada em uma região desértica, o Egito tornou-se um importante centro de povoamento na Antiguidade. Diversos povos foram atraídos para as margens do rio Nilo, em especial por causa da fertilidade do solo proporcionada pelas cheias anuais do rio. Essas inundações, ao recuarem, deixavam uma camada de húmus que tornava a terra ideal para a agricultura, sendo fundamentais para a sobrevivência naquela região árida. Com o tempo, milhares de pessoas se fixaram ao longo do Nilo, formando os primeiros núcleos de habitação, conhecidos inicialmente como Proto-Nomos.
Proto-nomos: do grego Proto (primeiro ou inicial) e Nomo (distrito ou província)l”. Os proto-nomos eram as formas iniciais e rudimentares de organização territorial no Egito.
Características: Comunidades pequenas e descentralizadas, baseadas em clãs, os quais viviam basicamente da agricultura de subsistência. Não havia uma autoridade central forte ou estrutura administrativa formal.
Nomos: A expansão dos proto-nomos deu origem aos Nomos, os quais eram unidades administrativas e territoriais bem definidas, cada um com seu governante, (chamado de Nomarca), seus deuses, símbolos e centro político. Os Nomos eram cidades-estados.
ALTO E BAIXO EGITO:
Com o passar do tempo, os nomos foram unificados em dois reinos: Alto Egito e Baixo Egito;
Alto Egito: Sua capital era Tebas; localizava-se ao sul, era conhecido pela sua proximidade com a nascente do Nilo e a região montanhosa. Era a região mais extensa. A coroa do faraó era vermelha.
Baixo Egito: tendo Mênfis como capital, localizava-se ao norte e sua área correspondia à região costeira e ao Delta do Nilo. A coroa do faraó era branca.
O Alto e o Baixo Egito existiram como reinos separados durante cerca de 400 anos, até que por volta de 3100 aC, o faraó Menés (ou Narmer), do Alto Egito, invadiu e anexou o Baixo Egito, unificando os dois reinos, tornando-se o primeiro faraó e dando início ao período dinástico.
PERÍODO DINÁSTICO
Diferentemente dos governantes mesopotâmicos que eram representantes dos deuses, os faraós eram considerados como deuses e passaram a usar uma coroa dupla, vermelha e branca, representando a união dos dois reinos.
A TEOCRACIA
O Egito era ao mesmo tempo uma monarquia e uma teocracia.
As diversas atribuições do Faraó: suas atribuições eram política, militar, econômica e religiosa.
-Liderança Política e Econômica: Ele governava o Egito através dos sacerdotes, nomarcas e uma enorme burocracia governamental.
- Trabalho compulsório: os camponeses estavam submetidos a esse tipo de trabalho (também conhecido como corveia), o qual era a base de toda a riqueza do Egito.
- Os escribas eram a espinha dorsal da administração, registrando tudo, desde a colheita até os impostos e a contabilidade. O controle sobre essas classes era fundamental para a manutenção do estado.
-A distribuição de alimentos e recursos para os camponeses era crucial para a estabilidade do reino, especialmente em uma economia agrícola.
- A capacidade de mobilizar e organizar grande quantidade de mão de obra e recursos para essas obras demonstrava o poder e a autoridade do faraó e dos sacerdotes e nomarcas sob o seu comando.
- Liderança Militar: o Faraó era o chefe militar do Exército e responsável tanto pela guerra de expansão quanto pela defesa do território.
- Liderança Religiosa: o faraó era considerado a encarnação de um dos deuses; sua principal responsabilidade era manter a Ma'at, a ordem cósmica e a justiça, através da participação em rituais e oferendas. A falha nesse dever poderia levar ao caos (secas, fome, pragas, etc). O faraó também era o sumo sacerdote de todos os cultos, com os sacerdotes agindo em seu nome.
A construção de templos e sepulturas grandiosas era uma expressão visível de sua devoção e poder, visando garantir sua imortalidade e a continuidade do bem-estar do Egito. Em suma, a função religiosa do faraó era a espinha dorsal do sistema egípcio, garantindo a estabilidade e prosperidade do reino.
