Foi uma grande civilização que floresceu às margens do rio Nilo, no nordeste da África, entre o V milênio a.C. e 332 a.C. Foi uma sociedade complexa, organizada em torno de um faraó, considerado uma divindade, e com uma rica cultura, incluindo hieróglifos, pirâmides, templos e avanços em áreas como matemática, astronomia e medicina. O Egito fazia parte, junto com a Mesopotâmia de uma gigantesca área chamada de Crescente Fértil, que partilhava características semelhantes: uma área desértica que se tornou fértil devido às enchentes anuais de grandes rios, onde havia a presença de milhares de pessoas comandadas por um estado teocrático que comandava as grandes obras hidráulicas através do trabalho compulsório.
A história do Egito antigo é dividida em dois períodos:
1 - Período Pré-dinástico (5000-3100 aC)
É o período que vai desde a formação dos Nomos, passando pela criação de dois reinos (alto e baixo Egito) até a unificação.
2 - Período Dinástico (3100-1085 aC)É
um período dividido em diversas fases, onde intercalaram-se fases de
poder unificado (Antigo, Médio e Novo Império) e fases de
descentralização do poder (períodos intermediários). A fase final é chamada de Época Baixa.
O PERÍODO PRÉ-DINÁSTICO
Apesar de estar localizada em uma região desértica, o Egito tornou-se um importante centro de povoamento na Antiguidade. Diversos povos foram atraídos para as margens do rio Nilo, em especial por causa da fertilidade do solo proporcionada pelas cheias anuais do rio. Essas inundações, ao recuarem, deixavam uma camada de húmus que tornava a terra ideal para a agricultura, sendo fundamentais para a sobrevivência naquela região árida. Com o tempo, milhares de pessoas se fixaram ao longo do Nilo, formando os primeiros núcleos de habitação, conhecidos inicialmente como Proto-Nomos.
Proto-nomos: do grego Proto (primeiro ou inicial) e Nomo (distrito ou província)l”. Os proto-nomos eram as formas iniciais e rudimentares de organização territorial no Egito.
Características: Comunidades pequenas e descentralizadas, baseadas em clãs, os quais viviam basicamente da agricultura de subsistência. Não havia uma autoridade central forte ou estrutura administrativa formal.
Nomos: A expansão dos proto-nomos deu origem aos Nomos, os quais eram unidades administrativas e territoriais bem definidas, cada um com seu governante, (chamado de Nomarca), seus deuses, símbolos e centro político. Os Nomos eram cidades-estados.
ALTO E BAIXO EGITO:
Com o passar do tempo, os nomos foram unificados em dois reinos: Alto Egito e Baixo Egito;
O Alto Egito, cuja capital era Tebas, localizava-se ao sul, era conhecido pela sua proximidade com a nascente do Nilo e a região montanhosa. Era a região mais extensa, abrangendo a maior parte do vale do rio Nilo, desde a região da atual Assuã até a região do delta. A coroa do faraó era vermelha.
O Baixo Egito: tendo Mênfis como capital, localizava-se ao norte e sua área correspondia à região costeira e ao Delta do Nilo. A coroa do faraó era branca.
O Alto e o Baixo Egito se formaram como reinos distintos por volta de 3500 aC e existiram como reinos separados durante cerca de 400 anos, até que por volta de 3100 aC, o faraó Menés (ou Narmer), do Alto Egito, invadiu e anexou o Baixo Egito, unificando os dois reinos, tornando-se o primeiro faraó e dando início ao período dinástico.
PERÍODO DINÁSTICO
Diferentemente dos governantes mesopotâmicos, os faraós eram considerados como deuses e passaram a usar uma coroa dupla, vermelha e branca, representando a união dos dois reinos. O período dinástico é subdividido em várias fases, alternando fases de centralização do poder com fases de crises internas, invasões estrangeiras e descentralização do poder político
ANTIGO IMPÉRIO
É mais conhecido como a “era das pirâmides”. Foi uma época caracterizada pela paz interna e externa, estabilidade política e grande concentração de poder na mão dos faraós, a qual foi usada para dirigir gigantescas obras públicas, dentre elas as de construção das famosas pirâmides de Gizé, realizadas através da imposição dos trabalhos compulsórios (ou servidão coletiva ou corveia), submetendo a maioria da população a esse tipo de trabalho.