DIVISÃO DO PERÍODO DINÁSTICO: é subdividido em fases que alternam períodos de centralização e descentralização do poder político, provocadas pela opressão, rebeliões, clima, invasões estrangeiras, etc.
ANTIGO IMPÉRIO - foi a primeira fase centralizada. É mais conhecida como a “era das pirâmides”. Foi uma época marcada pela paz interna e externa, estabilidade política e grande concentração de poder na mão dos faraós, a qual foi usada para dirigir gigantescas obras públicas, dentre elas as da construção das famosas pirâmides de Gizé, realizadas através dos trabalhos compulsórios (ou servidão coletiva ou corveia), submetendo a maioria da população (os felás ou camponeses) a esse tipo de trabalho.
Causas do fim do Antigo Império:
Crise hídrica: diminuição do volume das enchentes do rio Nilo
Menos terras férteis
Menos colheitas
Menos alimentos
Desabastecimento e fome
Opressão sobre os camponeses: a pressão da servidão coletiva continuava, mesmo com a falta de mantimentos e fome
Essa opressão resultou em diversas rebeliões camponesas, as quais desestabilizaram o poder dos faraós, provocando o colapso do poder centralizado
PRIMEIRO PERÍODO INTERMEDIÁRIO
O Egito se dividiu em diversos pequenos reinos ou principados, governados pelos nomarcas (governadores regionais), que passaram a atuar de forma independente, controlando suas próprias terras, recursos e exércitos.
Ascensão dos Nomarcas: Os nomarcas, que antes eram meros administradores do faraó, tornaram-se governantes de seus nomos. Eles rivalizavam entre si e não reconheciam uma autoridade faraônica superior. Isso gerou conflitos e guerras civis internas pelo controle de territórios e recursos.
Ao mesmo tempo, alguns povos conseguiram invadir partes do território egípcio, aproveitando o momento de crise.
MÉDIO IMPÉRIO
Com o passar do tempo, o faraó Mentuhotep II conseguiu reunir forças suficientes para quebrar o poder dos Nomarcas, expulsar invasores e voltar a centralizar o poder.
Fim da crise hídrica: regularização das enchentes anuais do rio Nilo
Retorno de grandes obras obras públicas
Crescimento populacional
Expansão do comércio e execução de grandes projetos arquitetônicos (ex: construção de lagos, tumbas e templos majestosos).
Para tentar garantir a estabilidade política e aumentar seu poder de expansão, o Estado investiu na ampliação do Exército, o qual era composto principalmente pelos camponeses.
O Egito conquista partes da Núbia (atual Sudão) e da atual Palestina
Causas do fim do Médio Império:
A grandiosidade das obras contrastava com a opressão do trabalho compulsório e a pobreza dos camponeses.
Voltam a ocorrer diversas revoltas camponesas com o apoio de nomarcas e sacerdotes.
A instabilidade política e as revoltas internas favoreceram a invasão do norte do Egito por alguns povos semitas chamados de Hicsos, os quais tinham armas superiores às egípcias e usavam cavalo e carros de guerra.
SEGUNDO PERÍODO INTERMEDIÁRIO
Os Hicsos governavam o norte e os egípcios o sul.
Os Hicsos tentaram legitimar e ampliar o seu poder sobre o povo adotando adotando tradições e costumes egípcios, inclusive o título de Faraó. Em contrapartida, os egípcios não se conformavam com a perda de uma rica e significativa parcela de seus domínios."
Foi durante esse período de domínio Hicso que ocorre a chegada dos hebreus, os quais foram bem recebidos e instalaram no baixo Egito.
NOVO IMPÉRIO
Ao final de cerca de 150 anos de domínio hicso, os egípcios reuniram forças militares suficientes para expulsá-los.
O faraó Amósis I conseguiu reunir forças militares suficientes para expulsar os hicsos e reunificar o país. No novo império, o Egito se tornou uma grande potência militar e econômica.
A faraôa Hatshepsut passou para a história como a primeira mulher a governar o Egito; ela fez um bom governo, expandindo o comércio e mantendo boas relações diplomáticas e realizando grandes obras arquitetônicas.
Foi no novo império que, sob a liderança de Moisés, ocorreu a saída dos hebreus, após um fase em que foram submetidos à escravidão...esse evento foi chamado de Êxodo.