PRIMEIRO PERÍODO INTERMEDIÁRIO
Causas:
Crise hídrica: diminuição do volume das enchentes do rio Nilo
Menos terras férteis
Menos colheitas
Menos alimentos
Desabastecimento e fome
Revoltas do povo contra a fome e a opressão da servidão coletiva: muitos nomarcas apoiaram as revoltas
Perda de poder do faraó e fortalecimento do poder dos nomarcas
Alguns povos do Oriente aproveitam o momento de crise do Egito e invadem áreas do delta do Nilo
Apoio dos nomarcas e a pobreza provocaram crise na produção agrária, desabastecimento, fome e o fortalecimento do poder de alguns nomarcas, os quais passaram a rivalizar com o poder do faraó. Com essa crise, alguns povos aproveitaram o momento e invadiram parte do Egito.
MÉDIO IMPÉRIO
Com o passar do tempo, o faraó Mentuhotep II reuniu forças suficientes para quebrar o poder dos Nomarcas, expulsar invasores e voltar a centralizar o poder.
Fim da crise hídrica: regularização das enchentes anuais do rio Nilo
Retorno de grandes obras obras públicas
Crescimento populacional
Expansão do comércio e execução de grandes projetos arquitetônicos (ex: construção de lagos, tumbas e templos majestosos).
Para tentar garantir a estabilidade política e aumentar seu poder de expansão, o Estado investiu na ampliação do Exército, o qual era composto principalmente pelos camponeses.
O Egito conquista partes da Núbia (atual Sudão) e da atual Palestina
SEGUNDO PERÍODO INTERMEDIÁRIO
Causas:
A
grandiosidade das obras contrastava com a pobreza e os trabalhos
compulsórios impostos à maioria do povo.
Disputas políticas entre o faraó, os sacerdotes e os nomarcas.
Voltam a ocorrer diversas revoltas camponesas com o apoio de nomarcas e sacerdotes.
A instabilidade política e as revoltas internas favoreceram a invasão do norte do Egito por alguns povos semitas chamados de Hicsos, os quais tinham armas
superiores às egípcias e usavam cavalo e carros de guerra.
Os Hicsos governavam o norte e os egípcios o sul do Egito.
Os Hicsos tentaram legitimar e ampliar o seu poder sobre o povo adotando adotando tradições e costumes dos egípcios, inclusive o título de Faraó. Em contrapartida, os egípcios não se conformavam com a perda de uma rica e significativa parcela de seus domínios."
Foi durante esse período de domínio Hicso que ocorre a chegada dos hebreus, os quais foram bem recebidos e instalaram no baixo Egito.
NOVO IMPÉRIO
Ao
final de cerca de 150 anos de domínio hicso no norte, os
egípcios reuniram forças militares suficientes para expulsá-los.
O faraó Amósis I conseguiu reunir forças militares suficientes para expulsar os hicsos e reunificar o país. No novo império, o Egito se tornou uma grande potência militar e econômica.
A faraôa Hatshepsut passou para a história como a primeira mulher a governar o Egito; ela fez um bom governo, expandindo o comércio e mantendo boas relações diplomáticas e realizando grandes obras arquitetônicas.
Foi no novo império que, sob a liderança de Moisés, ocorreu a saída dos hebreus, após um fase em que foram submetidos à escravidão...esse evento foi chamado de Êxodo.
A reforma religiosa: O faraó Akenaton (ou Amenófis IV) implantou uma reforma religiosa, substituindo o politeísmo pelo monoteísmo dedicado ao deus sol Aton. Os estudiosos apontam como causas dessa reforma:
a) Akenaton imaginou que através dessa reforma enfraqueceria a influência, a riqueza e o poder dos sacerdotes de Amon (deus dos ventos e do ar) sobre o povo, ao mesmo tempo em que fortaleceria o seu poder.
b) A crença pessoal de Akenaton no deus Aton podem ter influenciado a tomar essa decisão radical,
c) Ele almejava unificar o Egito através da religião, eliminando os cultos regionais e enfatizando a adoração a um único deus.
As Consequências: A reforma religiosa foi muito mal recebida tanto pelos sacerdotes quanto pelo povo, já que alguns templos foram fechados e as imagens e inscrições dos deuses foram removidas ou destruídas. O povo, de maneira geral, não aceitava abandonar o politeísmo e o culto aos deuses tradicionais. Após a morte de Akhenaton, sua reforma religiosa foi anulada.