A reforma religiosa: O faraó Akenaton (ou Amenófis IV) implantou uma reforma religiosa, substituindo o politeísmo pelo monoteísmo dedicado ao deus sol Aton. Os estudiosos apontam como causas dessa reforma:
a) Akenaton imaginou que através dessa reforma enfraqueceria a influência, a riqueza e o poder dos sacerdotes de Amon (deus dos ventos e do ar) sobre o povo, ao mesmo tempo em que fortaleceria o seu poder.
b) A crença pessoal de Akenaton no deus Aton podem ter influenciado a tomar essa decisão radical,
c) Ele almejava unificar o Egito através da religião, eliminando os cultos regionais e enfatizando a adoração a um único deus.
As Consequências: A reforma religiosa foi muito mal recebida tanto pelos sacerdotes quanto pelo povo, já que alguns templos foram fechados e as imagens e inscrições dos deuses foram removidas ou destruídas. O povo, de maneira geral, não aceitava abandonar o politeísmo e o culto aos deuses tradicionais. Após a morte de Akhenaton, sua reforma religiosa foi anulada.
O fim do Novo Império: uma série de fatores provocaram sua decadência e fim:
o sistema político centralizado, burocratizado, ineficiente e corrupto, revoltas internas, secas, declínio das colheitas, aumento da fome, invasão de outros povos tais como os assírios e os hititas.
Além disso, o sistema político centralizado e burocrático dos faraós se tornou cada vez mais ineficiente e corrupto, o que contribuiu para o declínio geral do Novo império, que chegou ao fim após a invasão dos Povos do Mar (foi uma coalizão de vários grupos nômades que se estabeleceram ao longo da costa do Mediterrâneo Oriental e atacaram várias cidades e reinos na região, incluindo o Egito)
A ÉPOCA BAIXA: A PARTE FINAL DA HISTÓRIA DO EGITO ANTIGO
Foi marcado pela instabilidade onde o poder fragmentou-se entre os nomarcas e alguns povos invasores, como os núbios e os líbios.
No final deste período, uma dinastia Núbia conquistou o Egito e governou-o por cerca de um século, período em que ocorreu o RENASCIMENTO SAÍTA, uma época em que o Egito teve sua cultura e sua arte revitalizadas.
O FIM: O Império Aquemênida (persa) invadiu e conquistou o país, marcando o fim do Egito como nação independente.
O EGITO SOB DOMÍNIO PERSA:
1a ocupação: 525 a.C. - 404 a.C.
2a ocupação: 343 a.C. - 332 a.C.
A dominação persa foi marcada por duas fases de ocupação intercalada por uma fase em que a resistência egípcia conseguiu durante um breve período reconquistar sua autonomia (entre 404 e 343 aC.).
O EGITO SOB DOMÍNIO MACEDÔNICO: Alexandre conquistou o Egito em 332 a.C., tendo sido recebido como um libertador, pois os persas exerciam uma intensa opressão através de muitos impostos, além de desrespeitarem as tradições e a religiosidade egípcias. Alexandre, pelo contrário, demonstrou grande respeito, tendo, inclusive, ido visitar os templos onde ofereceu sacrifícios aos deuses egípcios. Foi desta maneira que os egípcios passaram a reconhece-lo como faraó e ele assumiu os títulos e o poder associados a essa posição, sendo coroado em Mênfis (a antiga capital do Egito). Alexandre fundou a cidade de Alexandria.
Dinastia Ptolemaica: Após a morte de Alexandre em 323 a.C., seu vasto império foi dividido entre seus generais. Um de seus generais, Ptolomeu I Sóter, assumiu o controle do Egito e fundou a Dinastia Ptolemaica. Essa dinastia macedônica governou o Egito por quase 300 anos, mantendo muitos costumes egípcios, mas com uma forte influência cultural grega. Foi sob o domínio macedônico que a famosa rainha Cleópatra viveu e governou.
Cleópatra VII Filopátor (reinou de 51 a.C. a 30 a.C.) foi a última rainha da Dinastia Ptolemaica. Embora ela tenha sido a única de sua linhagem a aprender a língua egípcia (além do grego), sua cultura e sua dinastia eram essencialmente gregas macedônias.
SOCIEDADE
Em termos de Estratificação, era uma sociedade estamental: a mobilidade (movimentação) social não era impossível, mas era bastante difícil, pois a posição social do indivíduo era praticamente determinada pela condição de nascimento do indivíduo. Exemplo: quem nascia camponês, geralmente morria camponês, embora fosse possível se tornar um artesão ou comerciante, ou casar com alguém de outro estamento. Os principais estamentos eram:
Faraó e família real: o faraó era o líder do Egito e era uma das divindades.Sua família e os parentes mais próximos tinham grande poder e prestígio. Na família do faraó havia a prática do incesto. Isso ocorria por algumas razões:
- a ideia da "pureza" da dinastia real
- a crença de que, sendo uma divindade, só poderia casar com outras divindades, no caso, sua própria família.
- evitar que o poder passasse a ser de outra dinastia
Nem todos os faraós se casaram com irmãos ou parentes próximos. Alguns se casaram com mulheres de outras famílias reais ou até mesmo com mulheres plebeias.
Sacerdotes:
- organizavam os rituais, festas e atividades religiosas; eram donos de vastas propriedades e comandavam os trabalhos de milhares de pessoas. Desfrutavam de enorme riqueza proveniente das oferendas. pelo culto aos deuses
- eram bastante populares e tinham acesso a conhecimentos considerados sagrados. Muitos faraós os consideravam como pessoas perigosas, que ambicionavam tomar o seu lugar.
- faziam parte dos conselheiros de faraó.
Nobreza:
era composta pelos Nomarcas, altos funcionários reais e militares. Eles possuíam grandes propriedades de terra e exerciam grande influência política.
Artesãos, comerciantes e escribas: os artesãos eram obrigados a trabalhar em oficinas estatais, produzindo objetos de luxo e outros bens para o Estado e para os templos; sendo assim, estavam sujeitos aos trabalhos compulsórios.
Camponeses (ou Felás): formavam a maior parte da população e estavam sujeitos a todo o tipo de trabalho compulsório que o Estado os obrigasse.
Escravos: diferente do que muitos imaginam, a maior parte da mão de obra egípcia não era escrava...
A origem dos escravos:
a) prisioneiros de guerra
b) através dos traficantes, que os vendiam nos mercados
c) escravidão por dívida
O escravo era utilizado em qualquer tipo de trabalho, desde os mais pesados (pedreiras, minas, construções de monumentos, agricultura), até os mais amenos, como o trabalho doméstico. Os escravos eram propriedade do Estado ou de particulares. A escravidão era hereditária: os filhos dos escravos também continuavam sendo escravos.
A SITUAÇÃO DAS MULHERES
Elas desfrutavam de uma posição social e legal mais avançada do que em muitas outras civilizações da mesma época, possuindo direitos que poucos imaginam existir naquela época. Elas podiam exercer papéis significativos em diversas esferas da vida. Havia igualdade legal com os homens, ou seja, elas podiam:
-Possuir e administrar propriedades: Incluindo terras, casas e escravos. Isso era um direito raro para mulheres em outras culturas antigas.
-Comprar e vender bens: Podiam fazer seus próprios negócios e contratos.
-Herança: As mulheres podiam herdar bens de seus pais e maridos. A linha de herança muitas vezes passava de mãe para filha.
-Divórcio: Podiam iniciar um processo de divórcio e, em muitos casos, manter uma parte dos bens adquiridos durante o casamento, incluindo a casa. Acordos pré-nupciais eram comuns para proteger os bens da mulher.
-Testemunhar e depor em tribunal: Tinham voz legal e eram tratadas de forma semelhante aos homens na justiça.
-Papéis Domésticos e Profissionais: Ainda que a maioria se dedicasse ao lar e à família, o que era altamente valorizado, elas também exerciam uma variedade de profissões:
-Gerentes de propriedade: Mulheres de classes mais altas frequentemente supervisionavam suas próprias propriedades e os trabalhadores nelas.
-Sacerdotisas: Desempenhavam papéis importantes em templos dedicados a deuses e deusas, como as "Esposas de Deus Amon", que tinham grande poder espiritual e influência política.