O fim do Novo Império: uma série de fatores provocaram sua decadência e fim:
o sistema político centralizado, burocratizado, ineficiente e corrupto, revoltas internas, secas, declínio das colheitas, aumento da fome, invasão de outros povos tais como os assírios e os hititas.
Além disso, o sistema político centralizado e burocrático dos faraós se tornou cada vez mais ineficiente e corrupto, o que contribuiu para o declínio geral do Novo império, que chegou ao fim após a invasão dos Povos do Mar (foi uma coalizão de vários grupos nômades que se estabeleceram ao longo da costa do Mediterrâneo Oriental e atacaram várias cidades e reinos na região, incluindo o Egito)
TERCEIRO PERÍODO INTERMEDIÁRIO OU ÉPOCA BAIXA
Foi marcado pela instabilidade onde o poder fragmentou-se entre os nomarcas e alguns povos invasores, como os núbios e os líbios.
No final deste período, uma dinastia Núbia conquistou o Egito e governou-o por cerca de um século, período em que ocorreu o RENASCIMENTO SAÍTA, uma época em que o Egito teve sua cultura e sua arte revitalizadas.
O FIM: O Império Aquemênida (persa) invadiu e conquistou o país, marcando o fim do Egito como nação independente.
SOCIEDADE EGÍPCIA:
Em termos de Estratificação, era uma sociedade estamental: a mobilidade social não era impossível, mas era bastante difícil, pois a posição social do indivíduo era praticamente determinada pela condição social da família. Exemplo: quem nascia camponês, geralmente morria camponês, embora fosse possível se tornar um artesão ou comerciante, ou casar com alguém de outro estamento. Os principais estamentos eram:
Faraó e família real: o faraó era o líder do Egito e era uma das divindades.Sua família e os parentes mais próximos tinham grande poder e prestígio. Na família do faraó havia a prática do incesto. Isso ocorria por algumas razões:
- a ideia da "pureza" da dinastia real
- a crença de que, sendo uma divindade, só poderia casar com outras divindades, no caso, sua própria família.
- evitar que o poder passasse a ser de outra dinastia
Nem todos os faraós se casaram com irmãos ou parentes próximos. Alguns se casaram com mulheres de outras famílias reais ou até mesmo com mulheres plebeias.
Sacerdotes:
- organizavam os rituais, festas e atividades religiosas; eram donos de vastas propriedades e comandavam os trabalhos de milhares de pessoas. Desfrutavam de enorme riqueza proveniente das oferendas. pelo culto aos deuses
- eram bastante populares e tinham acesso a conhecimentos considerados sagrados. Muitos faraós os consideravam como pessoas perigosas, que ambicionavam tomar o seu lugar.
- faziam parte dos conselheiros de faraó.
Nobreza:
era composta pelos Nomarcas, altos funcionários reais e militares. Eles possuíam grandes propriedades de terra e exerciam grande influência política.
Artesãos, comerciantes e escribas: os artesãos eram obrigados a trabalhar em oficinas estatais, produzindo objetos de luxo e outros bens para o Estado e para os templos; sendo assim, estavam sujeitos aos trabalhos compulsórios.
Camponeses (ou Felás): formavam a maior parte da população e estavam sujeitos a todo o tipo de trabalho compulsório que o Estado os obrigasse.
Escravos: diferente do que muitos imaginam, a maior parte da mão de obra egípcia não era escrava...
A origem dos escravos:
a) prisioneiros de guerra
b) através dos traficantes, que os vendiam nos mercados
c) escravidão por dívida
O escravo era utilizado em qualquer tipo de trabalho, desde os mais pesados (pedreiras, minas, construções de monumentos, agricultura), até os mais amenos, como o trabalho doméstico. Os escravos eram propriedade do Estado ou de particulares. A escravidão era hereditária: os filhos dos escravos também continuavam sendo escravos.
A questão da propriedade / Expropriação
Semelhante a Mesopotâmia, no Egito antigo também ocorreu a expropriação de terras particulares, ou seja, o Estado, principalmente através dos templos, passou a ser dono da maior parte das terras.
As razões ou causas dessa expropriação
- A necessidade de centralização do poder: a concentração de terras nas mãos do Estado e dos templos facilitava o controle sobre sobre a produção, os trabalhadores e os recursos.
- A necessidade de garantir o fornecimento de alimentos para as classes dominantes (sacerdotes e nobres) e militares, que dependiam da produção agrícola para sua subsistência e para a manutenção de seus privilégios.