-Médicas: Há registros de mulheres atuando como médicas, como Peseshet, considerada a primeira médica conhecida na história.
-Artesãs e comerciantes: Trabalhavam como tecelãs, padeiras, cervejeiras, cozinheiras e vendiam produtos em mercados.
-Musicistas e dançarinas: Tinham presença em festividades e eventos religiosos.
OS FARAÓS NEGROS
O Egito Antigo se desenvolveu no nordeste da África, onde sua população original era, e ainda é, uma mistura de povos africanos, com gradientes de características físicas variadas ao longo do Vale do Nilo, as quais não se encaixam como brancas ou negras de forma simplificada. A pele dos egípcios antigos, como representados em sua própria arte, variava de tons mais claros a mais escuros.
Nem todos os faraós eram brancos: durante a época baixa, o Egito foi governado por faraós negros, vindos da Núbia (correspondente ao atual Sudão e parte do sul do Egito). Essa fase é conhecida como a 25ª Dinastia do Egito, também chamada de Dinastia Cuchita (ou Kushita), que reinou aproximadamente entre 747 a.C. e 656 a.C. Aqui estão os pontos chave sobre os faraós negros do Egito Antigo:
Origem e Contexto: A Núbia, ao sul do Egito, era uma região com uma rica e antiga civilização, o Reino de Kush. Esse reino tinha uma relação longa e complexa com o Egito, ora como parceiro comercial, ora como dominado (especialmente durante o Novo Império).
Durante a Época Baixa, os reis de Kush, que se consideravam herdeiros legítimos das tradições egípcias e devotos do deus Amon (cultuado tanto no Egito quanto na Núbia), aproveitaram a oportunidade para invadir e reunificar o Alto e o Baixo Egito.
Características do Reinado Cuxita:
Restauração Egípcia: influenciados pela cultura egípcia, os faraós cuxitas restauraram antigas tradições religiosas, templos e monumentos, com destaque para a construção de muitas pirâmides de tamanho bem menor.
O domínio cuxita sobre o Egito chegou ao fim devido às invasões e campanhas militares dos assírios, os quais tinham táticas e tecnologia militar superior.
O PAPEL DOS SACERDOTES: os templos desempenhavam um papel semelhante ao da Mesopotâmia — eram verdadeiros "estados dentro do Estado", especialmente quando o poder real estava enfraquecido.
Os templos não eram espaços só religiosos, mas também econômicos, administrativos e culturais, tais como:
a) Cuidar dos Templos e dos Deuses: Os templos eram a "casa" do deus local, e os sacerdotes realizavam rituais diários: banhar, vestir, alimentar e homenagear suas esculturas, manter os rituais e o calendário religioso.
b) Administração e Economia: grandes extensões de terras e riquezas eram de domínio dos templos, sendo administradas pelos sacerdotes, os quais administravam os trabalhos dos camponeses, armazenavam grãos, etc.
c) Conhecimento e Ciência: Eram também escribas, astrônomos, médicos e estudiosos. Usavam saberes sobre medicina, astrologia, matemática e escrita para fins práticos e rituais. Guardavam e copiavam textos sagrados e científicos. Usavam um calendário litúrgico para marcar datas de festivais e oferendas.
A RIVALIDADE ENTRE FARAÓ E O CLERO: os sacerdotes (ou o clero egípcio), devido ao seu poder político sobre o povo, tornaram-se uma força política quase autônoma e até perigosa para a autoridade real. Havia uma rivalidade entre o faraó e os sacerdotes, os quais disputavam quem teria mais influência junto ao povo. Em várias épocas, os sacerdotes chegaram a rivalizar ou até substituir a autoridade política do faraó em regiões específicas. Embora oficialmente servissem ao faraó, na prática, eles controlavam riquezas e influência sobre o povo. Em determinados períodos, principalmente quando o poder faraônico enfraquecia, os templos se tornaram verdadeiros Estados dentro do Estado, com influência econômica, militar e política — uma forma de Estado-Templo egípcio.
A QUESTÃO DA PROPRIEDADE: Quem eram os donos da terra?
-No Egito antigo, toda a terra era propriedade do faraó, pois ele considerado o governante supremo e uma divindade viva, detendo o controle de todas as terras e recursos do reino.