- A religiosidade intensa e a crença na vida após a morte: a doação de terras para os templos era vista como um ato de piedade e uma forma de garantir a proteção divina e a vida eterna.
Essas terras eram administradas de maneira geral pelos sacerdotes. As terras eram usadas para cultivo e a produção era taxada pelo Estado, que cobrava impostos em espécie, como cereais, gado e tecidos, por exemplo. Além disso, os indivíduos que trabalhavam nas obras públicas também recebiam algum tipo de remuneração, como alimentação, abrigo e eventualmente pagamento em espécie.
A Política:
O Egito era uma monarquia teocrática. O poder político e o religioso estavam nas mãos dos faraós, que também era um dos deuses. O faraó era responsável pela administração de todas as atividades agrícolas do país; além disso, era ele que decidia quais obras públicas seria executadas. Os egípcios acreditavam que estes governantes eram filhos diretos do deus Osíris, portanto agiam como intermediários entre os deuses e a população egípcia
O Papel dos Templos
Os templos, através dos sacerdotes, eram responsáveis por uma série de funções sociais e econômicas tais como a administração de diversos trabalhos compulsórios, a coleta de impostos e a organização de grandes projetos de construção, organização de festivais religiosos e cerimônias...eram também locais de aprendizado e pesquisa, onde estudiosos e sacerdotes realizavam estudos sobre astronomia, medicina, matemática e outras áreas do conhecimento.
O LEGADO EGÍPCIO
O Antigo Egito deixou um legado significativo para a humanidade em diversas áreas, incluindo:
Arquitetura monumental: as pirâmides, templos, tumbas e outros edifícios monumentais
Escrita hieroglífica: considerado uma das primeiras formas de escrita do mundo e foi usado por mais de três mil anos.
A medicina: desenvolveram técnicas avançadas para a época, deixando um importante legado para a humanidade.
Características da Medicina Egípcia:
Papiros Médicos: A maior parte do nosso conhecimento sobre a medicina egípcia provém de papiros antigos que contém registros sobre diagnósticos, tratamentos, prognósticos e prescrições para uma vasta gama de doenças e lesões. Eles demonstram um conhecimento detalhado de anatomia e fisiologia (embora com algumas imprecisões).
Conhecimento Anatômico: A prática da mumificação, que envolvia a remoção de órgãos internos, proporcionou aos egípcios um conhecimento anatômico prático sem precedentes para a época. Eles eram capazes de identificar órgãos e suas posições, o que era crucial para cirurgias e tratamentos.
Especialização Médica: Havia um nível de especialização médica, com médicos dedicados a áreas específicas, como dentistas, oftalmologistas e cirurgiões. Isso é evidenciado pelo título de "chefe de dentistas e médicos" de Hesire, que viveu por volta de 2700 a.C.
Cirurgia: Os egípcios realizavam cirurgias complexas, incluindo amputações, cauterização e até cirurgias cerebrais (trepanações), como mostram evidências em múmias. Eles usavam instrumentos cirúrgicos e suturas para fechar incisões.
Farmacologia: Utilizavam uma vasta gama de ingredientes naturais em suas prescrições, incluindo ervas, minerais e produtos animais. O mel, por exemplo, era amplamente usado por suas propriedades antissépticas. Havia também o uso de substâncias com propriedades analgésicas, como o ópio, e até métodos contraceptivos.
Higiene e Saúde Pública: Os egípcios davam grande importância à higiene pessoal e à saúde. Banhavam-se regularmente, e há evidências de preocupação com a limpeza e prevenção de doenças. Alguns estudiosos sugerem que havia um tipo de "plano de saúde" para trabalhadores.
Aspecto Mágico-Religioso: Apesar da abordagem empírica, a medicina egípcia não estava totalmente desvinculada do misticismo. Acreditava-se que algumas doenças eram causadas por deuses ou demônios, e rituais, encantamentos e amuletos eram frequentemente incorporados aos tratamentos, especialmente quando os procedimentos técnicos eram insuficientes.
Matemática: desenvolveram um sistema de numeração e aritmética que incluía a fração unitária e o número zero, além de técnicas para resolver equações matemáticas e medir áreas e volumes.
Astronomia: desenvolveram um calendário baseado no ciclo anual do rio Nilo, além de terem uma compreensão avançada dos movimentos planetários.
Filosofia e Religião: os antigos egípcios desenvolveram um sistema religioso complexo e uma visão de mundo que influenciou a filosofia e a religião de outras culturas, incluindo a grega e a romana.
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