- No entanto, uma parte significativa das terras era concedida aos templos, e estes, por sua vez, eram administrados pelos sacerdotes. Os templos acumulavam grande riqueza e influência por meio dessas propriedades, que eram cultivadas por camponeses através do trabalho compulsório, os quais entregavam uma parte da colheita como tributo.
- outra parte das terras pertencia a funcionários importantes do governo, nobres e chefes militares: eles recebiam estas terras como recompensa por seus serviços ao faraó. Essas terras eram cultivadas por trabalhadores e geravam renda para seus "proprietários". Embora fossem "dadas" pelo faraó, esses indivíduos tinham um controle significativo sobre elas e podiam até passá-las para seus herdeiros, mas sempre sob a soberania do faraó.
-Havia também pequenas propriedades: Há evidências de que algumas famílias, talvez camponeses mais abastados ou artesãos, podiam ter o usufruto de pequenas parcelas de terra, mas sempre com a obrigação de pagar impostos e prestar serviços ao Estado.
O LEGADO EGÍPCIO
O Antigo Egito deixou um legado significativo para a humanidade em diversas áreas, incluindo:
Arquitetura monumental: as pirâmides, templos, tumbas e outros edifícios monumentais
Escrita hieroglífica: considerado uma das primeiras formas de escrita do mundo e foi usado por mais de três mil anos.
A medicina: Desenvolveram técnicas avançadas para a época, deixando um importante legado para a humanidade, mesmo não estando totalmente desvinculada do misticismo. Acreditavam que algumas doenças eram causadas por deuses ou demônios. Usavam encantamentos e amuletos associados aos tratamentos, especialmente quando os procedimentos técnicos eram insuficientes.
Características da Medicina Egípcia:
Papiros Médicos: A maior parte do nosso conhecimento sobre a medicina egípcia provém de papiros antigos que contém registros sobre diagnósticos, tratamentos, prognósticos e prescrições para uma vasta gama de doenças e lesões. Eles demonstram um conhecimento detalhado de anatomia e fisiologia (embora com algumas imprecisões).
Conhecimento Anatômico: A prática da mumificação, que envolvia a remoção de órgãos internos, proporcionou aos egípcios um conhecimento anatômico prático sem precedentes para a época. Eles eram capazes de identificar órgãos e suas posições, o que era crucial para cirurgias e tratamentos.
Farmacologia: Utilizavam uma vasta gama de ingredientes naturais em suas prescrições, incluindo ervas, minerais e produtos animais. O mel, por exemplo, era amplamente usado por suas propriedades antissépticas. Havia também o uso de substâncias com propriedades analgésicas, como o ópio, e até métodos contraceptivos.
Higiene e Saúde Pública: Os egípcios davam grande importância à higiene pessoal e à saúde. Banhavam-se regularmente, e há evidências de preocupação com a limpeza e prevenção de doenças.
Matemática
era voltada para a prática, para a necessidade de resolver os problemas do cotidiano, tais como a construção, medição de terrenos e a contabilidade. Embora não tivessem o conceito de zero, eram hábeis para calcular áreas e volumes, essencial para suas grandes obras arquitetônicas.
Astronomia: desenvolveram um calendário baseado no ciclo anual do rio Nilo, além de terem uma compreensão avançada dos movimentos planetários.
Fontes:
https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/reportagem/historia-de-que-raca-eram-os-egipcios.phtml
DORSA, V. L. O. (Org.). Mulheres e Múmias: O Feminino no Egito Antigo. Rio de Janeiro: Editora da UERJ, 2018.
SILVA, L. S. O Livro dos Mortos do Antigo Egito: Tradução e Estudo da Recensão Tebana. Petrópolis: Vozes, 2008.
SILVA, R. A. História do Egito Antigo. São Paulo: Ática, 2007 (ou edições posteriores).
AMARAL, I. H. (Org.). Mundo Egípcio: Estudos de Arqueologia e História. São Paulo: Humanitas/FFLCH-USP, 2012.
CHAMPOLLION, J-F. Gramática Egípcia. Tradução de Fábio Freire. Rio de Janeiro: Lexicon, 2010.
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